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Chão Sobral: Casal fabrica facas e mantém nove filhos a estudar

…na freguesia de Aldeia das Dez, para passar a preencher páginas de jornal e até longos minutos do ecrã da televisão. Não são milionários e nem sequer patentearam uma descoberta. Mas antes, são pais de nove filhos que mantêm a estudar, embora ganhem pouco mais do que o salário mínimo nacional. Nunca pensaram andar nestas andanças e muito menos verem a foto de família – 11 no total – exposta nos jornais e a história narrada na televisão.

“Nunca cá chamei ninguém dos jornais. Não sei se é bom ou se é mau”, contou ao correiodabeiraserra.com a mãe que com 47 anos de idade já deu à luz nove filhos. Maria Cecília Luís compreende a curiosidade dos que a contactam para tentarem perceber o que motivou o casal a ter tantos filhos, mas garante que “não há justificação para nada”. “Sempre aceitei ter uma família grande e o meu marido nunca foi contrário a isso”, contou a este diário digital, reconhecendo que a família que constituiu com José Carlos não é muito habitual nos tempos que correm e muito menos na localidade de Chão Sobral, que também não escapa incólume ao fenómeno da desertificação. A rua onde moram é que é tudo menos deserta, já que os seus filhos asseguram a alegria que faz falta em tantas outras ruas da localidade e até de freguesias vizinhas.

A felicidade está-lhe estampada no rosto, da mesma forma que as marcas de uma vida dura de trabalho também não se conseguem esconder. Natural de Chão Sobral, Maria Cecília Luís segue também ela os rituais da vida da aldeia. O recurso à agricultura e ao esforço que a mesma exige fazem parte do dia-a-dia, que também é reservado ao fabrico das facas com cabo de madeira. Cecília e José Carlos são os únicos funcionários da fábrica das facas que pertence a familiares. Também ali o trabalho é duro e exige muita perícia e responsabilidade. Não foi sempre a actividade de ambos, mas a “carestia” da vida e os gastos excessivos com deslocações para outros empregos acabava por não compensar. As facas são produzidas por ambos no interior de um espaço já marcado pelo passar dos anos que se situa a meia dúzia de passos da habitação do casal Luís.

Os ordenados – um pouco acima do valor do salário mínimo nacional, garante Cecília – são esticados ao máximo. Quando chegam já têm destino e não dão grandes hipóteses para um ou outro luxo, não fosse a família constituída por 11 pessoas, em que nove estudam e apenas dois trabalham. Mas como “com boa vontade chega para todos”, não há razões para dizer que a família passa por necessidades.

Ao invés de falar das fragilidades económicas, Maria Cecília prefere enaltecer a compreensão dos filhos e a vontade que todos manifestam em querer ajudar. Recorda, por exemplo que a Ana, a filha mais velha, se tornou independente desde muito cedo. “Com 10 anos já falava como uma adulta”, referiu, sublinhando que ainda hoje é a filha mais velha que ajuda a orientar toda a vida familiar.

Actualmente, com excepção da mais nova, todos frequentam a escola e os três mais velhos já cursam uma licenciatura na universidade de Coimbra. Valem-lhes as bolsas de estudos, porque Cecília e José Carlos não tinham como fazer face tantas despesas. “As bolsas são para eles sobreviverem, porque o que nós temos não dá para mais”, disse.

Diariamente, a casa de Chão Sobral é habitada por seis filhos e pelo casal. Também por cá, os mais novos são beneficiados pelos subsídios escolares. “As pessoas da terra dizem que os mais velhos já têm bom corpo para trabalhar, mas nós achamos que eles devem estudar e depois então é que devem seguir as suas vidas”, referiu Cecília. Confessa que não é fácil, mas garante que a receita para resolver todos os problemas passa por “uma boa dose de compreensão”.

“Devíamos ser 10 e não nove”

 

Ana Luís, a mais velha dos irmãos que cursa Sociologia em Coimbra, dá de facto ares de grande maturidade. Destemida nas expressões, a primogénita – 23 anos de idade – do casal Luís enche a boca para falar da família, ao mesmo tempo que se posiciona em defesa daquela que foi a opção dos pais de terem uma família numerosa.

“Devíamos ser 10 e não nove”, referiu a jovem, revelando-se desgostosa com “a ignorância da pessoas que não entendem a normalidade desta família”. “Os meus pais não são burrinhos e nós somos todos saudáveis e inteligentes”, disse. Pese embora o número de irmãos, Ana garante que nenhum é substituível, pelo que tentam estar sempre em contacto próximo, bem como com os pais.

“É como se fossemos um. Somos tão unidos que quando há um problema, esse problema passa a ser de todos”, explicou, contando que no seu próprio caso tenta sempre dar o mais possível aos irmãos e aos pais.

Ana Luís confessa-se uma pessoa independente, embora muito dependente nos afectos, mas não deixa de sublinhar que na conquista da personalidade que hoje a caracteriza foi determinante o apoio do professor Fernando Brito, numa altura em que estudou na Eptoliva. “Se hoje estou onde estou, foi porque o conheci a ele”, rematou.

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