Uma novela com potencial, mas só se for de atores (que realmente o são)! O que importa é ter bons atores e o respetivo meio envolvente…
Onde ficou a qualidade etnográfica do rancho folclórico que a novela pretende representar? Bom, não sei… Apenas sei que tenho o orgulho de ter pertencido a uma equipa que apresentou um digno projeto à produtora desta novela, para que a qualidade etnográfica do referido rancho folclórico fosse uma realidade. Hão-de estar a perguntar se, afinal, o grupo a que pertenço é da Serra da Estrela. Eu abertamente respondo: não, não é! Mas seria o mais próximo: afinal, a Serra do Açor “pega” com a Serra da Estrela! Portanto, as adaptações seriam muito fáceis e simples de realizar.
Contudo, fui bem claro que a nossa participação nesta novela teria que garantir qualidade etnográfica. Tenho para mim que este aspeto esteve na base da sua rejeição. Mas, é com todo o orgulho que o partilho! Não nos esqueçamos, a qualidade é alcançável com árduo trabalho e não com facilitismos.
Sou Serrano, calço tamancos, visto serrubeco, uso barrete e agasalho-me com uma manta de lã. Outras e outros serranos vestem desta e de outra maneira, que nada tem haver com as vestes usadas nesta novela. Nem quero imaginar como os oriundos da Serra da Estrela se sentem pois, com toda a certeza, não se reconhecem neste trajar. Basta ver as diferenças nas fotografias abaixo, cuja legenda a identificar quais os trajes que pertencem à novela e quais os que pertencem ao grupo do qual faço parte é dispensável. Felizmente, os trajes do nosso grupo “cheiram” a serra!
Por falar em “cheirar”, está-me também a “cheirar” que o repertório musical poderá ficar a desejar. O pequeno excerto musical no primeiro episódio não refletiu nem as modas de roda, nem as modas saltitadas, nem mesmo os típicos fados da serra. Mas, esperemos pelos próximos episódios…
Até a característica serrana do jeito em levantar os braços se perdeu. Qual jeito arqueado de colocar os braços, qual quê… Onde ele está? Não está… Mais um pormenor a denegrir a imagem do povo Serrano.
Por fim e para arrematar digo: se tivesse sido para isto, ainda bem que não aceitaram as nossas condições. Fico feliz por não estar ligado a tantos erros etnográficos como os que A SERRA já transmitiu e, provavelmente, transmitirá.
Muitos episódios estarão para vir e, se estiver enganado, eu próprio reverterei o que aqui escrevi. Quem me dera que esteja errado…
Deste modo, continuamos sem dignificar as tradições do nosso povo e, pior, as tradições dos Serranos. Eu, enquanto Serrano e em especial enquanto folclorista, de contente estou ZERO. O folclore NÃO É isto!
Autor: Fábio Luís