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Haiti e a Banca

Só o presidente venezuelano, Hugo Chaves, afirmou que o sismo que devastou o Haiti foi causado pelo teste de uma arma da Marinha norte-americana (Diário Económico, edição de 22.01)!

O anti-americanismo primário tem destes disparates, similares, aliás, aos disparates que vejo escritos no on-line do CBS sobre a nossa Indústria de Confecções e respectivos empresários.

Também, aquando do terramoto financeiro, os banqueiros americanos, primeiros responsáveis da tragédia, se igualaram no disparate a Hugo Chavez ao declararem, no Congresso americano, que a crise financeira foi resultante de “um furacão que ninguém poderia ter previsto” (declarações de Lloyd Blankfein, presidente do Goldman Sachs)!

Realmente, nenhum dos banqueiros americanos ou portugueses tiveram a capacidade de imaginar a crise antes de nela nos terem metido! Sim, meteram-nos nela e, descaradamente, apelidaram-na de fenómeno natural e, como tal, imprevisto!

Ultrapassada a crise deles, com os dinheiros públicos, eis que, quer os banqueiros, causadores da desgraça, quer os Bancos Centrais, igualmente responsáveis por terem deixado sem regulamentação os movimentos dos banqueiros, aparecem de novo com a arrogância habitual, arrotando postas de pescada depois de nos terem chupado até ao tutano!

É vê-los a retornarem aos lucros,limitando o crédito às pequenas e médias empresas, aumentando os juros ou “mexendo” nos movimentos bolsistas, como se verificou logo após as declarações do Presidente Obama de que iria limitar os salários e benefícios da banca.

O banco Goldman Sachs anunciou lucros de 4,95 biliões de dólares no quarto trimestre de 2009 e para o Banco Espírito Santo, segundo a revista Sábado de 25.01, estima-se que o resultado líquido do último trimestre do ano seja de 118 milhões de euros, o que representa um crescimento de 73,5% face ao período homólogo.

Paralelamente, assistimos ao empolamento de notícias como a quebra das acções bolsistas, o clima de incerteza do sector bancário, a redução de mordomias concedidas a ex-gestores do BCP (DN de 25.01) e até o congelamento dos salários dos gestores públicos, acabado de anunciar pelo governo.

Continuam a tomar-nos por papalvos !!!
Mas, obviamente, esses “olhos azuis”, como lhes chamou Lula, não vão ficar impávidos e serenos. Senão, vejamos como os média nos “informam abundantemente” da quebra de popularidade de Obama, da falta de recuperação do emprego nos EUA, das alterações cambiais do dólar, do aumento do desemprego no nosso País, da violência e agitação social, da continuidade de falências e encerramentos fabris.

Tudo de uma forma mais silenciosa que as bombas dos extremistas no Paquistão, mas mais difíceis de vencer que a Guerra do Afeganistão.

Claro que os média não deram o mesmo relevo às declarações de Paul Krugman, prémio Nobel da Economia, que escreveu:

… Agora que o Congresso e o governo estão tratando de reformar o sistema financeiro, deveriam ignorar os conselhos provenientes dos supostos sábios de Wall Street, que não têm nenhuma sabedoria a oferecer.

Obama está tentando fazer mudanças na regulamentação bancária americana. E, nós por cá, o que fazemos?

Deixamo-nos envolver em discussões sobre questões menos prioritárias, como o casamento entre homossexuais, ou em desgastantes lutas internas partidárias, incompatibilizando-nos com vizinhos, amigos e colegas, fragilizando-nos para o combate contra os autênticos “ talibãs” bem armados, que nos mexem, facilmente, na parte mais sensível do nosso problema: o nosso bolso!

A crise financeira por que estamos a passar não foi um acto divino mas sim consequência de actos de homens e mulheres incompetentes, corruptos e imorais!

Não nos deixemos convencer sem que, primeiro, tenhamos compreendido!

Carlos Brito
S. Paulo, Janeiro, 25, 2010

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