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Nuno Pereira

“Com estas eleições para a Comissão Política o PSD deixou de ter duas facções e passou a estar partido em quatro”

Depois de perder as eleições da Comissão Política de Oliveira do Hospital para João Brito, Nuno Tavares Pereira prevê um futuro cinzento para o PSD local. Diz que falhou na sua tentativa de reunir os militantes à volta de uma só lista e considera que isso só veio aumentar as divisões entre os sociais-democratas. O candidato derrotado na corrida eleitoral interna do partido admite também que não excluía a possibilidade de José Carlos Alexandrino ser o candidato do PSD e que, de facto, existia orientação por parte da anterior direcção concelhia, para não hostilizar o actual presidente da autarquia. Mostra-se muito crítico em relação a grande parte dos elementos que fazem parte da lista que irá liderar a estrutura partidária nos próximos dois anos e, depois das três vitórias conseguidas pelos sociais-democratas no concelho europeias, legislativas e presidenciais, diz que tudo o que seja menos de cinco mil votos nas autárquicas é uma derrota.

CBS – O que levou à derrota da sua lista na corrida pela liderança da concelhia?

Nuno Tavares Pereira – Se calhar perdemos por colocar na lista pessoas que trabalham e não pessoas mediáticas. Tentámos tudo para conseguir o melhor para o partido que era uma lista única. Queríamos contactar várias pessoas para se constituir uma lista forte para preparar as autárquicas. Seria o melhor para um PSD, um partido que em Oliveira do Hospital desde 2007 tem duas facções. Dentro da JSD foi possível encontrar esse consenso. No PSD tentámos o mesmo. Numa primeira fase a Comissão Política Distrital disse que estaria também de acordo. Houve mesmo uma reunião na nossa sede em que se encontraram essas duas facções. Ficámos com a ideia que havia possibilidades de existir só uma lista. Houve várias reuniões na sede com muitos intervenientes, dos quais 10 a 12 pessoas seriam o elo de ligação entre as duas facções. Até 15 dias antes do acto eleitoral, estávamos convictos de que poderia existir uma só lista. Só numa dessas reuniões, como o processo se arrastava, insisti com o João Brito para que se colocassem na mesa os nomes para as listas. É nessa altura que ele me diz que já tinham os nomes e que havia pessoas que não queriam que fosse eu na lista, outras que não fosse outro e que eles não estavam interessados numa lista de consenso. Quando digo eles refiro-me ao João Brito, o João Esteves, a Sandra Fidalgo e António Inácio de Campos que inclusive numa dessas reuniões tinham dito que não iam em listas nenhuma. A Sandra Fidalgo, nessa reunião, também nos disse que, afinal, já andavam em reuniões e jantares há cerca de um ano para preparar a lista. Ainda avançámos vários nomes, mas o João Brito pediu desculpa e abandonou a reunião. Só após esse encontro é que decidimos avançar com uma recandidatura baseada na comissão política existente. Fiquei desiludido com o que se passou no acto eleitoral quando vi pessoas que, infelizmente estão acamadas, virem votar.

Isso significa que os elementos da sua lista não vão colaborar com a actual Comissão Política?

Tenho muitas dúvidas que as pessoas colaborem depois da forma como se desenrolou o processo. Mesmo agora, passado um mês, não houve um simples contacto e em vez do novo presidente vir para a comunicação social falar do futuro, vem simplesmente criticar os militantes do partido, tal é a ausência de propostas e de oposição autárquica que tem. Eles têm promessas e compromissos que nós não tínhamos quando decidimos avançar. Nem estou tão preocupado com os elementos que iam na lista, porque esses já sabiam o que os esperava, mas sim com outros anónimos que deram muito pelo partido e estavam connosco.

O seu grande objectivo era uma lista para unir as duas facções?

Claro. Era o melhor para o partido. Cheguei a propor, mesmo após a reunião em que houve esse corte radical, que fosse António Inácio de Campos a liderar a lista e depois incluir nomes de ambos os lados. Mas ele disse logo que não. Porquê? Porque lhe dissemos numa das reuniões que, em todas as freguesias, tínhamos equipas de trabalho que foram organizadas durante os processos eleitorais das legislativas, presidenciais e europeias e em quem confiávamos para trabalhar localmente. Se calhar achou-se colocado um bocado de parte e deve ter pensado que o íamos excluir de ser candidato à Junta. É claro que, hoje falando abertamente, se eu fosse presidente da Concelhia, António Inácio de Campos não seria candidato à Junta de Freguesia do Seixo. Mas seria um bom elemento para colaborar com outras pessoas mais bem preparadas neste momento. Foi autarca, depois foi candidato pelos independentes e perdeu, como perdeu nas eleições seguintes. Não me parecia que fosse a pessoa mais indicada para concorrer novamente.

A outra lista diz que uma das razões da lista única ter ficado pelo caminho foi o facto de procurar impor o seu nome para a liderança…

É falso. Nunca esteve em causa eu ser o líder da lista. A única coisa que disse foi que se fosse na lista estava lá para trabalhar, se não fosse, não contassem comigo. Sempre disse também que não iria em listas para a Câmara.

Qual o balanço que faz do trabalho desenvolvido pela Comissão Política da qual fez parte?

Positivo. A nossa comissão política, nos dois anos de mandato, fez o partido subir de cerca de dois mil e setecentos votos das autárquicas para mais de cinco mil votos nas legislativas e presidenciais. Nas presidenciais não perdemos numa única mesa. Nunca tal tinha acontecido. Tivemos mais de 50 reuniões em Coimbra e pelo Distrito, estivemos sempre activos nas campanhas, defendemos o concelho e a região nos vários encontros com os governantes, como foi no caso das acessibilidades. Fomos nós que trouxemos cá o Passos Coelho por três vezes e que também evitámos confrontos internos dentro do partido. Nestas três eleições, sem qualquer tipo de poder, com um Governo de austeridade, tivemos, com excepção de Cantanhede, o melhor resultado do Distrito de Coimbra. Não podemos esquecer que o PSD era Governo, tinha extinguido freguesias, encerrado serviços nos tribunais, eliminado os agrupamentos escolares, não resolveu, entre outros, em tempo útil a falta de médicos ou o problema das acessibilidades, nem sequer a reparação da N17. Arranjámos mais de 200 pessoas para colaborar as mesas eleitorais do concelho. Quem anda só na cidade e vê as notícias pela internet não se apercebe de todo este trabalho. Toda a Comissão Política e muitas pessoas que nem são militantes colaboraram, sem que tivéssemos feito qualquer propaganda e hoje é difícil dar a cara pelos partidos, quanto mais sem ter qualquer contrapartida. Estou a lembrar-me de jovens como o João Madeira, João Cid, Virgílio, entre outros que são exemplos da disponibilidade que sempre tiveram para colaborar com o partido. A maioria dos elementos da nova Comissão Política não ajudou e inclusive rejeitou colaborar. Donde pensam que vêm os votos do BE?

A derrota da sua lista poderá ter a ver com o facto de existir a ideia que foi a anterior Comissão Política que conduziu ao desastre nas últimas autárquicas?

Admito que sim, mas também isso é falso. Nas autárquicas não era ainda a nossa Comissão Política Concelhia que estava a liderar o partido. Só tomámos posse em Fevereiro de 2014. Não tivemos nada a ver com esse resultado. Pelo contrário. Muitos dos elementos da comissão agora eleita é que estavam na estrutura que liderou esse processo, acabando por abandonar a campanha a meio e sem fazerem parte das listas. Entregaram, digamos assim, o ouro ao bandido. O único elemento que fazia parte dessa comissão e que esteve na fase final das eleições como director de campanha foi o Vilafanha, após abandono do responsável na altura.

Qual é a sua opinião sobre a lista que vai agora liderar a Comissão política?

Do ponto de vista pessoal não tenho nada a dizer, mas, em termos políticos, o João Brito não é conhecido. Se falar com militantes do PSD a maioria não sabe quem ele é. Não apresentou sequer uma proposta para a Comissão Política. Não se sabe o que pretende fazer. Há lá pessoas de valor e com experiência que podem dar algum rumo ao partido. Mas há também quem nem sempre tenha defendido os interesses de Oliveira do Hospital. Estou a recordar-me, por exemplo, que há lá quem tivesse votado no Instituto Politécnico de Coimbra contra a continuação da ESTGOH em Oliveira do Hospital. Isso é defender os interesses de Oliveira do Hospital? Não me parece. O caso, por exemplo, da Sandra Fidalgo que foi em lista de deputados em 2011, por José Ricardo não ter aceite integrar a lista, pois Coimbra queria que ele fosse em nono e nós pretendíamos que ele fosse em quinto. Entretanto nos bastidores, ela aceitou ir em nono e desde aí nunca trabalhou em nada para o partido, a não ser aparecer de vez em quando nuns jantares importantes em Coimbra. O João Brito está ali como uma máscara de várias facções. O que gostava era de ver propostas e soluções, principalmente para as freguesias, para os desempregados e para os jovens. Depois daquilo que foi conseguido nas anteriores eleições, tudo o que seja menos de cinco mil votos nas próximas autárquicas é uma derrota. Vamos esperar.

A sua lista iria conseguir unir o partido?

Uma união total dentro do partido seria praticamente impossível depois daquilo que aconteceu de 2007 para cá. Mas queríamos evitar confrontos e tentar, com algumas pontes que fomos criando ao longo destes dois últimos anos, que houvesse uma certa pacificação. As pessoas em Oliveira do Hospital gostam do PSD. O maior problema do partido está nos militantes. Trabalhava quem estivesse disponível, quem não estivesse não poderíamos estar à espera que viesse. Depois destas eleições em vez de duas facções passou a ter quatro: os radicais, que são aqueles que estão contra tudo o que se faça, os independentes, que votam pelas pessoas e não se importam de dar a cara, depois aqueles que votam sempre no PSD, e, finalmente, a facção daqueles que estão ligadas a quem estiver no poder, seja do PS ou PSD. Dos mais de 300 militantes que votaram nestas eleições internas, cerca de 100 são funcionários da Câmara Municipal ou trabalham em instituições sob a alçada do município. Votaram também muitas pessoas que estão eleitas por outros partidos. Isso quer dizer alguma coisa.

Foram muito criticados por alegadamente tentarem impedir alguns elementos de se regressarem ao partido….

Como presidente da mesa procurei cumprir sempre escrupulosamente os regulamentos. Se tivesse feito alguma ilegalidade tinham-me caído em cima. Quem expulsou cerca de oitenta militantes, em 2010, incluindo o André Feiteira, foi o Mário Alves. O André Feiteira nunca se refiliou, mesmo depois de mandarmos a aprovação para Coimbra, mas foi a reuniões do conselho municipal da juventude representar a JSD ilegalmente. Se esses militantes não tivessem sido expulsos hoje eu estava aqui a falar como presidente da nova Comissão Política. No meu mandato, limitei-me a cumprir escrupulosamente os regulamentos. Não permitiríamos que acontecesse no PSD de Oliveira do Hospital aquilo que se está a verificar com a inscrição de militantes na Federação Distrital do PS de Coimbra. Mas acatamos as directrizes da direcção nacional e distrital do partido. O líder da JSD, por exemplo, vai tomar posse quando está eleito pelo CDS na Assembleia de Freguesia Alvôco das Várzeas. Os estatutos do partido não permitem isso. Nós chamámos a atenção para esse facto, mas Lisboa aceitou-o como candidato. Existem também actuais presidentes de Junta do PS que se activaram agora como militantes do PSD… Nós estamos de consciência tranquila. Fizemos tudo para que os regulamentos do partido fossem cumpridos. Não nos podem apontar nada.

Mas também fica a ideia que não existia uma oposição efectiva ao actual executivo…

O grupo de eleitos na Assembleia Municipal, de facto, não funciona muito bem por um conjunto de razões. Os documentos são enviados, quanto a mim, tarde, o que dificulta a vida a pessoas que trabalham e àqueles, um ou dois elementos, que ainda têm de fazer deslocações longas para participar nas reuniões por não estarem no concelho. Simplesmente não têm tempo para analisar todos os pontos. Agora com a mudança dos horários das AM muitos dos elementos nem sequer podem ir. Depois estamos a falar de uma lista que ficou muito desfeita com o abandona da Cristina Oliveira e do Luís Correia e também pelas cisões entre as facções já existentes. A oposição verdadeiramente tem ficado a cargo do anterior presidente da Assembleia Municipal. É basicamente o António Lopes. O elemento do CDS parece estar sempre alinhado com o presidente da Câmara e quando faz uma critica, essa parece já estar preparada para a seguir ser aprovada pelo PS. O PSD apresenta uma ou outra proposta que depois recebe uma nova roupagem para ser aprovada pelo PS e CDS. Mas não existe muito mais, embora tenhamos apresentado um conjunto de medidas para o desenvolvimento do concelho e o Presidente da autarquia sabe disso. Já as reuniões de Câmara eram preparadas com a concelhia. Com uma colaboração total da vereadora Cristina Oliveira, coisa que nunca aconteceu a partir do momento em que João Brito ocupou o lugar. Nunca mais soubemos o que se passava na Câmara. Deixou de haver ligação entre o partido e o vereador e os próprios membros da Assembleia Municipal que nem sequer sabiam o que o vereador tinha ou não votado em reunião de Câmara. Essa história de as pessoas quererem ir para a política como profissão acabou. Agora deve-se pensar nos cargos para ajudar a população.

É verdade que existiam orientações para não hostilizar José Carlos Alexandrino?

Entendemos que, enquanto não houvesse o esclarecimento de quem seria o candidato do PSD, e isso passava pelas eleições da Comissão Política, não devíamos estar a provocar uma pessoa que sabemos que tem mais valor que o partido pelo qual foi eleito. E também conhecemos os problemas internos do PS. Das divisões. Coimbra tem uma facção, Oliveira do Hospital tem outra facção. O PSD se tem ido, e procurámos explicar isso nas reuniões internas, em conjunto, não reacendendo divisões que já estavam mais ou menos saradas, ganhava as próximas autárquicas. Havia uma estratégia. A Cristina Oliveira sempre articulou connosco todas as posições, enquanto o seu substituto, nem sequer opinião teve, pois nunca compareceu às reuniões da Comissão Política. Assim, o PS não precisa de trabalhar e a divisão interna será camuflada. E se José Carlos Alexandrino for candidato, o que nós pretendíamos evitar, complica tudo.

Confirma que José Carlos Alexandrino poderia ser o vosso candidato?

Nunca o contactámos a ele nem a ninguém. Não estava dentro nem fora. Mas ele, em tempos, foi convidado pela Distrital para ser candidato pelo PSD. Eu admitia todas as possibilidades. Para mim, desde que sejam mais-valias para o partido e para a população, todas as pessoas são bem-vindas. Actualmente, o que sei, é que é mais fácil para o PS ir a eleições com o João Brito do que ir a eleições contra nós que lhes ganhámos os últimos três actos eleitorais, mesmo havendo críticos que dizem que não fizemos nada… Imagine se fizéssemos mais… Já a actual Comissão Política andou a dizer a alguns militantes que o candidato seria o Mário Alves, pessoa que nunca foi a votos e sempre esteve no centro de todos os conflitos do PSD, pelo que me contaram os mais antigos, já desde a altura da retirada da cadeira a Carlos Portugal como Presidente de Câmara.

Está a dizer que José Carlos Alexandrino é um bom presidente de Câmara?

Não direi isso dessa forma. Como presidente para projectar, orientar, não é o melhor. Mas em termos de popularidade, de saber fazer contactos pessoais e de discurso para agradar ao povo é mais do que aquilo que um presidente de Câmara é normalmente. A popularidade dele é o oposto de todos os ex. Presidentes de Câmara. Temos ali partes boas que as pessoas gostam, como as festas e de aparecerem na televisão. Tem aproveitado isso. Neste executivo há duas pessoas a quem temos de tirar o chapéu. O presidente, pela forma como trabalha a imagem. E o vereador Nuno Ribeiro que tem sido um trabalhador incansável. Não posso esquecer o Presidente da Junta de Oliveira que tem ajudado a manter uma imagem positiva da Câmara com o trabalho que faz, principalmente em aspectos de igualdade e imparcialidade.

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