Os actuais militantes números três e quatro do Partido Socialista – António Campos e António Arnaut, respectivamente – participaram este sábado num aceso debate promovido pela JS de Oliveira do Hospital, no Ritual Bar, sob o tema “Socialismo, Identidade e Futuro”. Hoje com 71 anos, o antigo Ministro dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional – conhecido como “o pai do Serviço Nacional de Saúde” –, fez uma dissertação sobre a matriz “sagrada e inviolável” do PS, mas mostrou-se muito céptico quanto ao rumo do país e das sociedades modernas. Confessando-se um partidário do “estado social” – “se o meu vizinho do lado passar fome, eu sinto-me incomodado”, frisou – Arnaut é de opinião que “hoje vivemos numa orgia neoliberal em que há um ultraliberalismo que se resume a uma sociedade de mercado, incluindo a saúde”.
A saúde é aliás é um dos temas que mais preocupações tem suscitado ao também ex- Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano, que não se cansa de invocar a trilogia em que assenta a filosofia da maçonaria – “liberdade, igualdade e fraternidade” – para contrapor com a falta de solidariedade que hoje existe para com os mais desprotegidos..
Alegando estar “muito preocupado com a saúde”, que considera como “uma das maiores conquistas do século XX”, Arnaut acusou o Governo de José Sócrates de estar a “destruir o Serviço Nacional de Saúde (SNS)” através de “medidas mal pensadas e mal realizadas”.
Denunciando a existência dos grandes grupos privados que hoje “querem negociar em saúde”, o fundador do PS diz temer que isso possa “asfixiar o SNS de modo a que o serviço fique apenas para os pobres indigentes”. É que para Arnaut, “o SNS está a encolher e o privado a expandir-se”.
“O que resta hoje da minha utopia socialista é o estado social (…) e o PS só poderá continuar a afirmar-se socialista se garantir o Estado Social, afirmou Arnaut, numa intervenção em que disse ainda que ao seu antigo “conselheiro” no ministério dos Assuntos Sociais – o ministro da Saúde, Correia de Campos – “falta-lhe alguma sensibilidade”, já que as políticas de saúde não podem ser definidas a “régua e esquadro”. Crítico quanto ao encerramento de alguns serviços de atendimento permanente nos centros de saúde e maternidades, António Arnaut foi por exemplo muito claro quanto ao fecho da maternidade de Elvas, que provocou o encaminhamento de muitas parturientes para Badajoz. “Eu nunca fechava a maternidade de Elvas. Até por uma questão de dignidade nacional”, explicou o antigo ministro de Mário Soares.
António Campos diz que Portugal tem um problema de distribuição de riqueza
Para o histórico socialista António Campos, que centrou a sua intervenção no “problema da distribuição da riqueza”, “não há hoje em Portugal uma política de imposto justo e de salário justo”. Realçando que tem havido “incapacidade do Estado em distribuir melhor a riqueza”, Campos considerou que um dos maiores problemas nacionais é precisamente a “dicotomia dos impostos e dos salários”. “Têm que se ir buscar os impostos a quem tem mais para se socorrerem os mais pobres”, advertiu o antigo eurodeputado, explicando que em Portugal “há uma política salarial que não existe e uma política de impostos completamente subversiva”. “Tens que dizer isso ao Sócrates”, ironizou António Arnaut, para de seguida ouvir de Campos a resposta de que o Primeiro-Ministro está ao corrente da sua opinião.
Henrique Barreto