Ocupado com uma viagem em representação da CIM de Coimbra ao Chipre e a leitura da obra de Winston Churchill, o presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital confessou que não leu a moção de censura apresentada por António Lopes contra o seu executivo, nem lhe mereceu grande importância. O documento, de resto, acabou por ser chumbado pela totalidade dos eleitos presentes na última Assembleia Municipal. Nem o próprio António Lopes votou. Abandonou a sala por momentos, em protesto por aquilo que classificou como uma desconsideração e um atropelo à lei por parte da mesa ao não incluir a moção na ordem do dia, empurrando-a para o espaço dedicado ao período de antes da ordem do dia. A atitude da mesa também mereceu fortes criticas por parte do PSD e do CDS. José Carlos Alexandrino desvalorizou.
“Nem tive tempo de a ler e também não ia perder tempo com isso. Tenho outras coisas para ler. Nos últimos tempos descobri Churchill e tenho aprendido umas coisas”, disse o presidente da autarquia, depois de ter ouvido vários membros do partido socialista criticarem a moção e louvarem o trabalho do seu executivo. E acabou a citar Churchil: “Não seremos julgados pelas criticas dos nossos adversários, mas sim pelas consequências dos nossos actos”.
Perante as vozes criticas dos socialistas sobre a moção, surgiu o eleito do CDS/PP, Luís Lagos, a referir que se António Lopes não conquistava o seu apoio, já o tratamento dado pela mesa ao documento “quase” o convencia a “votar favoravelmente”. “O senhor presidente da mesa e o PS continuam a cometer o mesmo erro. Refugiam-se em argumentos processuais para limitar a discussão. O PS não pode recorrer a esses argumentos, tem de utilizar expedientes políticos. Se não concorda com a moção vota contra, mas tem de dar espaço e tempo para que essa discussão seja feita. O concelho só tem a beneficiar”, acusou Lagos, anulando o argumento do presidente da AM para quem a moção era uma competência instrumental e não substancial, pelo que não tinha de entrar na ordem do dia. Luís Lagos sublinhou ainda que era de bom-tom político que a resposta do Partido Socialista fosse a apresentação de uma moção de confiança ao executivo. “Deveria tê-la anunciado de imediato. Foi pena que tenha estado adormecido durante uma semana e não o tenha feito”, reforçou.
Lagos explicou depois que não poderia votar favoravelmente a moção de censura porque um documento daquele teor pressupõe uma alternativa ao poder que neste momento (António Lopes só depois desta intervenção assumiu a sua candidatura) aquele membro do PP não vislumbra. “E para votar uma moção de censura tem de existir uma alternativa. A dois anos das eleições temos o principal partido da oposição em cacos. Sem uma alternativa válida, capaz e consistente não podemos votar favoravelmente”, disse, garantindo que o seu partido tem trabalhado no sentido de construir alternativas com propostas políticas.
O presidente da concelhia do PS veio então dizer que não via qualquer necessidade de apresentar uma moção de confiança. “Apresentar uma moção de confiança ao senhor presidente porquê? O PS confia e vai continuar a confiar até ao memento que ele quiser em José Carlos Alexandrino. E desenganem-se aqueles que pensam que o PS está a abrir brechas. O PS está unido com os membros da Assembleia e o seu executivo”, concluiu.
Esta união, porém, não deveria impedir, no entender o Rafael Costa, que a moção fosse devidamente discutida. Para o eleito do PSD não faz qualquer sentido a proposta não ter sido incluída na ordem do dia. “O que diria o PS se fosse da sua autoria e não fosse incluída?”, questionou, antes de explicar que, ainda assim não votaria, favoravelmente por lhe parecer que a proposta surgiu a fora de tempo, não apresentava alternativas e que “poderia ser mais proactiva”.