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Quadrado Inverso: Formação em Fotografia. Autor Rui Campos

É inegável que nestes últimos anos houve um boom em relação à fotografia. Fala-se em nova Democratização, ou numa verdadeira democratização. Porém mantenho como sempre a sensação de que a fotografia está a ser um filho bastardo das artes. Já o referi em outras crónicas. A facilidade com que se acede ao equipamento, a qualidade que os equipamentos de base oferecem e até a (falsa) sensação de que carregar uma câmera fotográfica nos dá status e ajuda a conquistar mulheres porque faz de nós mais inteligentes leva a que cada vez mais pessoas, alguns meses depois de gastar alguns euros num equipamento se assumam como… fotógrafos.  Todos os dias se assiste ao aparecimento de novos blogues e sites nas redes sociais de mais uma pessoa que se auto define como “fotógrafo”.

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Algumas destas pessoas preocupam-se com a aprendizagem. Toda a gente quer fazer fotografias bonitas. Os cursos e workshops de fotografia florescem à razão proporcional de que os fotógrafos também florescem. Há cursos e workshops para todos os gostos e para todas as bolsas. A minha experiência como formador diz-me que algumas das entidades e pessoas que oferecem estas formações apenas têm em conta uma coisa. O Dinheiro. Quanto mais barato for, mais vende. E na maior parte dos casos o que interessa é vender, e não formar. Até já se vendem cursos online; paga-se e descarrega-se o manual. Mas para isso lia-se o manual das câmeras fotográficas e comprava-se um qualquer manual do Tom Hang. Está provado que não resulta. Não resulta porque depende do formando e este precisa de orientação. Os livros por si só não orientam, não estão presentes.

Workshops de fotografia tendem a ser mais baratos e por isso proliferam mais. Para termos uma base de comparação, o Instituto Português de fotografia (IPF) oferece cursos profissionais de fotografia e cursos avançados de fotografia. O primeiro tem 759 horas de formação e o segundo tem 405 horas de formação.  O curso avançado custa a módica quantia de 2.640,00 euros e o segundo 4.462,50 euros. Recorro a este exemplo para dar ao senhor leitor a ideia do tempo que leva a aprendizagem de um formando para que este chegue a fotógrafo. E sim, se tem tempo (e dinheiro) e quer aprender mesmo fotografia, alugue uma casa em Lisboa ou no Porto e faça um curso profissional de fotografia devidamente acreditado pelo Ministério da Educação. Vai descobrir que antes de pegar na sua moderna câmera digital vai precisar de uma analógica e antes de tocar no photoshop vai passar muitas horas a revelar e ampliar.

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Há porém formações bem estruturadas e bem estudadas que podem ajudar a dar os primeiros passos na fotografia. Mas importa ter presente que nestas circunstâncias é fundamental que o iniciante entenda que o sucesso da formação depende única e exclusivamente do trabalho e da dedicação dele próprio. Importa pagar mais e ter garantias de sucesso, ou pagar menos e vir com uma enorme confusão na cabeça?

Um curso bem estruturado começa sempre por ser devidamente pensado e fundamentado por via de um Plano e Intervenção Pedagógica (PIP). É o projeto do curso no qual tudo está descrito ao pormenor, desde as necessidades da criação do Curso, passando pela fundamentação da metodologia de formação, objetivos gerais, objetivos específicos, horas de formação, planos de sessão, recursos didáticos, métodos e técnicas pedagógicas, domínios de aprendizagem, avaliação, manual de formação, pré-requisitos, preço, referências, etc..

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A minha experiência também me diz que muito frequentemente não é o formando que se decide a fazer uma formação. É a ocasião que se proporciona. E vai-se. A minha experiência também me diz que os débitos de matéria são frequentemente muito grandes para poucas horas de formação. Porém, o preço é convidativo. Depois deixa-se o formando sozinho e sem acompanhamento cheio de dúvidas e confusão na cabeça.

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Também não basta que o formador seja apenas fotógrafo há muitos anos e ter um bom currículo. Importa também estar capacitado de conhecimentos de andragogia e munido de ferramentas que facilitem o processo de aprendizagem.

Um curso de base com algumas horas de formação pode muito bem ajudar um iniciante a comunicar com a câmera fotográfica e à libertação dos modos AUTO desta. Depois importa acima de tudo muito treino, mesmo muito treino. Mais tarde já poderá entrar em workshops específicos e direcionados para determinadas disciplinas específicas da fotografia. Na minha opinião, entrar num workshop sem conhecimentos prévios leva a algumas injustiças. Na minha opinião, os próprios workshops devem facultar uma avaliação prévia de conhecimentos e consciencializar o possível formando de se este vai ou não trazer mais-valias.

O meu conselho para os iniciantes de fotografia que estejam a pensar iniciar-se e a recorrer à ajuda de formação para evoluir mais rapidamente é o seguinte: Não cedam a preços convidativos. Peçam informação mais detalhada sobre os cursos. Ninguém vos vai enviar um PIP, mas ao menos uma ficha técnica que explique como se vai desenrolar a formação. Isto dá-vos garantias mínimas de que a formação está pensada e estruturada e não suportada apenas num bom fotógrafo e numa apresentação em Power Point.

Rui CamposAutor Rui Campos

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