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“Ficava bem à Unidade Técnica dizer que a freguesia de São Paio de Gramaços tem 991 habitantes”

É que em causa, realça Nuno Costa, está uma das freguesias mais empregadoras do concelho e com um total de 991 habitantes.

Correio da Beira Serra – O nome da freguesia de S. Paio de Gramaços consta do grupo de cinco freguesias que, segundo proposta da unidade técnica, vai passar por um processo de agregação. Como é que encara a possibilidade de extinção desta freguesia?
Nuno Costa –
Mentiria se dissesse que não estava à espera que isto pudesse acontecer. Desde o início, que o executivo desta Junta de Freguesia teve perfeita noção de que isso poderia acontecer, dada a proximidade com a Junta de Freguesia de Oliveira do Hospital. Mas, tivemos sempre uma réstia de esperança… isto foi para nós uma meia surpresa. Nunca manifestei muito publicamente a minha opinião, dei-a onde tinha que a dar. Em Assembleia de Freguesia aprovámos um manifesto contra a extinção de qualquer freguesia e não apenas da nossa. Essa continua a ser a nossa posição. É uma total injustiça aquilo que se quer fazer às freguesias. Mas no meio disto tudo temos a registar a boa notícia da não extinção de Alvôco de Várzeas e São Gião. Não posso deixar de estar contente. Era uma tamanha injustiça. Mas isto para mim não tem pés, nem cabeça. E o próprio parecer da Unidade Técnica demonstra que as pessoas não vieram ao local. Pegaram no mapa de Oliveira do Hospital e toca de juntar freguesias. Na análise da Unidade Técnica, o único argumento que é utilizado para justificar a agregação de S. Paio com Oliveira do Hospital é a proximidade. Eles não se dignam a colocar lá o número de habitantes, tal como fizeram com as outras freguesias. O que é uma falta de respeito para com a freguesia de S. Paio. Leva-me a pensar que isto foi feito de má fé, porque tiveram vergonha de lá colocar 991 habitantes. Isto é que não me cabe na cabeça. Qualquer pessoa com o mínimo de discernimento vê que há má fé. Ficava bem à Unidade Técnica dizer que a Freguesia de S. Paio de Gramaços é contígua à de Oliveira do Hospital, mas que como tem 991 habitantes obedece por inteiro ao principal critério da lei, mas não o fizeram.

Com todo o respeito que tenha pelas 21 freguesias do concelho, não posso deixar de referir que a nossa freguesia é a 6º maior em termos de densidade populacional. De acordo com os últimos censos, fomos das poucas freguesias do concelho que não perdemos população, pelo contrário, ganhámos população. São aspetos importantes. S. Paio de Gramaços não fica a dever nada a qualquer outra freguesia do concelho. Somos uma freguesia com um desenvolvimento económico ímpar no concelho. Basta chegarmos aqui e vermos. A nossa freguesia dispõe de boas infra estruturas. Somos das freguesias mais empreendedoras do concelho. Somos uma freguesia distinta e bem implantada. Temos uma escola a funcionar na sua plenitude e que está esgotada, temos creche, ATL, pré-escolar, lar de idosos, centro de dia, o pavilhão Serafim Marques, rancho folclórico e uma equipa de basquetebol que leva o nome de S. Paio de Gramaços pelo país inteiro.

Não merecíamos. Acho que os critérios não foram iguais para todos. Porque outras freguesias com localização geográfica semelhante à nossa e com menos habitantes não foram afetadas.

CBS – Lamenta que tal venha acontecer no seu mandato autárquico?
NC –
Não lamento pelo facto de ser eu o presidente, porque sou eu, mas poderia ser outro que estivesse no meu lugar. Não interiorizo isso dessa forma. Eu encaro a minha missão como um desafio em prol da população e tenho consciência tranquila. Vamos continuar a dar o melhor de nós, a qualquer hora do dia. Poderei ficar na história como o último presidente de Junta de S. Paio de Gramaços. Vamos ver…

“Para este governo as pessoas não contam”

CBS– Acredita que a lei venha a ter aplicação prática?
NC
– Ainda sou dos que acredita que até ao lavar dos cestos é vindima. Vamos esperar que o bom senso impere e que as pessoas reconsiderem. Acho que, neste momento, o país tem temas mais importantes do que extinguir ou agregar freguesias. Sinceramente, o governo deveria-se dedicar em extinguir a pobreza, relançar a economia e em estimular e ajudar os empresários. Fui eleito pelo PSD e custa-me a admitir, mas o que é facto é que para este governo as pessoas não contam. Penso que em cima das mesas de quem tem poder de decisão estão apenas números. Não há aqui um equilíbrio, não se pondera o lado social. O estado social está degradante.

CBS – Teme pelos prejuízos que a medida venha causar à população de S. Paio de Gramaços?
NC
– É claro que há freguesias em situação pior do que a nossa. Somos uma freguesia bem localizada e próxima dos centros de decisões de Oliveira do Hospital. Acho que a maior perda é esta proximidade entre a Junta de Freguesia e as pessoas. Porque vai-se perder a confiança. Porque é sempre uma pessoa de S. Paio e que sente a sua terra. É isso que as pessoas irão sentir. Aqui as pessoas vêm diariamente o presidente da Junta de Freguesia e partilham os problemas. Vai-se perder a identidade das pessoas. A minha maneira de pensar é diferente da de uma pessoa de Oliveira do Hospital. Aqui damos valor a questões, que em Oliveira do Hospital, não se dá. Uma coisa que eu aprendi foi a dar importância ao valor que as pessoas dão às coisas.

CBS – Como é que a população está a reagir a esta notícia?
NC –
A notícia ainda é recente e ainda não houve grande contacto. As pessoas tinham noção de que isto pudesse acontecer. Já ouvi pessoas a aceitar sem problemas e outras que não concordam. Mas nunca é pacífico. Estão-nos a levar algo. As pessoas têm conhecimentos e não aceitam que uma freguesia com 991 habitantes tenha que ser extinta. Essa vai ser a maior revolta das pessoas.

“S. Paio de Gramaços sempre teve grandes presidentes de Junta”

CBS – Exerce o primeiro mandato à frente da Junta de Freguesia. Que balanço faz do trabalho feito? NC – Não conseguimos a maioria. O executivo é composto pelas três forças (PSD, PS e Independentes). No início fui frontal e a partir do dia em que se tomou posse, todos remámos para o mesmo lado. Dissemos desde o início que a intenção era trabalhar e assim tem acontecido. Até à data de hoje, damo-nos perfeitamente bem. Apesar das diferenças de pensamento conseguimos atingir consenso e tem havido estreita colaboração e entendimento entre todos.

CBS – Quais entende serem as principais marcas do seu mandato?
NC –
Não sou a pessoa mais indicada para falar sobre isso. A população é a principal avaliadora do nosso trabalho. Mas garanto-lhe que me sinto de consciência perfeitamente tranquila, porque temos feito um bom trabalho pela freguesia. Mas não posso deixar de realçar que passamos por uma fase muito má. Contudo, dentro das limitações orçamentais que todos temos tido, penso que estamos a realizar um bom trabalho. Não temos feito obras de grande porte, mas intervenções em arruamentos, caminhos. Fizemos intervenção no cemitério e preparamos uma intervenção no exterior, colocámos, lombas, parque infantil, resolvemos problemas de águas pluviais, temos algumas obras para avançar… temos melhorado o que está feito. S. Paio de Gramaços era uma freguesia relativamente bem apresentada, tem tudo a ver com a dinâmica das pessoas que me antecederam, porque S. Paio de Gramaços sempre teve grandes presidentes de Junta de Freguesia. E também devo realçar toda a ajuda do benemérito Serafim Marques, dotando a freguesia de infra estruturas ímpares. Se há uma equipa de basquetebol muito a ele se deve. Isso é verdade.

CBS – Como é que classifica a freguesia de S. Paio de Gramaços?
NC –
É uma das maiores empregadoras do concelho. Temos empresas de aglomerados de madeiras, confeções e têxteis, armazéns de construção, um dos quais PME Líder, oficinas e comércio de automóveis, comércio de mobiliário… A freguesia oferece todas as condições e mais algumas, para as pessoas se fixarem por cá. Existe emprego, infra estruturas que permitem que haja pessoas em S. Paio de Gramaços. Temos assistido à fixação de novas famílias.

Infelizmente, também não fugimos ao problema do desemprego e ainda recentemente assistimos ao encerramento da única empresa de fabrico e venda de utensílios de cobre em atividade na freguesia .

Também temos cá casos que nos preocupam e nos deixam angustiados. Eu conheço as pessoas desde miúdo e ultimamente tenho tido notícias desagradáveis. No concelho, não seremos os piores, mas tenho conhecimento de casos que me deixam preocupado. Temos os casos sinalizados e devo enaltecer a ajuda da IPSS local, mais propriamente na pessoa da Drª Ana Cristina Camacho, que nos tem ajudado muito neste processo. Tem sido incansável e tem havido boa interação com o Banco de Recursos e cantinas sociais. Temos trabalhado e estamos muito atentos e em sentido de alerta. Temos estado junto das pessoas e não fazemos mais do que aquilo que é a nossa obrigação.

Mas, um presidente de Junta nunca está satisfeito. Tomara eu que, em quatro anos, resolvesse todos os problemas que tenho aí para resolver. Também entendo que há situações no concelho mais urgentes. Devemos ser pessoas honestas e de bem. Atravessamos um momento de crise e contra isso ninguém pode lutar, por mais boa voante que tenha a Câmara e a Junta de Freguesia. Provavelmente há 10 anos era mais fácil ser presidente de Junta já para não falar de ser presidente da Câmara Municipal.

CBS -Qual a realidade da freguesia em matéria de saneamento básico?
NC
– Esta matéria tem sido um dos cavalos de batalha da freguesia. Neste momento, estamos em condições de garantir que uma das partes da freguesia que não era abrangida pela rede de saneamento, que era a zona do Bairro do Lagar, nas traseiras do LIDL terá o problema resolvido em breve. Fica a faltar a zona das Carvalhinhas, na EN17, mas também sabemos que não se pode fazer tudo ao mesmo tempo.

No que respeita ao bairro do Lagar, endereço os maiores agradecimentos ao presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, que sempre nos ouviu e nunca nos disse que não. Ainda não há uma data definida. O projeto está feito e tenho garantia do presidente que a obra é para arrancar em breve. Sentíamos que nos faltava uma obra marcante e aquela era a nossa pretensão maior. Chegámos a pedir ao presidente da Câmara para não fazer mais nenhuma obra em S. Paio de Gramaços, mas para nos fazer o saneamento básico. É um bem necessário e aquela zona é problemática. Ali escorrem esgotos a céu aberto. É uma situação que abrange perto de 80 pessoas. Mas o que importa não é o polímero de pessoas, mas sim disponibilizar condições condignas. Aquela zona já merecia e tem sido uma luta das pessoas que lá residem. Temos a garantia da Câmara, o que nos deixa satisfeitos e com a sensação de dever quase cumprido.

CBS– Como avalia o relacionamento e trabalho conjunto entre a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal?
NC –
Nunca senti daquela porta para dentro qualquer barreira à cor política. Tenho as melhores relações possíveis com o presidente da Câmara Municipal, que é uma pessoa extremamente aberta e comunicativa, gosta de ouvir o que temos para lhe dizer… o que não significa que haja sempre consenso. Mas a nível de relações, nunca senti qualquer discriminação. E devo louvar o trabalho do professor Daniel Costa que tem sido incansável no apoio às juntas de freguesia. O presidente da Câmara até já me disse que falo mais com o professor Daniel, do que com ele. E é verdade, porque ele está sempre disponível para nos atender e ajudar. Foi uma aposta ganha do município.

“Se me recandidatar será pelo PSD”

CBS– Esta é a sua primeira experiência autárquica. Valeu a pena?
NC
-Vim um bocadinho às cegas para esta vida. Na altura fiquei hesitante em aceitar o desafio. Mas garanto-lhe que superou as minhas expectativas e acho que valeu a pena, embora consciente de que nem sempre fiz tudo bem feito. Confesso que me sinto mais enriquecido, com outra experiência de vida…

CBS – Em caso de a junta de Freguesia se manter, uma recandidatura poderá estar dentro dos seus planos?
NC
– Mentia se dissesse que ainda não tinha sido convidado para um novo mandato pelo PSD. Mas não dei resposta nenhuma. Fiquei de equacionar. Não fecho a porta, mas há muitos fatores que têm que ser ponderados. Eu sou muito frontal e a quem me convidou disse, logo, aquilo que tinha que dizer, porque eu falo pouco, mas digo aquilo que sinto. Já sabem o que eu penso.

CBS – Identifica-se com o trabalho da atual Comissão Política de Secção (CPS) do PSD?
NC –
Não me quero alongar muito sobre o assunto, porque estou aqui a falar da Junta de Freguesia. Mas, se porventura esta freguesia continuar e eu me recandidatar, as primeiras pessoas a saberem da minha decisão vão ser as que me acompanham no executivo. Na CPS há pessoas que já conhecia. Não conhecia o professor António Duarte. Já falámos e cada um tem a sua visão dos acontecimentos e vamos aguardar. Mas, também devo clarificar o seguinte: se algum dia fui presidente de junta foi pelo PSD e se me recandidatar será pelo PSD, independentemente de todas as divergências e posições contrárias que eu possa ter.

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