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A Opinião de Carlos Brito:…Nem todos tiveram Festas Felizes

Estou solidário com eles porque não só perderam o posto de trabalho mas também parte do seu Sentido de Vida. Comungo do seu vazio, tristeza e angústias. Estou solidário com os Empregadores do nosso Concelho que, um dia, ousaram tentar passar o cabo Bojador.

Recusaram ficar no canto onde nasceram; feirantes, empregados ou simples operários têxteis que ousaram lutar contra ventos e marés, dando a conhecer ao Mundo o nosso Concelho, tal como os navegantes do século XV.

Que ninguém se atreva a julgá-los pelos seus erros e fracassos e, muito menos, pelos seus Sonhos e Vontade de Independência! Eles Ousaram…! Julguemos antes os “Velhos do Restelo” que se limitam a comentar e a criticar mas sem nada de fundamentado ou substanciado propor.

Na penúltima edição do CBS o seu Editorial referia, uma vez mais, citações de ilustres personagens que denunciavam a forte incidência das Confecções no nosso Concelho. Desde o Dr. Álvaro Cunhal, que há já 20 anos “adivinhava” a situação actual, até às “premunições” do Dr. César de Oliveira, todos auguravam tristes dias para o Concelho por estar tão dependente das Confecções.

Mas, o que fizeram para que tais avisos se justificassem? Que meios desencadearam para impedir ou contrariar as suas premunições? Que escolas técnicas foram focalizadas para a qualificação dos trabalhadores e empresários da indústria mais pujante do Concelho, de modo a torná-la mais competitiva e evitar, assim, o previsível e indesejado desfecho? Que movimentos direccionaram para fomentar o associativismo? Que alternativas foram criadas para que o emprego não estivesse somente concentrado na produção de vestuário?

Agora, perante a grave situação do emprego no Concelho, os actuais “Velhos do Restelo” limitam-se a um encolher de ombros enquanto citam as “avisadas” palavras dos referidos Políticos! Até o último Presidente de Câmara, do alto do seu púlpito, se atreveu a comentar que a Câmara não tinha como missão criar empresários! Talvez a deixá-los morrer, deduzo eu…!

Afinal, todos mais não fizeram que “decretar” o princípio do fim das Fábricas de Confecção! A penúltima edição do CBS também lembrava a entrevista feita em Março de 2006 ao empresário Carlos Andrade, onde este afirmava que “… na Europa desenvolvida já não há indústria de confecção…”. Não é a primeira vez que refuto a objectividade desta afirmação, reafirmando agora que, na Europa plena de desemprego a recuperação não é possível sem fábricas, de confecção ou outras…

O Mundo está girando, está retornando e nós não nos apercebemos? Não podemos ficar a olhar para a desgraça sem fazer nada… dizia, e muito bem, a dirigente sindical Fátima Carvalho, na mesma edição. Políticos e Empreendedores devem ser capazes de uma nova atitude na busca de “Novos Rotas”.

Tal como o curandeiro evoluiu, acompanhando o desenvolvimento científico, dando lugar ao médico actual, também a indústria de confecções deve evoluir. Por outras palavras, os empresários de Confecção têm que inovar e desenvolver uma estratégia de regeneração nas suas indústrias.

A admiração e reconhecimento que tenho para com todos os Empregadores das Confecções não me impedem de lhes apontar as suas responsabilidades no enfraquecimento da nossa Indústria de Confecções: O profundo individualismo tão radicado no nosso Povo! Uns, entretidos a olhar para o seu umbigo ou para os seus concorrentes, outros, manipulados pelos seus clientes (grandes cadeias de lojas) que os utilizavam e utilizam como “matadores” de outras débeis fábricas de confecção a quem recorriam e recorrem para a subcontratação.

A razão da existência de umas foi, e é, maioritariamente, resultante do empobrecimento de outras que lhes “proporcionavam” os preços que as grandes marcas lhes “impunham” e que, nas suas fábricas, não podiam suportar. E assim, alguns Empregadores, “descobriram” o caminho mais fácil para dobrarem o Cabo do Adamastor… à custa de outros, mais frágeis.

Foram, como não podia deixar de ser, as unidades industriais mais débeis as primeiras vítimas desta conjuntura, donde saíram os primeiros ciclos de desempregados. Na minha maneira de ver, tivessem esses corajosos “navegadores” convivido menos com o erro cultural de menosprezarem o associativismo, tão necessário para se poderem conjugar sinergias e se assegurarem os meios financeiros e humanos indispensáveis a qualquer projecto consistente, e o desastre seria menor, os danos mais controláveis.

Na minha maneira de ver, se os “navegadores à vista”não procederem a alianças estratégicas que permitam desenvolver: – Programas de desenho, de desenvolvimento tecnológico, de transportes; Abertura de novos mercados; “Lobbies”, não vislumbro possibilidades de o Concelho recuperar a dinâmica e o apogeu perdidos nos anos 80 e de fazer renascer o Sonho perdido.

Na minha maneira de ver, o nosso Concelho, o nosso País não resolverá o problema do desemprego sem Fábricas, sejam de Confecções ou Outras.

Oliveira do Hospital, 06 de Janeiro de 2010

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