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Refugiados da guerra síria podem contrariar envelhecimento do interior do país diz especialista da UA

As regiões mais envelhecidas do país podem beneficiar com o acolhimento de refugiados da guerra Síria. Ao receber os migrantes, a faixa do interior do país de Trás-os-Montes ao Alentejo, onde há regiões que estão entre as dez mais envelhecidas da Europa, “pode ver revertida a tendência com o facto dos refugiados serem maioritariamente constituídos por casais jovens, muitos com filhos, contribuindo directamente para um maior equilíbrio entre os grupos etários dos mais idosos e os dos mais jovens”. A opinião é de Carlos Jorge Silva, especialista em estudos demográficos da Universidade de Aveiro (UA), que, para ajudar a contornar a crise de natalidade, aponta ainda que Portugal poderia receber cinco vezes mais do que os 4500 refugiados previstos.

“Se pensarmos que 4500 pessoas representam apenas 0,04 por cento da população portuguesa actual, estamos a falar de uma gota de água no oceano”, aponta Carlos Silva, coautor do livro “A Demografia e o País: Previsões Cristalinas sem Bola de Cristal”, que, lançado em Setembro, prevê que a faixa do interior do país, de Trás-os-Montes ao Alentejo, a manter-se a actual tendência da evolução do índice de fecundidade em Portugal e não havendo migrações, pode perder em 2040 um terço da população actual.

De facto, lembra, “a verdadeira ‘sangria’ de população ocorreu por via da saída massiva do país, sobretudo dos cerca de 100 mil jovens por ano”. Portanto, a crise demográfica portuguesa “é apenas marginalmente contrariada pela entrada de um número de refugiados na ordem de grandeza que tem sido referida nos media”.

Tendo em conta os números de nascimentos e óbitos de 2014, que representou uma perda líquida, à escala do país, de 22549 habitantes, “a entrada de 4500 refugiados alivia esta quebra em quase 20 por cento”. Uma percentagem que até pode aumentar caso o país receba um número maior de refugiados.

“A quantidade dependerá das políticas de imigração que se vierem a seguir. A título de exemplo – e pegando no valor do saldo natural negativo de 2014, cerca de 23000 pessoas – poder-se-ia apontar para perto deste valor, o que representaria o quíntuplo do número de refugiados avançado, apenas para permitir cobrir o défice demográfico natural”, diz Carlos Silva.

Receber com dignidade

“Quanto às regiões de destino [dos refugiados a acolher em Portugal], julgo que a questão não deve ser apenas aritmética: será necessário inventariar os equipamentos, infraestruturas e serviços de interesse público disponíveis em cada uma e articular a oferta actual com a procura expectável, derivada do novo fluxo de população, com as características etárias conhecidas”, aponta Carlos Silva. O investigador lembra que, antes de mais, “a crise dos refugiados é um drama humano, pelo que prestar ajuda é um problema de consciência moral e cívica, antes de poder constituir um qualquer instrumento de políticas de população”.

“Dadas as grandes barreiras linguísticas e culturais entre os povos, neste caso o português e os possíveis refugiados imigrantes, o acolhimento deve ser muito cuidado”. A preocupação em não criar ‘ghettos’, inserindo os novos habitantes na vida da sociedade, com respeito mútuo pelas diferenças e a implementação de políticas activas facilitadoras da integração, a aprendizagem da língua, a criação de oportunidades de trabalho, o acesso dos filhos à escola, ou a cobertura das famílias pelo Serviço Nacional de Saúde são, entre outros, mecanismos de integração, imprescindíveis para Carlos Jorge Silva no processo de acolhimento dos refugiados.

Carlos Silva reforça ainda a ideia de que “a persistência de saldos naturais negativos, os quais são principalmente devidos à baixa fecundidade, não se inverte apenas com saldos migratórios positivos, necessariamente de muito maior dimensão”.

Para o investigador, a fecundidade apenas aumentará “se houver políticas integradas de apoio aos jovens casais, a começar pela qualidade do emprego a que tenham acesso, pelo apoio às crianças – desde a primeira infância até ao fim da escolaridade – além da criação de condições para compatibilizar a vida profissional das mulheres com a tarefa de mães”.

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