Na realidade, mesmo em organizações onde quase todos os colaboradores têm habilitações académicas semelhantes, ainda assim, muitos são os directores que não prescindem de um tratamento por você e do título académico. É claro que estas chefias defendem-se dizendo que é tudo uma questão de educação. Esquecendo-se que não deixa de ser uma educação defensora de que uns são mais do que os outros, o que não ajuda ao espírito de grupo nem facilita a comunicação dentro de uma organização. Com a percentagem de portugueses licenciados a aumentar, seria bom que conseguíssemos prescindir de velhas mordomias que diferenciam as pessoas pela sua posição hierárquica ou grau académico (tantas vezes “Independente”… de alguma valia), o que só dificulta uma relação mais próxima entre todos para que a informação seja mais fluente?!?…
Mas como quem dirige não muda, as coisas não mudam. Nas escolas, ouvimos os professores queixar-se que os alunos não sentem a escola, os directores dessas escolas que são os professores que não sentem a instituição e o governo, esse, queixa-se que são os directores que não sentem o sistema tão, “magnificamente”, dirigido para as novas oportunidades. No entanto, continuamos todos a alimentar os tratamentos VIP’s (Very Insignificant Persons) de doutor para aqui, doutor para ali, você isto e você aquilo. Aliás, o tratamento por você lembra-me uma história engraçada…
Intrigado com a mudança de comportamento de um assistente, certo Director Geral, bem conhecido na nossa praça, andava apreensivo sobre quais seriam as razões para este seu colaborador andar tão feliz. A eficácia no desempenho das suas tarefas não tinha sofrido qualquer alteração. No entanto, para além de andar mais feliz, este assessor parecia mais afastado e começou a ausentar-se mais vezes da empresa. Intrigado com esta mudança de hábitos e com receio que este seu assistente estivesse a preparar a saída da empresa, ou mesmo já a colaborar com qualquer empresa rival, o nosso conhecido Director resolveu contratar um detective para desvendar o mistério.
Duas semanas depois, recebia o primeiro relatório: Sempre que se ausentou da empresa, o Doutor Hélio foi para sua casa, dar uma volta na sua mota e fazer amor com a sua mulher. Durante três meses, os relatórios repetiram-se. Já descansado, o dito Director Geral marcou uma reunião com o detective para prescindir dos seus serviços. Desvendado o mistério e recuperada a confiança e fidelidade no seu assessor, o Director Geral acertou contas e agradeceu o bom trabalho ao detective. Na verdade, a relação entre o detective e o Director nunca deixou de ser distante. O detective era um homem de poucas palavras e parecia saber sempre mais do que dizia. Por isso, foi com surpresa que, à saída, o dito detective pediu ao Director Geral se o podia deixar de tratar por você. Pouco dado a tratamentos por tu, o Director lá acedeu ao pedido sem perceber qual era a necessidade de tal mudança.
Foi aí que o detective disse: Então vou repetir o relatório que te envio há três meses: Sempre que se ausentou da empresa, o Doutor Hélio foi para tua casa, dar uma volta na tua mota e fazer amor com a tua mulher…*
* O autor adverte que esta é uma história real e que qualquer semelhança com uma história inventada é pura coincidência.
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Associação Nacional de Jovens Formadores e Docentes (FORDOC)