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O presidente da Câmara de Oliveira do Hospital foi, ontem, chamado à responsabilidade, por um grupo de alunos, sobre os obstáculos à deficiência que continuam a persistir na cidade. No debate realizado na Casa da Cultura, houve testemunhos na primeira pessoa que carregaram de emoção o desfecho da iniciativa.

 

Alunos confrontaram Mário Alves com obstáculos à deficiência

Imagem vazia padrãoUm grupo de alunos da turma C do 12º ano da Escola Secundária de Oliveira do Hospital confrontou, ontem, o presidente da Câmara Municipal com uma listagem de obstáculos existentes na cidade e que impossibilitam a mobilidade de pessoas portadores de deficiência. Mário Alves participou na palestra “os obstáculos à diferença” organizada pelos alunos que, apesar de ter contado com uma assistência muito reduzida, ficou marcada pelo testemunho de pessoas portadoras de deficiência, familiares e técnicos que lidam diariamente com os que se dizem “diferentes” e não “inferiores”.

Inexistência de rampas no acesso à Casa da Cultura, ao Palácio da Justiça e à delegação do Centro de Emprego, desníveis entre passeios e passadeiras, instalações sanitárias do Centro de Saúde inadaptadas, escassez de lugares de estacionamento para portadores de deficiência, obstáculos nos passeios, piscinas municipais inadaptadas quer no acesso ao edifício, quer no uso interior e rampas demasiado inclinadas nalguns locais. Estes foram alguns dos pontos negros detectados pelos alunos e confirmados pelos que diariamente têm que os enfrentar, como é o caso da técnica da ARCIAL e da mãe do pequeno Daniel que frequenta o primeiro ciclo de Ensino Básico na Escola da cidade. Mas, para além de enumerarem os obstáculos, os alunos avançaram com soluções que passam na maioria dos casos pela construção de rampas, colocação de elevadores e rebaixamento dos lancis dos passeios.

“A nossa cidade melhorou muito, mas é preciso muito mais”, referiu a mãe do jovem Daniel, lamentando também a pouca solidariedade por parte da população, que nem sequer respeita os lugares de estacionamento destinados a deficientes. “As pessoas deveriam ser mais civilizadas”, acrescentou, acabando por ser apoiada pela técnica da ARCIAL, que também não hesitou em apelar à atenção da Câmara Municipal para a resolução de determinados constrangimentos que se continuam a verificar na cidade.

“Temos feito muito nesta matéria, mas não quer dizer que tenhamos feito tudo”

Recuando àquilo que tem sido “a leitura dos vários poderes políticos”, o presidente do município deu conta das sucessivas alterações à legislação, bem como do facto de em alguns edifícios, pelas características de construção, não haver condições para serem adaptados a pessoas portadoras com deficiência. Sobre as propostas avançadas pelos alunos, Mário Alves considerou que “não são viáveis”, porque “se fosse possível já existiria uma rampa de acesso à Casa da Cultura”. Deu conta das sucessivas críticas que lhe continuam a ser dirigidas, resultantes da última requalificação urbanística, sobre a largura dos passeios e a altura das passadeiras, mas referiu que está “mais preocupado com os que têm dificuldades, do que com os que não têm”.

“Temos feito muito nesta matéria, mas não quer dizer que tenhamos feito tudo”, sustentou o autarca, destacando obras como o novo recinto da feira mensal, parque merendeiro de Vila Franca da Beira, as EBI da cidade e das Seixas, a futura biblioteca e sede da Junta de Freguesia de Penalva de Alva, bem como a requalificação do Largo Ribeiro do Amaral onde não foram esquecidas as necessidades das pessoas portadoras de deficiência. “Da minha parte continuarei a fazer todo o esforço, no sentido de fazer com que as pessoas com deficiência tenham as mesmas condições de mobilidade que as normais”, assegurou Mário Alves, acrescentado que a nova biblioteca da cidade – o autarca espera levar o projecto para lançamento do concurso público à próxima reunião do executivo – está adaptada a deficientes e que a Câmara estará disposta a solucionar o acesso ao Palácio da Justiça, caso o Ministério da Justiça dê indicações nesse sentido. Sobre o Centro de Saúde, explicou que os sanitários para deficientes faziam parte do projecto de remodelação, mas que, fruto das políticas em torno da Saúde, acabou por não ser concluído. Mário Alves lembrou ainda aos alunos que a escola que frequentam também não está adaptada a deficientes.

Ao grupo de alunos que, durante o debate, o desafiou a dar justificações sobre o estado da cidade, Mário Alves aconselhou a manter a preocupação, porque entende que “deve ser de todos, constante e continuada”. “Não devemos viver de impulsos”, registou o autarca, que fez questão de frisar que a “Câmara é com certeza a entidade que mais deficientes tem a trabalhar no seu seio”. Desafiou os empresários a estarem sensíveis a esta questão, porque “a igualdade é transmitida através de oportunidades, não basta eliminar barreiras físicas”.

“Somos diferentes, mas não somos inferiores”

Rui Nascimento, técnico de desporto da Associação de Beneficência Popular de Gouveia (ABPG) participou na iniciativa acompanhado por dois utentes a quem presta apoio na instituição. Destacou as mais valias existentes naquela instituição, ao mesmo tempo que destacou a participação de utentes no Special Olympics, desafiando a ARCIAL a aderir ao projecto que mobiliza milhares de jovens deficientes a nível mundial.

Paulo Azevedo de 26 anos,  de Lisboa, cujo percurso de vida já é conhecido por todos, também deu conta do seu testemunho, enquanto jovem que nasceu com deficiência motora, derivada de má formação congénita dos membros inferiores e superiores. Assume-se como uma “pessoa diferente”, mas “não inferior”. “O conseguir subir um degrau é uma vitória para cada um de nós”, notou, mas falou da necessidade de surgirem oportunidades de emprego para os deficientes, porque na sua opinião, uma rampa de acesso ao edifício ao Centro de Emprego só é necessária quando houver uma proposta de emprego.

Na altura em que os alunos davam por concluídos os trabalhos da conferência, a emotividade tomou conta da Casa da Cultura com a intervenção de um dos utentes da ABPG e de Jorge Tiago, funcionário da Câmara Municipal da cidade. Ambos proferiram palavras de agradecimento aos alunos e ao autarca Mário Alves e apelaram a uma maior sensibilização das pessoas.

O correiodabeiraserra.com reproduz em vídeo um excerto da intervenção de Jorge Tiago.

 

 

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