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“Tenho pena de chegar ao fim do mandato com tão pouco trabalho feito no saneamento”

Em entrevista, o autarca confessa-se satisfeito com a atuação do executivo municipal e sossega o povo de Vila Pouca da Beira no caso de se consumar a agregação das duas freguesias. “Passaremos a ser todos membros da mesma família”, assegura, dando como certa a recandidatura.

Correio da Beira Serra– Na entrada do último ano deste mandato autárquico que balanço faz do trabalho que já realizou à frente da Junta de Freguesia de Santa Ovaia?
Licínio Neves –
Faço um balanço bastante positivo. E por duas razões que considero fundamentais. Primeiro porque temos tido um presidente de Câmara que fez um trabalho importantíssimo de descentralizar verbas para as juntas fazerem as obras que entendem. Segundo porque também me tenho dedicado e aproveitado o melhor possível esses apoios. Acho que uma das bandeiras de que o município se pode orgulhar, é o facto de ter esta consideração pelas freguesias, para que os presidentes de Junta possam gerir os dinheiros, sem terem necessidade de andar com o chapéu na mão.

CBS – Ao fim de três anos, Santa Ovaia está diferente?
LN –
Julgo que sim. De facto uma das coisas de que me orgulho é que não há o conflito que existia anteriormente. Também me orgulho da obra feita. A Junta não tinha uma viatura, nem um armazém onde se pusesse um prego. Hoje temos uma carrinha, um bom estaleiro com armazém, o que foi um passo importante além de outras obras levadas a cabo. Desde que este executivo tomou posse já procedemos ao melhoramento de algumas ruas e resolvemos alguns problemas de saneamento, mas não o necessário. Ainda há muito trabalho a fazer nessa matéria e, segundo o presidente da
Câmara, não conseguimos ir mais longe devido à Águas do Zêzere e Côa. É uma pena. Dentro da Freguesia falta saneamento na Rua da Laranjeira e fora da freguesia temos ainda a Reta da Salinha, Ribeira de Santiago e a parte da Ponte das Três Entradas onde continuamos sem resolver o problemas às pessoas que continuam a usar as fossas próprias.

CBS – Quando é que a rede de saneamento ficará concluída na freguesia?
LN –
Gostaria que fosse em breve, mas está complicado. Está dependente da AZC e julgo que irá demorar algum tempo. Neste mandato dotámos uma rua com saneamento e construímos a ETAR. E para breve vamos avançar com o saneamento na Rua da Freixeira, à entrada da freguesia. O saneamento sempre foi a nossa maior preocupação, entre outras pequenas obras. Tem-se feito o que se pode e o nosso programa está praticamente executado. Mas o saneamento é que me continua a preocupar. No caso da Ponte das
Três Entradas está a ser construído um Hotel que deverá ficar pronto este ano e não sei como é que vamos resolver o problema do Saneamento. Trata-se de uma obra importante quer para a freguesia, quer para todo o concelho. Tenho pena de chegar ao fim do mandato com tão pouco trabalho feito no saneamento.

“Uma freguesia com bastantes condições”

CBS – Santa Ovaia continua a ser atrativa?
LN –
O que falhou aqui foi a crise que afeta o país. Ao ser construída uma nova urbanização já poderíamos ter aumentado o número de vivendas. Só que isto estagnou. No meu entender Santa Ovaia é uma das freguesias com bastantes condições no concelho, quer pela proximidade com a sede de concelho, quer também pelo facto de beneficiar das paisagens das serras do Açor e da Estrela. É uma freguesia atraente e as pessoas gostam de cá estar. Tem- se assisto uma quebra na construção, mas estou convencido de que se isto melhorar, a construção também irá arrancar na nossa freguesia. Mesmo assim, ainda temos bastantes famílias e gente jovem. Ainda temos a escola a funcionar, mas que deverá encerrar com a abertura do Centro Educativo de Nogueira do Cravo.

Outra mais valia da freguesia é o Centro Social e Paroquial de Santa Ovaia que foi ampliado recentemente e onde dá gosto ver as crianças junto dos idosos.
A Sociedade Recreativa de Santa Ovaia também tem dado uma importante dinâmica à freguesia. Brevemente será eleita uma nova direção que, até ao início do verão, deverá concluir o parque de lazer, dotado de piscinas, destinado a atrair cada vez mais gente à freguesia. A Junta tem prestado o apoio necessário. Eu próprio tenho estado muito envolvido nesse projeto, e vou contribuir para a montagem da piscina com os salários que auferi na Junta no ano de 2012. Já os anteriores tinha canalizado para outras obras da freguesia. Gosto que a Sociedade Recreativa seja ativa e até tenho incentivado a atual direção para conferir maior dinâmica às áreas da cultura e do desporto. Temos um espaço desportivo com boas condições que merece ser utilizado pela juventude.

CBS – Que outros projetos ainda gostaria de executar em Santa Ovaia?
LN –
Estamos a ultimar os arranjos das fontes romanas e estamos a pensar reconstruir uma casa velha que a Junta comprou, no ano passado por 10 mil Euros, num arrabalde com o objetivo de dinamizar o turismo. Queremos ali revitalizar aquela parte velha da freguesia, mas ainda estamos a estudar o que ali vamos desenvolver. Na casa gostaríamos de instalar uma biblioteca e museu do arguina, criar ali uma espécie de posto de turismo e até disponibilizar quatro quartos a preços acessíveis. Com a requalificação das fontes, com as piscinas, com o Hotel, o Parque de Campismo e com a casa pretendemos fazer da freguesia um destino turístico. Estamos a criar condições para acolher os turistas. O projeto de requalificação da casa está em andamento e a ideia é que as obras avancem no próximo mandato.

“Vila Pouca da Beira não será prejudicada”

CBS – Receou pela extinção da sua freguesia?
LN
– Nunca me passou pela cabeça a extinção de Santa Ovaia. Tendo em conta as 21 freguesias, verificava que havias muitas autarquias com menos população do que Santa Ovaia. Mas, por ocasião do Livro Verde, a freguesia chegou a estar em risco. Para além disso, Santa Ovaia será das freguesias com maior número de empresários. Temos várias empresas de construção civil, transformação de pedra e carpintarias. A freguesia dá emprego a muita gente, embora nos últimos tempos também se tenha assistido a uma diminuição. Santa Ovaia tem uma grande tradição. É terra de pedreiros e em tempo dizia-se que quando nascia um rapaz, nascia uma parelha de picos, para picar a pedra.

CBS – Receia que a atual crise coloque em risco a viabilidade de algumas empresas da freguesia?
LN –
Pois. Isso é um problema que nos assusta a todos. Todos os dias há notícias de insolvências. Se não houver uma viragem
nas políticas por parte de quem nos governa, muitas das nossas empresas irão embora. Uma carpintaria já fechou e outras empresas têm feito reajustamentos para fazerem face a esta situação de dificuldade.

CBS – Ficou aliviado quando percebeu que Santa Ovaia tinha ficado de fora da lista de freguesias a extinguir no concelho?
LN
– Um pouco. Eu ainda penso que isto é tudo mentira.

CBS – Como encara o facto de Santa Ovaia vir a agregar a freguesia de Vila Pouca da Beira?
LN –
A nossa posição foi sempre a de não quereremos ser agregados, nem agregar. Mas, estamos para aceitar aquilo que nos impuserem. Quem somos nós para escolher alguma coisa. Sempre fui contra a extinção e continuo solidário com freguesias que vão ser extintas.

CBS – Já teve oportunidade de falar com a presidente da Junta de Freguesia de Vila Pouca da Beira acerca deste processo?
LN
– Ainda não falei com ninguém. Contudo, sempre houve boas relações com as freguesias vizinhas. E se Vila Pouca da Beira agregar a Santa Ovaia aquela freguesia não será prejudicada. Se eu continuar à frente da Junta de Freguesia continuará a ser dado o apoio à população de Vila Pouca tal como estava habituada. As pessoas continuarão a ser servidas da mesma forma. Pouco vai mudar. Farei os possíveis para que as coisas sejam feitas com seriedade e para que as pessoas tenham o que merecem.

CBS – Ainda que Santa Ovaia venha a ser uma freguesia agregadora, não receia pela perda de identidade, visto que deixará de se falar em freguesia de Santa Ovaia, para se falar em “União das Freguesias de Santa Ovaia e Vila Pouca da Beira?
LN
– Aí é que está a grande questão e por isso é que ainda me custa a acreditar nisso e continuo a pensar que é tudo mentira. Mas o que é que havemos de fazer? Nem sei muito bem como é que vai passar a funcionar em termos de símbolos, porque cada freguesia tem a sua distinção. Não sei… estaremos para ver. Mas isto não vai ser fácil. Estamos na expectativa. Mas se eu cá continuar, podem contar comigo. Quando fui eleito, sempre disse que considerava um presidente como um pai de filhos, em que não se podem marginalizar uns, para se beneficiarem outros. Isso passa-se com as pessoas do meu povo e passar-se-à também com o povo de Vila Pouca da Beira. Passaremos a ser todos membros da mesma família.

“Continuo com o bichinho de ajudar a minha terra”

CBS – Depreende-se que a sua recandidatura é um dado adquirido…
LN- Será uma possibilidade. Sempre gostei muito da minha terra. Tal como fiz enquanto estive na Sociedade Recreativa, também aqui na junta continuo a lutar e a fazer o que posso pela minha terra. Dispenso muito tempo e muitos litros de gasóleo em prol da minha terra. Darei sempre o meu melhor. Enquanto filho da terra, tenho gosto em ajudar Santa Ovaia. Hoje assiste-se a muito desinteresse pelo que a terra precisa. Mas eu continuo com o bichinho de ajudar a minha terra e de a dotar do que é preciso.

CBS- Foi eleito pelo mesmo partido (PS) que governa a Câmara Municipal, como avalia as relações entre a Junta e o executivo municipal?
LN
– Mal conhecia o professor José Carlos Alexandrino, mas tem-me surpreendido bastante por ser uma pessoa humana e aberta ao povo. Reconheço-lhe grande capacidade de gestão e de percorrer os corredores do poder central. Tem-me surpreendido pela positiva. Se o país tivesse pessoas como o nosso presidente, as coisas estariam de outra maneira, ao contrário do que um grupinho que para aí anda, tem feito crer. Querem-se fazer passar por políticos e tanto ignoram a realidade. Isso deixa-me triste. O nosso concelho precisa de pessoas capazes, válidas e que façam alguma coisa pela positiva e vemos aí gente que age pela negativa e que de
nigre a imagem de pessoas que trabalham bem.

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