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Carta aberta ao senhor Ministro da Saúde. Autor: António Manuel Nunes Soares

Como Presidente da Junta de Freguesia de Travanca de Lagos inicio o ano de 2015 com uma enorme preocupação. As pessoas da minha freguesia, em particular, e as pessoas do meu concelho, em geral, começam a ter muitas dificuldades em acederem aos cuidados básicos de saúde. Embora a Constituição da República consagre o direito ao acesso gratuito aos cuidados de saúde o panorama real desta freguesia e do concelho está longe de garantir aos cidadãos esse direito fundamental.

É por demais evidente que, de um modo geral, são as pessoas com menores recursos as que mais sentem este problema. Estamos numa região do interior, que se vai despovoando devido à emigração, ao baixo número de nascimentos e às difíceis condições de vida que por estas terras se fazem sentir. Na minha freguesia foi encerrada já há algum tempo a Extensão do Centro de Saúde sem que nada a substituísse. A população cada vez mais envelhecida e com poucos recursos económicos, que não é servida por boa rede de transportes, (que não existe em alguns casos) vê “nuvens muito negras” no horizonte próximo. As pessoas têm dificuldade em deslocar-se ao Centro de Saúde de Oliveira do Hospital, têm dificuldade na compra de medicamentos e nada de bom se avizinha. O Centro de Saúde de Oliveira do Hospital começa a não dar resposta para os 23 000 utentes nele inscritos, sendo que, dos 18 médicos que aí deveriam prestar serviço e nas extensões de saúde, apenas 8 asseguram as consultas nas extensões, ambulatório e Serviço de Atendimento Permanente (SAP). Sei que há médicos que fazem turnos seguidos, que trabalham para além daquilo que deveriam, mas também sei que muito em breve cerca de dois terços dos utentes podem vir a ficar sem médico de família, por falta de recursos humanos. Não temos que pagar o acesso aos cuidados de saúde a que todos temos direito, não podemos ignorar que há pessoas que não podem ir às clínicas e pagar consultas e cuidados de saúde, não podemos ignorar que há pessoas que não têm transporte… “Vemos, ouvimos e lemos… não podemos ignorar”, como alguém cantava.

Como Presidente da Junta de Freguesia de Travanca de Lagos, sinto o que as pessoas estão a viver e não me conformo que a extensão do Centro de Saúde desta localidade tenha sido encerrada e que o Centro de Saúde Oliveira do Hospital comece a não ser capaz de responder adequadamente, por falta de recursos humanos.

Senhor Ministro da Saúde, será que temos que abandonar as nossas terras e ir para as cidades engrossar as filas de espera, e as urgências, dos grandes centros, levando o país ao caos?

Será que o interior está condenado a não ter acesso aos cuidados básicos de saúde?

Será que há pessoas de primeira e pessoas de segunda?

Nós apenas queremos aquilo a que temos direito e o direito aos cuidados de saúde pública faz parte dos direitos fundamentais.

Num ano de eleições os vendedores de sonhos vão aparecer. Vão porventura prometer melhores salários, baixa de impostos, melhores escolas, melhores cuidados de saúde… Nós que estamos próximos das populações conhecemos bem quais são, não só os seus sonhos mas essencialmente aquilo a que elas têm direito e o direito à saúde e a cuidados de saúde de proximidade fazem parte dessa enorme lista.

Gostaria que as pessoas da minha freguesia de Travanca de Lagos, o mais rápido possível, voltassem a ter acesso aos cuidados básicos de saúde e que a saúde não fosse vista apenas por um prisma economicista. Mas se quisermos, mesmo assim vê-la por esse prisma, atrevo-me a dizer que custará menos ao estado a aposta na prevenção do que na cura.

Como Presidente da Junta de Freguesia de Travanca de Lagos reitero que tudo farei para que as pessoas desta freguesia tenham acesso gratuito, eficaz e em tempo útil aos cuidados de saúde e estou disposto a lutar por este objetivo não pondo de parte qualquer forma de luta.

Deixo um desafio também a todos aqueles que, sentindo o mesmo que eu (e acredito que este será o sentir de todas as Juntas de freguesia do meu concelho), se manifestem e que tomem uma posição firme, porque viver nas terras do interior não pode ser só para os turistas verem pessoas quando por cá passam. Acredito que ainda vale a pena viver em Travanca de Lagos e no concelho de Oliveira do Hospital.

PresiAutor: António Manuel Nunes Soares, Presidente da Junta de Freguesia de Travanca de Lagos.

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