Home - Sociedade - Cultura - 5 Junho, 1443 – Dia, mês e ano da morte do abandonado infante D. Fernando – O “Infante Santo”. Autor: João Dinis, Jano

5 Junho, 1443 – Dia, mês e ano da morte do abandonado infante D. Fernando – O “Infante Santo”. Autor: João Dinis, Jano

O infante D. Fernando, 8º e último filho (legítimo) de D. João I, viveu 41 anos, dos quais seis em cativeiro, escravizado mesmo, pelos mouros depois do desastre militar (e humanitário) da frustrada tentativa da conquista de Tânger (1437) por um exército português sob comando de seu irmão, o Infante D. Henrique, mais tarde o “Navegador”.

A sua morte anunciada, aconteceu há 574 anos. Mas não deve ser esquecida…

Os últimos seis anos da vida sacrificada de D. Fernando – e subsequente processo até à sua beatificação em 1470 – constituem também uma série dos episódios em que mais foi reescrita e branqueada essa parte, de facto “negra”, da nossa História como País.

Depois do desastre da tentativa de conquista de Tânger, em que mais se empenhou o infante D. Henrique, D. Fernando ficou refém dos mouros como garante de que Portugal e o rei “cristão” português D. Duarte, irmão de D. Fernando, devolveriam Ceuta, cidade mourisca em posse (militar e económica) dos Portugueses expansionistas.

Quando se viu cercado e vencido junto a Tânger, para se safar da crítica situação, o exército português, comandado por D. Henrique, havia com isso mesmo concordado…

Ou seja, D. Fernando foi compelido a aceitar permanecer como garante do acordo na condição de refém dos mouros, enquanto o seu “comandante” e irmão D. Henrique foi “descansar” para Ceuta durante 8 meses até decidir regressar a Portugal. Esse “repouso” foi mais um expediente para fazer passar algum tempo após o desastre militar em Tânger de que fora o principal responsável enquanto instigador político, financiador e comandante militar. Acontece que, nessa altura, D. Henrique “apostava” fortemente na expansão militar pelo Norte de África…

Aliás, em 1438, nas Cortes de Leiria convocadas pelo rei D. Duarte, o resultado é inconclusivo entre o cumprir ou não cumprir o acordo feito o ano anterior com os mouros. Aí, os partidários de D. Henrique (que à data destas Cortes ainda “repousava” em Ceuta…), interessados na manutenção das expedições de conquista no Norte de África, boicotam, na prática, a troca do refém D. Fernando pela cidade de Ceuta. Foi aquilo que poderíamos hoje classificar como uma autêntica vergonha nacional, como um grave incumprimento do compromisso assumido para salvar as vidas dos componentes do exército Português derrotado em Tânger, mas também como abandono, por parte dos seus irmãos e outros dirigentes Portugueses, do infeliz D. Fernando a um cruel destino, ele que ficara como garante desse compromisso, como prisioneiro dos mouros em Arzila e em Fez.

Só mais tarde, já em 1439, o infante D. Pedro, também ele irmão de D. Fernando, e na altura Regente do Reino dada a menoridade do seu sobrinho, Afonso V, este o herdeiro de D. Duarte, só então D. Pedro ainda tenta efectuar a troca de Ceuta por D. Fernando. Porém, dá-se um estranho – até parece que foi feito “por encomenda”… – ataque de corsários à expedição portuguesa que se dirigia (por mar) a Marrocos para aí tratar do assunto. Nesse “oportuno” ataque dos corsários, é morto o embaixador português para isso nomeado por   D. Pedro… E o assunto “patina” de novo com o até aí paciente mouro, um tal mal-alcunhado de Lazaraque, a perder a paciência com tanta indefinição dos Portugueses…

D. Fernando é então praticamente supliciado em várias das prisões por onde passa, por vezes acompanhado por outros Portugueses também estes prisioneiros dos mouros. Acaba por morrer – após 6 anos de cativeiro – e o seu corpo é exposto (pendurado e nu) na muralha de Fez. Anos mais tarde, é suposto terem sido transladados para Portugal (estão no Mosteiro da Batalha) os “restos” dos seus restos mortais.

E assim se reviu a história e nos passaram a contar estórias…

Ainda estava ele vivo e prisioneiro, logo aí começou toda uma intensa e ardilosa campanha de branqueamento desta terrível história em que a chamada “ínclita geração” abandona um irmão (e outros Portugueses) à morte, arrastada durante anos, por não querer entregar uma cidade aos mouros – Ceuta.

Uma campanha de branqueamento da verdadeira história – uma história de fuga a compromissos “de sangue”, de traição e vergonha – montada pelos partidários, neste caso, do infante D. Henrique e por sectores do Clero. D. Henrique – o tal “Navegador” do início dos Descobrimentos – revela-se aqui afinal como sempre foi – um homem decidido, bom planificador mas também cruel e ambicioso. E pelo meio, também um “poltrão” que se “borrou todo” no desastre de Tânger em que comandava o exército português aí vencido pelos mouros…

O Clero encarrega-se de “inventar” várias estórias até beatificar D. Fernando e instituir o seu culto em 1470. Assim, “recicla” a mensagem ideológica do miserável abandono do Infante e transforma-a em alegada “santidade” do “mártir voluntário”, e cristão, D. Fernando, o “Beato Fernando de Portugal”…

Sectores dominantes da Nobreza fazem crer, e exaltam, que D. Fernando é que não quis ser ”trocado” por Ceuta…enquanto permanecem a “negociar” por essas paragens durante mais uns anos… Enfim, talvez que o infante D. Pedro tenha sido a maior das excepções a esta regra, que D. Afonso V (apesar de pias intenções…) não chegou a demonstrar a sua verdadeira posição porque quando chegou a rei de facto, seu tio D. Fernando, afinal, já estava morto…

Mais tarde, até Luís de Camões romantiza a coisa e eleva D. Fernando à categoria “lírica” de herói e santo enquanto “absolve” o miserável comportamento — que aliás noutros moldes e noutros casos se repete, por exemplo numa guerra civil fratricida – da tal “ínclita geração” dos filhos (mas também do neto e rei D. Afonso V) de D. João I e D.ª Filipa de Lencastre.

E assim se reviu e reescreveu a história e nos passaram a contar estórias…

Por ironia do destino, o desastre de Tânger contribuiu para o abandono posterior (mas a curto prazo) das conquistas militares pelo Norte de África e lançou para objectivo mais estratégico e mais apetecível a expansão via marítima que assim começa ao longo da costa atlântica africana. E aí surgiu, outra vez “empreendedor” e sempre atento às possibilidades de “negócio”, o Infante D. Henrique, o tal “Navegador” da nossa História. O mesmo que (em 1437) safou o canastro no desastre de Tânger…afinal à custa do sacrifício, por suplício e suprema humilhação, do irmão mais novo, o infante “santo” D. Fernando…

SONAE (Ai – Ai …) Ou em como o “ouro” de uns é o nosso prejuízo!

Autor: João Dinis, Jano

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