Oliveira do Hospital não detinha, à época, imprensa escrita e a rádio Boa Nova era o único órgão de informação local. Na cena política oliveirense, o PSD dominava a Câmara Municipal com António Simões Saraiva como presidente e António Correia Dias e Carlos Teixeira da Rocha como principais vereadores.
Na oposição, António Campos era o presidente da concelhia do PS e Adelaide Freixinho a líder do CDS. O PCP, com uma importância muito reduzida, não contava, na altura, com nenhum eleito nos órgãos políticos do concelho.
Simões Saraiva acusa o desgaste de 13 anos de poder e, em 1988, Campos convida o historiador César Oliveira para contrariar a hegemonia do PSD.
O país era governado por Aníbal Cavaco Silva e na presidência dos Estados Unidos da América estava investido o velho actor Ronald Reagan. O líder da então União Soviética é Mikhail Gorbachev
No final dos anos 80, Oliveira do Hospital – um concelho marcado por um grande espírito empreendedor – era considerado o terceiro município mais importante do distrito de Coimbra, mas registava uma grande carência de infra-estruturas.
A distribuição de água ao domicílio – com falhas de abastecimento constantes – era uma das principais armas de arremesso da oposição contra o executivo de Simões Saraiva.
A cidade, não tinha piscinas nem cinema e as acessibilidades internas e de ligação às cidades vizinhas eram péssimas. Os equipamentos escolares – à excepção da escola secundária – remontavam praticamente todos ao período do Estado Novo.
Apesar deste cenário – comum, na época, a tantos outros municípios do interior do país – Oliveira do Hospital era uma vila do interior que se destacava pela pujança do seu tecido empresarial, que assentava sobretudo na indústria de confecções – o maior empregador do concelho.
Produzir um jornal no interior – os custos de produção não eram muito diferentes dos dias de hoje – não era tarefa fácil. No entanto, o Correio da Beira Serra foi acolhido com muito entusiasmo e o tecido empresarial constituiu sempre uma mola importante para que o CBS mantivesse acesa a chama até ao ano de 2001, data em que suspendeu a sua publicação.
Quem nunca acolheu o projecto com entusiasmo, foi no entanto o poder local, que sempre encarou o Correio da Beira Serra como uma espécie de “força de bloqueio”. Mas os aplausos vinham de vários quadrantes e o jornal era sempre aguardado com expectativa….
“Aproveito o ensejo para felicitar Va Exa e toda a equipa fundadora do jornal pela generosa iniciativa de darem ao nosso concelho um órgão informativo e formativo que poderá muito bem contribuir para o seu desenvolvimento económico, social e moral.
Segundo o consenso geral, ainda está de pé o velho conceito de que a imprensa é a alavanca do progresso. O concelho de Oliveira do Hospital, detentor de reais potencialidades, carecia deste melhoramento”, escreveu o saudoso médico-poeta Vasco de Campos, do “Búzio”, em 8 de Julho de 1988.
Encerrado em 2001, o Correio da Beira Serra regressa entretanto às bancas dia 15 de Março de 2006. O novo projecto – impulsionado e financiado pelo empresário António Lopes – incorpora um diário online e um quinzenário impresso. Rapidamente conquista a liderança no panorama da informação local e cedo se impõe como um jornal polémico e desassombrado.
O poder local não gosta e opta pela hostilização e pelo não “reconhecimento” de um órgão de comunicação social que, fundamentalmente, pretende tão simplesmente desafiar o concelho a entrar no comboio do desenvolvimento.