“A informação disponível sugere que o número de casos e de óbitos em Portugal está a crescer mais lentamente do que em Espanha ou Itália”, pode ler-se no documento a que a Lusa teve acesso, embora tenha sido feito uma ressalva ao “cuidado” necessário na interpretação e comparação dos dados a nível internacional. A corroborar esta análise está o crescimento de novos casos, cujo ritmo médio de 23% caiu para 9,79% no final de Março.
Os investigadores consideram que “a diferença pode ser explicada pelo facto de alguns países terem serviços de saúde com melhor capacidade” para doentes com covid-19, por “alguns países terem testado uma maior proporção da população”, o que ditou mais casos e a variação na taxa de letalidade, e por a pandemia ter chegado mais tarde ao país, “dando tempo para implementar cedo medidas de distanciamento social e adaptar os serviços de saúde”.
O estudo apontou ainda que em Portugal a maior parte dos infectados “tiveram sintomas ligeiros, sendo que 726 (8,8%) dos casos notificados foram internados”. Destes números, somente 230 (2,8%) foram alvo de internamento em unidades de cuidados intensivos (UCI), mas “desde o dia 25 de Março regista-se um aumento da proporção dos casos internados em UCI, um aumento paralelo ao que se observa na taxa de letalidade”.
A nível demográfico, a investigação notou que “a infecção não se manifestou de igual forma em diferentes idades e sexos”, já que as mulheres registaram uma maior incidência em todas as faixas etárias, excepto no segmento de mais de 60 anos, mas são os homens a denotar uma maior taxa de letalidade, sobretudo acima dos 50 anos. Ainda assim, é admitida uma possível menor detecção de casos no sexo masculino.
Quanto às assimetrias regionais da covid-19 no país, que evidenciaram um avanço mais precoce no norte, em particular na área metropolitana do Porto, o trabalho do Centro de Investigação em Saúde Pública da ENSP deixou um alerta: “As regiões que agora apresentam menos casos poderão ser aquelas onde o vírus chegou mais tarde e ainda não teve oportunidade de se espalhar na comunidade”.