E o Diabo – o Grande Fogo – desceu à terra!
Naquela noite fatídica, de 15 para 16 de Outubro de 2017 !
Naquela noite de (quase) todos os Fogos e de (quase) todos os medos, morreu Gente e não muito longe de nós !
Morreu Gado… e ouvimos berrar as Ovelhas e as Cabras e os Porcos em angústia !
O velho Cão chamuscou o pêlo, queimou as patas e lambeu-se… Com olhos mais tristes que a tristeza, ficou sem forças ou sem vontade até para uivar…
A passarada e os animais do campo fugiram… E para fugir às chamas a elas se entregaram. Para não morrer, mataram-se !
Arderam Árvores e Casas e Fábricas e Automóveis e Postes velhos de Telecomunicações novas…
As pedras tentaram arder e ainda se lhes queimaram os musgos secos…
Naquela noite – de 15 para 16 de Outubro de 2017 – coroou-se o horizonte com grinaldas de fogo e com o consequente emanar dos clarões, por todos os lados.
Milhentos cometas, muito terrenos, eram as bolinhas de fogo aceso, sopradas com toda a força pelo vento doido. Por todos os lados, caíam e desfaziam-se em mais fogos…em outros fogos…em mais e mais ainda…assim como se tivessem vida e vontade próprias! Era um “Ciclone de Fogo !” – a bufar chamas, faúlhas e fumos por milhares de ventas ! Queimou onde quis, o que quis e como quis !
O Céu desapareceu toldado a fumo. A Lua, em Minguante, entretanto desaparecera, ainda antes de Nova, talvez assustada perante o apocalipse que acontecia.
Ardeu a noite. Queimaram-se as estrelas. Fomos marcados a fogo ! Como foi isto possível?! Ó inquietação, inquietação, que só terás respostas incompletas !…
O inferno mudou-se para cá e o Diabo andou à solta…Compreendemos agora melhor aquela imagem bíblica:- ”Ele os lançará na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes”…
Nós estivemos, lá, abandonados naquela noite funesta mas nítida “como uma fotografia”, de 15 para 16 de Outubro de 2017.
E todos andámos dentro daquela fornalha de angústia colectiva. Cada um de nós ainda mais dentro do seu próprio drama ! Foi um “salve-se quem puder !”.
Foram para aí sete horas seguidas de pesadelos povoados com dramas e tragédias.
Sete horas, apenas sete, mas tantas e tão compridas foram elas ! Horas que nos crucificaram com (quase) todos os Fogos e com (quase) todos os medos !
Naquela noite que não devia ter existido !
E “não a queira jamais o tempo dar !”.
Autor: João Dinis