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Júlia Fonseca

e da paixão um modo de estar na comunidade, que serviu (e continua a servir!) de forma única e exemplar. A dedicação e pioneirismo na Liga Portuguesa Contra o Cancro granjearam o reconhecimento da Instituição, dos doentes, e do público anónimo. Bateu a “todas as portas” na busca de ajudas e soluções para a causa que fez sua. – quase todas se abriram de par em par!

Em Janeiro passado Júlia Fonseca colocou ponto final no voluntariado a que se entregou de alma e coração durante mais de trinta anos, mais ano menos ano, porque nunca fez contas ao tempo que dedicou (e dedica!) ao próximo.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro foi a sua causa maior e por ela se empenhou com denodo. Agora, é tempo de fazer balanço; para si, o que ficou por fazer no concelho de Oliveira do Hospital não lhe cala a voz, sempre reivindicativa de uma Unidade de Dor no Hospital da Fundação Aurélio Amaro Diniz, e de mais e melhores atenções para os doentes do Cancro.

Do que foi feito, por si e restantes elementos que compunham o grupo de trabalho, em prol da Liga e dos doentes, existe o acervo de documentos que testemunham a importância do amor solidário por quem sofre.

– “Sempre fui uma pessoa polémica – conta – porque nunca calei as minhas dúvidas e sempre procurei conhecer, junto de quem de direito, as razões de meses de atraso nos tratamentos, depois de ser detectado um cancro, e outras situações que não me pareciam certas. Fui incómoda quando necessário, exigente, sem dúvida, comigo e com os outros, mas nunca me coibi de dar voz aos que não a têm. Agora entendi ter chegado a hora de me retirar…”.

O local escolhido para comunicar de viva voz a sua decisão, foi a Casa da Cultura César de Oliveira, durante uma mesa-redonda sobre cancro da mama, do colo do útero, do cólon e do recto, que contou com a participação de médicos especialistas em Oncologia, entre outros convidados.

Mais do que recuar nas memórias, importa saber do futuro de uma grande senhora de rija têmpera “…sem idade”, como diz, que carrega nos ombros a enorme responsabilidade do exemplo a seguir. No discurso do “adeus” passou o testemunho a Alice Vieira e Luísa Miranda porque, escreveu, “… sei que vão fazer o melhor e que todos as vão ajudar…”. Sobre si, acrescenta: –

“…Eu vou rever-me na continuidade da minha alma (…) e quando entender que posso dar o melhor de mim, isto é, quando tiver mais serenidade no coração, gostaria de exercer voluntariado no nosso Hospital, numa Unidade de Cuidados Paliativos, de que tanto se fala…”.

“Todo aquele que sofre é meu irmão”

 

Conversar com a amável anfitriã é um exercício de elevado sentido solidário, que nos transporta para o universo dos mais desafortunados. O modo como expõe os seus pontos de vista sobre a nossa obrigação social para com os doentes do cancro, é uma espécie de viagem de amor pelo próximo no silêncio dos corredores e enfermarias dos hospitais.

– “A nossa obrigação, enquanto voluntários da Liga, é acompanhar os doentes e fazer tudo quanto estiver ao nosso alcance por eles; não são apenas os peditórios e outras iniciativas de angariação de fundos que nos levam ao voluntariado. Nestes anos todos fiz muitos amigos no Instituto de Oncologia em Coimbra, que mantenho, e não é pelo facto de ter deixado a Liga que não serei útil a quem precisar dos meus préstimos. Ajudar o meu semelhante é uma “coisa” que está dentro de mim, mas começamme a faltar forças…”.

Quando lhe pergunto o que a levou a dedicar-se ao voluntariado, procura uma folha solta de um jornal, datado de 2003, e cita:

–(…)”Lidar com um doente é sofrer muito, mas o bem que se faz às outras pessoas faz-me feliz e reflecte-se no que eu sou também como pessoa (…); todo o carinho e todo o apoio que eu presto aos outros, vem-me do tempo que lhes dedico”.

Salão de cabeleireira “Marcel”

Há quarenta anos, Oliveira do Hospital teve o seu primeiro salão de cabeleireira, propriedade de Júlia Fonseca.

Viajou pela Europa em busca de novas técnicas e outros conhecimentos que lhe garantiram, durante anos, pioneirismo absoluto na profissão que abraçou com paixão – a paixão é, na verdade, o maior dos sentimentos que coloca ao serviço de todas as causas, incluindo o casamento com Fernando da Fonseca, que recorda com ternura e saudade pelo apoio sempre presente. O matrimónio trouxe-lhe o Carlos Augusto e a Lígia Margarida, dois filhos que são, também, duas das suas paixões.

Júlia Fonseca nasceu em Penalva de Alva, viveu e estudou no Barreiro, mas Oliveira do Hospital sempre foi o seu porto de abrigo no regresso de todas as viagens. De Barcelona guarda recordação única porque foi lá que ganhou um dos prémios mais honrosos da época, como profissional na “arte de pentear”: um “D. Quixote” de ouro.

Carlos Alberto

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