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A experiência da deficiência na primeira pessoa

 

… o correiodabeiraserra.com deixa testemunhos de vida, relatados na primeira pessoa.

Muito sorridente, a ouvir música e a jogar. Foi desta forma que o correiodabeiraserra.com encontrou esta manhã Ana Brito. Um cenário em nada fora do normal para o comum dos oliveirenses, e que também faz parte do quotidiano da utente do lar residencial da Santa Casa da Misericórdia de Galizes que, apesar da deficiência mental que a afeta desde nascença, está perfeitamente integrada na instituição.

Este é de resto o mote da Santa Casa da Misericórdia de Galizes, Casa São João de Deus, e certamente de tantas outras instituições similares que grassam um pouco por todo o país e que têm na sua essência a perfeita integração dos utentes, numa atitude de respeito pela sua dignidade e valorização pessoal.

Com 36 anos, Ana Brito, natural da Bobadela, é apenas um exemplo de vida diferente, mas igual a tantos outros. Visivelmente de bem com a vida e ao lado de outros mais ou menos dependentes, a utente serve de rosto ao grupo de 42 que, tal como ela, fazem da Casa São João de Deus a sua própria casa.

E ao fim de 11 anos – entrou no ano de abertura da instituição direcionada a prestar a poio a portadores de deficiência – o balanço não poderia ser melhor. “Gosto muito de estar cá”, referiu sorridente, porque este é o estado natural da jovem, que tem sempre um carinho e muita alegria para partilhar com todos os que a rodeiam.

Atento à conversa, José Henriques, também ele deficiente mental, com 59 anos, partilha a satisfação por, naquela sala, poder jogar o jogo de enfiar peças e de sobretudo estar acompanhado por outros como ele e respetivos monitores. De Oliveira do Hospital, o utente faz parte do grupo de 15, que frequenta o Centro de Atividades Ocupacionais da Santa Casa.

Em véspera de comemoração do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, este diário digital teve ainda oportunidade de privar com outras realidades. Já conhecido pela boa capacidade de comunicação, Pedro, de 37 anos dá voz àquilo que é a perfeita integração institucional e comunitária. Autónomo, o utente que nasceu em Lisboa, mas sempre habitou em Coimbra vive há 11 anos na instituição. “Faço de tudo um pouco”, referiu durante a interrupção que fez no trabalho de arraiolos, para poder testemunhar a sua experiência, contando que também participa nas atividades diárias do lar, na limpeza do espaço e até na jardinagem.

A integração na instituição, que no seu seio presta apoio a utentes provenientes de vários pontos do país e tem cerca de quatro dezenas em lista de espera, vai ainda mais longe ao ponto de a receção ser assegurada por uma jovem portadora de deficiência. Chama-se Angela Marques e tem 34 anos. A jovem de Oliveira do Hospital que apresenta limitações ao nível da verbalização e cognição dá cartas naquilo que é a função de bem receber.

“Não tenho experiência nenhuma, mas o convívio é muito bom”, relatou, contando que o desafio foi lançado pela direção há dois meses e que logo decidiu aceitar, por entender que é aquilo que “realmente” gosta de fazer.

A participação dos utentes no dia a dia da instituição não se esgota no atendimento presencial. Rosa Jesus é a voz que surge do lado de lá da linha telefónica num contacto com a instituição. “Gosto muito de estar aqui”. Ainda que se trate de uma frase feita e vezes sem conta repetida é a que melhor expressa o sentimento dos que, por via das limitações que lhes são impostas, ali encontram um local de refúgio e um ombro amigo.

De Travanca de Lagos, a jovem de 36 anos que frequenta o CAO da Santa Casa da Misericórdia de Galizes presta também apoio ao nível da receção na unidade de reabilitação. Uma dedicação que é confirmada por Rita Abreu que reconhece na utente/colega “muita força de vontade”. “Vai-se testando a ela própria”, refere.

Entre o levantar, a higiene pessoal, as refeições e as atividades lúdico-ocupacionais e de reabilitação, são estes alguns dos exemplos de vida facilmente percetíveis na Casa São João de Deus, onde em cada parede, janela, hall ou recanto se multiplicam as assinaturas dos utentes através de cada trabalho, onde impera a perfeição e sobretudo o amor. Fotografias, telas e outros objetos espelham o rosto e alma de cada utente, e não conseguem esconder as suas alegrias e cumplicidades.

“Combater a rotina e promover fortemente a satisfação” é o desígnio a que a diretora técnica da Santa Casa e restante equipa procuram dar resposta diariamente, com vista “ao bem estar dos utentes”. “Para mim é diariamente um desafio”, partilha Cecília Fragoso ao correiodabeiraserra.com, que em mente garante ter sempre “a valorização de cada utente e o respeito pela sua dignidade”.

Diante de belos trabalhos produzidos pelos utentes, Cecília Fragoso não tem dúvidas das competências dos mais de 50 utentes que frequentam a instituição. Do mesmo modo, também sublinha a qualidade do serviço prestado por toda a equipa – são mais de 60 colaboradores – e que tem levado longe o nome da instituição.

Uma realidade que está em fase de expansão. Para dar resposta aos utentes em lista de espera, a Santa Casa vai alargar a sua resposta social e dar início à construção do complexo Casa Nª Srª da Visitação, que compreende um novo lar residencial (36 utentes), uma residência autónoma (5 utentes) e Centro de Atividades Ocupacionais (20 utentes), num investimento de 2.074.000,00 Euros, financiando pelo POPH em 1.733.268,00 Euros. “Vamos alargar a nossa resposta e aumentar o número de utentes e de funcionários”, refere o provedor Bruno Miranda a este diário digital, que encara o desafio que decidiu abraçar há quase um ano como “um trabalho de muita responsabilidade, mas também muito gratificante”.

Ainda que cada dia seja preenchido por atividades diversificadas, no dia 5 de dezembro a Santa da Misericórdia de Galizes vai estar focalizada na comemoração do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência que se assinala amanhã. A efeméride vai ser comemorada no seio da instituição com visualização de um filme alusivo à vida em comunidade.

A data vai também ser evocada pela Associação de Recuperação de Crianças Inadaptadas de Oliveira do Hospital (ARCIAL) que na 2ª e 3ª feira organiza uma visita ao Fórum Coimbra, onde os utentes poderão assistir ao filme o “Gato das Botas”. Localizada na cidade, a ARCIAL presta apoio a 50 utentes na valência de CAO e a 39 na vertente de formação profissional. A instituição prepara-se para dar início à construção de duas residências autónomas, cada uma com capacidade para cinco utentes, num investimento total de 280 mil Euros.

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