Nem tudo são rosas. A evolução epidémica em Portugal depois da estabilidade aparenta uma tendência positiva. O número de reprodução da infecção (R0(t)) depois de ter estabilizado na região de 0.8 entre 26 a 28 de Abril iniciou uma inflexão no final do mês, logo após o anúncio do fim do Estado de Emergência, até à região de 1.01, onde permaneceu até 8 de Maio. A partir daí começou a diminuir e encontra-se agora nos 0.86 (média dos últimos 7 dias), com um intervalo de confiança a 95% entre 0.74 e 0.98. Desta parte, da reprodução da infecção, ou seja, a capacidade da epidemia aumentar ou diminuir, estamos bem, pois com este valor iremos ter progressivamente menos casos novos. Mas isso não é linear, pois pelo que se observa noutros países não é fácil manter o R0 com esta tendência e levá-lo para valores muito baixos. Por outro lado, a bem de um maior ganho de imunidade, é bom continuar a ter novos casos, embora, desde que o respectivo números de internados permaneça em valores suportáveis.
Por outro lado, olhando para o rácio entre o número de internados nas UCI mais os óbitos e os novos casos, observamos uma evolução de aumento, regressando aos 50% e com tendência a aproximar-se do seu máximo, de 60 a 65%. Ora isso, em princípio deve-se à manutenção do número médio diário de UCI mais os óbitos e a uma diminuição dos novos casos. Este rácio aumenta com o aumento dos UCI+Óbitos ou com a diminuição dos novos casos. Pelo que, à partida, dado que isto se deve à diminuição dos novos casos, esta subida não é sustentável a prazo, pelo que poderá voltar a diminuir. Mas é preciso manter a sua observação.
Em termos de incidência comparável por milhão de habitantes, Portugal está agora abaixo da média europeia, com 2803 casos/Mha, e a aproximar-se dos países com menor incidência. Já relativamente à letalidade (nº de casos por milhão de habitante) estamos bem abaixo da média europeia, com 117 casos/Mha, apenas acima Alemanha, da Áustria e da Dinamarca. Mas em termos de taxa de letalidade sobre o número de casos Covid-19 confirmados, estamos apenas acima da Áustria, com 4.2%, tendo sido já ultrapassados pela Alemanha.
Podemos pois, concluir, que deixámos de estar na fase epidémica da pandemia, ou seja, saímos da fase em que a epidemia poderia aumentar e passámos para uma fase de controlo, com diminuição de casos de doença Covid-19 (casos confirmados de infecção com sintomas).
À partida, a 1ª fase de desconfinamento, com o primeiro alívio das medidas de emergência, não teve impacto negativo na evolução da epidemia. Esse efeito poderia, como já aqui referi, ter ocorrido por antecipação, quando o R0 passou de 0.8 para 1.0, em finais de Abril. Mas na pós-fase, pelo contrário, verificou-se uma melhoria.
Na próxima segunda-feira, dia 18, vamos passar à 2ª fase de alívio das medidas de confinamento, passando a abrir restaurantes, escolas, creches, celebrações religiosas, etc.. Pelo que, será necessário voltar a olhar para a evolução do R0 e dos restantes parâmetros para ver o impacto. Esperemos que mesmo com um maior desconfinamento, mas sempre com as medidas de protecção individual, distanciamento, e desinfecção, se verifique também uma ausência de impacto negativo e uma evolução epidémica positiva.
Autor: Carlos Antunes