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Não sou daqueles que acha o país uma verdadeira miséria, um atraso que nos envergonha. Daqueles que passam o dia a gritar que “lá fora é que bom”.

 

O País…

 

Acho mesmo que esse desporto nacional, que agrada a grande parte dos portugueses, de criticar o país e elogiar o estrangeiro sempre que fazem uma viagem a Badajoz é manifestamente ridículo e saloio. Portugal tem tantos defeitos e virtudes como qualquer outro dos seus parceiros europeus, como qualquer outro país do mundo.

Agora, os acontecimentos dos últimos tempos, em Portugal, começam a fazer-me duvidar que assim seja. Começo a questionar se não sofremos de algum tipo de alucinação colectiva que nos está a emparvecer.

As minhas dúvidas começaram com as manifestações exageradas e muitas vezes ridículas de apoio à Selecção Nacional de Futebol. Se percebi perfeitamente a recepção que foi oferecida aos jogadores nacionais à chegada à Suiça, já que se tratou, antes de mais, de uma manifestação de Portugalidade de portugueses que estão longe do país. Não entendo a exaltação colectiva que endeusava jogadores, antes de sequer tocarem na bola, Campeões da Europa. Não percebi essa ébria euforia num país que se afundava nos elevados preços de combustível e que paralisava com a greve das transportadoras.

O acontecimento seguinte a espantar-me foi o Presidente da República a referir-se ao Dia de Portugal como o Dia da Raça. Primeiro fiquei a questionar-me a que raça é que o Senhor Presidente se queria referir em tempo de Europeu de Futebol. À falta de raça do Cristiano Ronaldo para ultrapassar os adversários? Ou à raça do Bosingwa, do Quaresma ou do Petit. Mas que raça Senhor Presidente? Depois, fiquei ainda mais estupefacto com a crise saudosista da esquerda na crítica ao Presidente, mais parecia querer retornar ao verão quente, dando uma vez mais prova do seu perigo e perigar ideológico.

De seguida é a EDP a dizer que quer os clientes cumpridores a pagar as dívidas dos caloteiros, o que de tem tanto de estúpido e ilegal que nem merece comentário. Depois, o ex-Presidente do Benfica, Vale e Azevedo, a passear-se alegre, luxuosamente e a fazer escárnio da justiça portuguesa em Inglaterra.

Por último, temos a reunião fantasma do Conselho de Justiça da Federação e o arquivamento do caso Madeleine McCann. Será possível que o órgão jurisdicional da FPF, entidade com estatuto de utilidade pública desportiva, delibere de forma clandestina? Ou pior, que o caso que colocou os olhos do mundo sobre Portugal e a sua justiça acabe com um arquivamento sem que ninguém tenha a mais pequena noção do local onde está ou possa ter estado a criança que desapareceu? Em Portugal, infelizmente, parece que é possível!!!

Quem deve estar arrependido de ter interrompido a sua actividade humorística é o quarteto dos Gatos Fedorentos. É que o material humorístico começa a ser tanto que qualquer dia até o Herman se arrisca a voltar a ter piada.

Luís Lagos
Jurista

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