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Figuras: Paulina Fonseca

… conterrânea do “Cantinflas” – o actor de quem sou fã! Esta menina, de sensibilidade à flor da pele, sorriso bonito, culta, de escrita fácil e cuidada, luta contra uma disfunção alimentar de há uns tempos a esta parte, doença “chata”que há-de ser vencida, não tarda… Como apresentação num blog, escreveu: “Pouco tenho a dizer sobre mim, apenas que sou uma rapariga simples que quer viver com intensidade cada pedacinho de vida”. Assim será!

A Paulina tem apenas dezassete anos de idade mas mostra maturidade suficiente para relatar a sua odisseia sem pruridos de qualquer espécie, consciente de que a sua luta pelo retorno ao equilíbrio físico há-de chegar pela via emocional. Os fármacos “só” dão uma ajuda; importante, também, é o ambiente familiar – afiança que se sente acarinhada, mimada quanto baste. A família mais chegada é a rectaguarda segura que nunca lhe nega apoio incondicional.

Enquanto aluna da Escola Secundária de Oliveira do Hospital, nada se aponta à Paulina, bem pelo contrário. Frequenta o 11º ano, apesar de alguns contratempos com a saúde, é boa aluna; de relacionamento fácil com as colegas, encontra no convívio com as demais o aconchego da atenção e isso, no caso, é uma espécie de placebo para a sua doença que começou a apoquentá-la já passaram uns tempos….

Como adolescente, gosta de cuidar da sua imagem. Com um metro e setenta de altura, nesse tempo recuado, o seu peso rondava os noventa quilos, nada de muito exagerado, convenhamos, mas as ideias que comandam a moda levaram-na e reduzir drasticamente a alimentação, a ponto de ficar com um distúrbio alimentar e à beira da anorexia.

– “Não como muitos doces, mas às refeições comia bem e repetia quase sempre. Vim do México com 9 anos, habituada a outro estilo de vida, até nos horários das refeições. Cá, é diferente, habituei-me a tomar o pequeno-almoço, engordei um pouco, de facto, mas só pensei em dietas quando era mais velha porque nem sempre encontrava os meus números quando ia comprar roupa. Na escola só me sentia triste quando os meus colegas brincavam comigo por ser estrangeira, nunca por ter uns quilitos a mais.

“Somos aquilo que somos e não o que pensamos ser”

“Nunca tomei nada para emagrecer; um dia conversei com a minha mãe sobre o meu problema e fomos ao médico de família, que aconselhou sobre os métodos que devia utilizar para estar equilibrada. Há dois anos – pesava uns sessenta quilos – a minha melhor amiga foi para a América e o nosso grupo de amigos desfez-se, cada um para seu lado, e isso custou-me bastante. Entretanto, arranjei um namorado que não se integrou no grupo e isso também contribui para me manter mais afastada ”.

“Em Dezembro morreu a minha amiga Elsa e então foi difícil suportar o desgosto; o meu sistema nervoso alterou-se e comecei a comer, a comer…Depois, comecei a reduzir e a emagrecer bastante A minha mãe andava preocupada comigo, não sabia que fazer, voltei ao médico, pensava-se que estava a ficar anoréctica, porque não parava de emagrecer…. Marcaram-me consulta externa em Coimbra, nos Distúrbios Alimentares, mas nunca mais era chamada. Então, um dia fui às urgências e aí conheci dois psiquiatras que me medicaram. Só fui à consulta da especialidade em Dezembro do ano passado”.

“A partir daí passei a estar acompanhada por dois psicólogos. Nessa altura pesava 45 quilos”!

Paulina fala como escreve: rigorosa nas palavras, sem pressas. Consciente dos caminhos que trilhou de forma quase inconsciente, procura voltar à normalidade do dia-a-dia. Resume a sua estória destes últimos anos de forma simples porque é “uma rapariga simples que quer viver com intensidade cada pedacinho de vida”.

Alerta os pais para os “…perigos que podem surgir quando menos se espera…” e deixa recados em caixa alta:

– “O que posso dizer às meninas da minha idade, mesmo mais novas, é: não devemos levar as coisas muito a sério, ir de extremo a extremo nas convicções sobre a estética. Quem gosta de nós, gosta por aquilo que somos e não por aquilo que pensamos ser”.

Sem dramas, mas ciente de que é necessário vencer algumas etapas para atingir a almejada meta, Paulina não abdica de manter todos os sonhos bem vivos; possivelmente depois do ensino secundário segue para Biologia…

Do seu México distante guarda recordações de criança, que a marcaram, apesar da tenra idade com que veio para Portugal, na companhia da mãe.

– “Lá vive-se com outra alegria, era sempre uma festa lá em casa, e a escola também era diferente. Tenho lá o meu pai, alguma família e amigos que nunca mais vi…”.

Por cá, incomoda-a o frio, sobretudo este Inverno:

– “Na escola tenho o apoio dos professores, das minhas colegas, mas quando está demasiado frio, nos intervalos, vêm todas para o recreio e eu fico sozinha no bar, o que é aborrecido. Tenho de me preocupar com a saúde…”.

Oliveira do Hospital estava na rota da família porque o avô é de Vilela e agora, para todos os efeitos, Paulina já se considera, estou certo, “oliveirense” de alma e…e pelo coração.

Respigo do seu blog:

“…Cada letra, cada palavra, cada frase, cada parágrafo, escritos pelo meu subconsciente, levam-me a um mundo onde tudo se torna perfeito e incrivelmente real. Por vezes pode-se tornar perigoso, devido a tanta ilusão, mas ao mesmo tempo inofensivo, pois não passam de simples sonhos que são criados apenas para nos tornar a vida um pouco mais leve, já que a vida real, além de bela, por vezes também se pode tornar num pequeno pesadelo…”

Carlos Alberto

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