O meu nome é Hugo Correia Lopes, sou médico interno da especialidade de Medicina Geral e Familiar no Porto, onde atualmente vivo e trabalho. As minhas raízes estão em Oliveira do Hospital, cidade que me viu crescer pessoal e academicamente. Estudei no Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital até ao 12º ano e concluí a licenciatura e o mestrado em Medicina, na Universidade de Coimbra.
Depois de um ano a trabalhar no Centro Hospitalar Tondela-Viseu, mudei-me para o Porto onde trabalho atualmente. Por ter sido fundamental no meu desenvolvimento, é uma responsabilidade e um prazer poder contribuir para a evolução da nossa região e de Oliveira do Hospital, em particular. O desenvolvimento do nosso concelho e da nossa cidade tem sido notório, particularmente no setor económico, nas atividades do setor primário e no setor desportivo e cultural. Os eventos socioculturais da nossa cidade ganham cada vez mais importância no panorama geral da região Centro. Contudo, existe uma área que necessita da nossa particular atenção, a Saúde, muitas vezes negligenciada por escassez de recursos e, principalmente, por falta de informação clara e percetível. Neste sentido, é com imenso gosto que me proponho a tentar consciencializar a nossa população para pequenas mudanças de comportamento no quotidiano, visando contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida. Serão abordados temas, conceitos e problemas com especial relevância na população tradicional portuguesa, atendendo especialmente à população do concelho de Oliveira do Hospital.
No passado dia 7 de abril comemorou-se o Dia Mundial da Saúde. A proximidade da data relativamente ao dia 1 de abril, vulgo “Dia das Mentiras”, não é inocente: das “mentiras” nascem, efetivamente, os problemas de saúde. “Amanhã começo a minha dieta”, “Ainda fumo 20 cigarros por dia, mas estou mesmo a tentar reduzir”, “No meu trabalho já caminho tanto, não tenho tempo para exercício físico” ou “Sou fumador, mas não quero fazer medicação para a tensão, porque tem muitos produtos tóxicos” são alguns dos clássicos que ouvimos durante uma consulta.
A verdade é que, quando fazemos da nossa saúde uma prioridade, os comportamentos surgem de forma natural e gradual. Todos nós gostamos de tomar um café com os amigos no bar do costume que fica a 200 metros da nossa casa. Mas, como percorremos esses 200 m? Dois terços das pessoas responderão de carro. A mais recente evidência científica revela que não necessitamos de mudanças drásticas no nosso quotidiano para que a nossa saúde melhore: pequenos e fáceis ajustes no nosso dia a dia são suficientes para que a melhoria seja significativa e notória.
Segundo a OMS, as doenças que conhecemos como crónicas representam 7 das 10 principais causas de morte em todo o mundo, sendo que, em Portugal, o pódio é constituído pelos quadros demenciais (como, por exemplo, a doença de Alzheimer) no bronze, os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC’s) na prata e no ouro, com mais de 120 mortes/100 mil habitantes, os Enfartes Agudos do Miocárdio (EAM’s).
Está provado que as principais causas de morbimortalidade no país são proteladas, e até evitadas, com a prevenção da doença e que esta passa pela adoção de estilos de vida saudáveis, mais ligeiros e felizes, adotando medidas como: redução do stress no trabalho; adoção de uma alimentação saudável com baixo teor de sal e açúcares refinados; diminuição da ingestão de comidas processadas; realização de exercício físico sustentado e regular e evicção de tabaco e álcool. Outra medida simples e frutífera, enquanto seres sociais que somos, será adotar uma vida social equilibrada, reservando parte do nosso tempo para convívios e passeios com família e amigos.
Assim, conclui-se que, como seres com dimensões multifatoriais, várias são as vertentes implicadas na saúde, bem-estar e felicidade do Homem. Todo o ganho em saúde se resume a um conceito: equilíbrio. O equilíbrio aplica-se nas 3 principais abrangências do conceito lato de saúde: saúde mental, saúde física e saúde social. A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que o conceito de saúde representa “o completo bem-estar físico, mental e social, significando muito mais do que a simples ausência de doença.” Cuidar de nós, não descurando nenhuma destas 3 vertentes, parece ser o primeiro passo para atingir este equilíbrio e ter uma vida plena.
Nos últimos tempos, temos sido fustigados por cenários pandémicos mundiais, conflitos internacionais e, mais recentemente, um novo conflito bélico com repercussões a nível global. Todos estes contextos associados aos nossos próprios desafios quotidianos podem potenciar comportamentos mal adaptativos que, por sua vez, podem lesar a nossa saúde mental, física e social. Torna-se imperativo desenvolver estratégias que nos permitam manter o equilíbrio e aliviar a tensão que advém do caos em que se encontra a aldeia global em que vivemos. Neste sentido, torna-se clara a mensagem desta crónica: está nas nossas mãos mudar o rumo da nossa vida para melhor e para isso basta querer, porque querer é o primeiro passo para poder.
Autor: Hugo Correia Lopes