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O atestado. Autor: Fernando Roldão

Um atestado é uma declaração feita por testemunha ou por quem tem a certeza da circunstância, escrita e assinada por alguém ou entidade, que certifica a veracidade de um facto para fins jurídicos ou morais.

Praticamente todos nós já precisámos de um atestado no nosso percurso de vida e daí não pensarmos muito em outros tipos, com que nos têm presenteado há algumas décadas a esta parte.

Em quase todas as línguas existem palavras importadas, também conhecidas por estrangeirismos e nós na nossa temos muitas e variadas provas disso no nosso quotidiano.

Os portugueses na tentativa de dignificar o local onde realiza a sua higiene pessoal, as suas necessidades fisiológicas, chamaram-lhe casa de banho.

Afinal é um local para se banhar ou também inclui uma latrina, uma retrete, vaso sanitário ou uma sanita?

Vou voltar aos estrangeirismos que ultimamente têm entrado na nossa língua, por força da informática e dos computadores, porque, afinal, os “descobridores” destas não falam o nosso idioma e nós, na ausência de tradução, por preguiça ou por snobismo, as adoptámos.

Há alguns anos passámos a escutar uma palavra inglesa (bullying) para classificar uma intimidação vexatória e violência escolar, que não é mais do que usar a força física ou coerção, para intimidar ou dominar, agressivamente outras pessoas de forma frequente e habitual.

Afinal já tínhamos palavras para definir esta situação, mas é mais” erudito” usar a palavra inglesa, dando provas de ser um cidadão actualizado.

Muitas mais palavras e situações eu poderia aqui descrever, mas vou focar-me na última, a ser utilizada, com pompa e circunstância, pelo primeiro ministro de Portugal, corroborada pelo senhor presidente da república.

A palavra inglesa tem maior impacto na sociedade portuguesa e todos sabemos porquê, pois até parece que foi uma invenção actual e da lavra governamental, para cortar o mal pela raiz de uma epidemia que surgiu vai para cinquenta anos e que ainda está longe de ser erradicada das nossas vidas; o compadrio.

A palavra em questão, “Vetting”, que na língua de Camões, quer dizer, processo de verificação antes da contratação de alguém para um lugar de chefia de uma empresa ou para um cargo público, seja em que área for, para atestar a honestidade e qualificações dos propostos.

Já vários países adoptaram esta medida, mas o nosso primeiro-ministro, que tem nomeado, a eito, os seus ministros, secretários de estado ou directores gerais, encontrou uma fórmula de sacudir a água do seu capote, querendo passar a responsabilidade para outros ou para os nomeados, tomando um ar de inocente.

Foi deprimente o diálogo entre os órgãos de soberania, tentando encontrar um bode expiatório para erros graves e lesivos praticados contra as instituições.

Creio que ninguém fez o “vetting” ao senhor Costa, pois na edição do Correio da Beira Serra de 26 de Junho de 2021, fiz referência ao incumprimento das suas promessas eleitorais.

O povo, dirão os cegos e inebriados seguidores destes dois senhores, esquecendo um pormenor que faz a diferença; a maioria do povo não tem acesso a estas informações.

Um chefe é responsável pela contratação dos seus funcionários e se num ou outro caso se tenha enganado, tem sempre a possibilidade de corrigir o erro e proceder à mudança.

Será um chefe competente, porque corrigiu o erro e admitiu o seu engano, mas uma dúzia, é um verdadeiro atestado de incompetência.

Estes erros têm consequências políticas e financeiras, que urge clarificar, pois as financeiras estão visíveis no bolso do povo e na sua baixa qualidade de vida, mas quanto às políticas, o senhor Costa deveria pedir a demissão, por ter permitido tanto desmando, assumindo a sua culpa nas nomeações que efectuou durante a sua gestão.

Será que os portugueses acreditam que o senhor não sabia destes problemas, que se transformaram em incompatibilidades, porque afinal são todos do mesmo partido e já se conhecem há muitos anos?

As três palavras, casa de banho, são mais melodiosas do que retrete, mas no fundo, ambas significam a mesma coisa.

Estamos condenados a andar a limpar casas de banho que os outros sujam, ainda por cima a pagar bem caras estas limpezas.

Os leitores do Correio da Beira Serra tiveram a oportunidade de ler a carta aberta que escrevi ao senhor primeiro-ministro, no dia 24 de Julho de 2021, mas que o mesmo não leu.

Já chega de tantos atestados de estupidez passados ao povo português.

 

 

 

Autor: Fernando Roldão

Texto escrito pelo antigo acordo ortográfico

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