Na eleição do próximo mês de Abril, para a Comissão Política de Secção do PSD, a figura do padrinho está posta. Pode-se dizer que Mário Alves e Paulo Rocha são padrinhos de si mesmos. Mário Alves – politico experiente, com um afã de vencer nos últimos anos, como poucos o mostraram – tem consciência que perdeu mais prestígio do que popularidade (o que é substancialmente pior) e, pese embora, tenha o desgaste de um poder que sacrificou muito, os anéis e os dedos dos munícipes, os princípios de ética política, os valores da sadia governabilidade autárquica, julga que o seu mandato lhe pertence e não ao partido. Por isso pensa que, a única forma viável do concelho se manter proverbialmente social-democrata, será mantê-lo como hospedeiro de uma ideia perfilhada há muito, que toma o partido, como parte de uma escuderia eleitoral, que só serve para viabilizar candidaturas.
Esta é a principal razão, porque a presidência da concelhia do PSD, é para estes dois homens, a única portentosa raiz, para agrupar à sua volta, a putativa possibilidade, de alcançarem num futuro pré-eleitoral, uma candidatura, onde se permitam disputar a cadeira da Câmara. É este quadro-tipo e não outro, que serve de escudo e defesa, a uma situação política que gera peculiaridades e contornos que podemos dizer inéditos.
Nas próximas eleições para a concelhia, Mário Alves é o candidato sem o ser. E Paulo Rocha é o candidato que se oferece a um sacrifício inevitável, porque os dois precisam do Partido e qualquer um dos dois, precisa do outro. É a dialéctica da política: os padrinhos para o serem, também precisam dos afilhados. E estas eleições internas no PSD, desafiam os militantes a perceberem seguindo a lógica das opções e dos candidatos, que se em política tudo vale, vale igualmente, entenderem que, a questão está em saber se, entre as candidaturas em presença: a já anunciada de José Carlos Mendes, e a ainda oficiosa, de Paulo Rocha, uma delas vence, de forma a legitimar-se inquestionavelmente. A
idiossincrasia e a história recente do PSD local, apontam para um combate interno muito duro nos próximos meses. E quem vencer, tem de ter a noção empenhada e influente, que o PSD precisa de provar ao eleitorado, que é um partido com nexo político, partidário e programático, que consegue unir-se e falar a uma só voz, parando de correr o risco de traçar um fosso demasiado fundo, entre o partido e os eleitores.
Estas eleições não podem perder de vista a ideia, de que na vida política, não se pode recusar o essencialismo: e nesta campanha interna do PSD, separar Câmara e Partido, um dos candidatos e a concelhia, é a única forma na leitura do militante, de distinguir um voto reactivo e medíocre e um voto que se crê de legenda partidária. O militante social-democrata, nunca foi de atirar a pedra (subentenda-se o voto) e esconder a mão. O respeito por cada militante, obriga a que a concelhia se mostre solidária com os executivos das freguesias, mas obriga a que os presidentes de junta, não se permitam a contribuir por chantagem, para que o partido e os próprios, se diluam no executivo da câmara. Sei muito bem, que a obediência e subserviência, permitem lugares e continuar à tona sem grandes desgastes visíveis.
Mas sempre pensei que a liberdade, está em poder dizer sim e não, e dormir descansada. O matrimónio político da concelhia e dos seus autarcas, não é hoje, nem nunca foi fácil, porque a ausência de um canal de comunicação entre o partido e as suas bases, fortalece a oposição a esta comissão politica, levada a efeito pela câmara, convencionada numa sedução com ares de amante, cheia de artifícios e juras extraordinárias, assentes nos subsídios aos movimentos associativos das freguesias com mais militantes, aos apelos a agregados familiares que contemplam vários votos, e aos autarcas, meramente instrumentais nestas eleições internas, que tudo farão para se defender e aos seus lugares, como se os militantes fossem um bloco defensivo dos seus cargos, de modo cego, ao estilo de claque de futebol.
O grande desafio para os candidatos à concelhia do PSD, é mostrar respeito por cada militante, combater ideias para o concelho, e dar vida cívica à estrutura do partido. As três características em comum, são importantes se o partido pretender assumir num futuro próximo, junto do eleitorado, as palavras confiança, esperança e credibilidade. Esta é também uma batalha de qualificação partidária. E há que saber distinguir na mera óptica da militância, se o partido é um instrumento de realização de interesses egoístas, amestrado e reduzido, que se submete ao ranço do não-pensamento que dá empregos e cartas de nobilitação, ou se é um partido com vontade de anular isto dentro de si, propondo como alternativa uma ruptura com pequenos caciques locais, que só desprestigiam a sua imagem e o fecham em si próprio. O resto é reconhecer, que os tempos não estão de feição para a ilusão do movimento do poder pelo poder, e que muito daquilo que for feito para conquistar esta concelhia, pode ser uma actividade de marcação de território eleitoral, onde as outras forças do nosso espectro politico ganham a cada dia vantagem. Está na hora de os militantes abandonarem a mina, porque já vai havendo pouco minério do erário público, para tanta toupeira.
Lusitana Fonseca