Ao saber de teu falecimento faço – “Sentido!” – eu que não fui nem sou militar “profissional” embora tenha passado alguns dos melhores anos da minha vida como militar miliciano. E foi nessas circunstâncias que nos encontrámos na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, desde Abril de 1973 a Julho de 1975. E também por isso, estivemos na Revolução do 25 de Abril de 1974 e nos mantivemos amigos e camaradas “de cavalaria” – e “veteranos” do 25 de Abril – por todos estes anos.
O então tenente Rui Santos Silva saiu com a coluna de Salgueiro. Mais, a comandar directamente o Esquadrão de Reconhecimento (houve um outro esquadrão “de atiradores auto-transportados”) sendo que o Esquadrão de Reconhecimento era, e de longe, o sector dessa coluna gloriosa – desse Grupo de Cavalaria – que mais poder de fogo tinha e que felizmente não precisou de usar. Sim, o tenente Rui Santos Silva, dadas as circunstâncias, era o segundo homem da coluna, ou seja, caso algo de mau acontecesse a Salgueiro Maia, seria Santos Silva a passar ao comando daquela força militar. E no dia 25 de Abril, esteve iminente, e por mais que uma vez, um trágico desenlace com a vida de Salgueiro Maia em alto risco. Ainda bem para Maia, para nós e para a Revolução que tal se não consumou logo a 25 de Abril, sobretudo no Terreiro do Paço mas também no Largo do Carmo!
Rui Santos Silva deu uma grande contribuição para que se mantivesse coeso, muito firme e operacional o comando militar da coluna de Santarém que teve várias missões em locais diferentes e em simultâneo.
Sim, entre outras coisas que passaram ao segundo frente aos nossos olhos e que nos aceleraram o ritmo cardíaco, Rui Santos Silva foi daqueles que cedo compreendeu o valor inestimável, para o êxito das operações desencadeadas pelo Movimento dos Capitães, da grande adesão popular logo desde a manhã do 25 de Abril. E ele correspondeu com toda a sua convicção e elevada eficácia.
Reproduzo um trecho de uma intervenção que o já coronel “na reserva” Santos Silva fez nas comemorações dos 45 anos (2019) do 25 de Abril, frente à estátua de Salgueiro Maia, em Santarém, parafraseando o próprio Salgueiro Maia naquilo que este disse quando sentia a aproximar-se o seu fim precoce, vítima da doença implacável. Citamos agora ambos:
– ” Não se preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que ajudei a construir”.
Os mais sentidos pêsames a familiares e amigos.
Um eterno abraço por Abril!
25 de Abril, sempre!
João Dinis, Jano.
(Veterano do 25 de Abril)