Como classificar pois a actual situação política deste nosso Portugal? Vamos por partes…
A dominante em que nos põem a viver recai na sucessão infindável de escandaleiras com Ministros, Secretários(as) de Estado, Presidentes de Câmara, Deputados. Tais escândalos são-no pela essências dos casos a que se reportam, por norma: – corrupção, nepotismo, favoritismo partidário e congéneres. Mas todos estes casos também “só” ganham tamanho relevo público porque sectores da grande comunicação social deram em “pescá-los à linha” e em os denunciarem e denunciarem, e repetirem, e “venderem” sem descanso.
É um “massacre” informativo que acaba por subverter muitos e sensíveis vectores e acaba por se voltar contra o sistema democrático e seus protagonistas, culpados ou não.
De facto, são-nos impostos autênticos julgamentos na praça pública o que não é bom sistema. E a insistência e exposição mediáticas – em “dose” diária brutal – fazem concentrar as atenções nos “casos e casinhos” a pontos de tudo o resto passar mesmo a “restos”… E tanto assunto mais há a merecer as atenções das Portuguesas e dos Portugueses pois influenciam as nossas vidas, do bolso, ao estômago, à habitação, ao salário, à pensão de reforma, à educação, à saúde!…
Todavia, também não se pode subestimar a gravidade da situação tamanha é a “praga” de casos e de envolvimentos pessoais, políticos e partidários. Mas vamos com calma, com a exigência de transparência e mais transparência na “coisa” pública. Haja mais Democracia!
Atenção aos “lobos” políticos que se propagandeiam feitos “cordeiros” …
Entretanto, há quem se aproveite da onda para a sarfar (de “surf”): os oportunistas políticos que têm todo o “tempo de antena” nas rádios e televisões para se travestirem em “inocentes” e moralistas e para gerarem (falsas) expectativas a quem os vê e ouve palrar. Cuidado pois com o cantar das sereias…com os lobos na pele de cordeiro…
A situação da TAP é mais um exemplo da velha técnica em desacreditar a gestão pública.
Tem barbas essa “técnica” que consiste em somar autênticas escandaleiras na gestão de importantes sectores económicos e sociais públicos. Primeiro, para incutir na opinião pública e mesmo no sentir das Portuguesas e Portugueses que o melhor mesmo é privatizar – vender quase sempre por preços abaixo do efectivo valor das empresas públicas e estratégicas. Como aconteceu desde 1975 com a criminosa (judicial – política – económica – social) série de “privatizações selvagens” que foram consumadas por sucessivos (des)governos e (des)governantes…
Acresce que vários são outros casos em que, primeiro, o Estado, através do governo “de turno”, pegou em (grandes) empresas falidas ou a caminho da falência onde, a seguir, investiu “rios” de dinheiro público para as preparar – normalizar – para serem vendidas e regressarem, “drenadas”, a grandes grupos económicos e financeiros muitas vezes depois de feito um certo trabalho “sujo” – por exemplo, muitos despedimentos.
Desgraçadamente exemplar também é o que acontece com alguns dos Bancos que faliram graças às falcatruas por lá cometidas pelos (ex) titulares privados. Bancos que, entretanto, têm custado ao erário público muitos e muitos milhares de milhões (biliões) de euros e que, depois das “metamorfoses” a que foram sujeitos, continuam privados e a “mamar”!…
Sim, este processo com a TAP tem sido um autêntico crime de lesa – Pátria. E caminha para se agravar a curto prazo com a venda anunciada da maioria do capital da empresa que ainda está no domínio público e a ser muito cobiçada…
Em consequência, hoje, a grande parte da opinião pública, “intoxicada”, estará desejosa de que a TAP seja “privatizada” e pronta a aceitar que isso aconteça a baixo preço. Pudera!…
De facto, não basta que uma grande empresa estratégica esteja nacionalizada – embora seja por aí que se deva começar. Também é necessário assegurar uma gestão séria e transparente! Infelizmente não é isso que tem acontecido na TAP e nem sequer estamos a polarizar esta nossa apreciação em torno de honestidades individuais, mas, sim, na falta de seriedade e de ética políticas e institucionais de facto fiéis ao património público, ao interesse público. Sim, a experiência mostra isso mesmo! Até quando?!
Janeiro de 2023
Autor: João Dinis, Jano