Os temas das conversas, neste momento, giram à volta de um palco ou algo mais do que isso.
Todos temos o nosso palco, onde representamos a peça intitulada “ A vida”.
Uns são excelentes actores e conseguem brilhar em qualquer palco, outros nem com bons palcos conseguem atingir esse objectivo, logo este não interfere em nada na representação.
Viro-me para todos os lados e o tema das conversas é o palco, tablado ou estrado, que custará milhões e onde se passará algum facto imponente ou trágico.
O local onde actuam, cantores, artistas, actores, grupos de dança, conjuntos musicais e outros, é um palco e há-os de diversos tipos, tais como italiano, semi arena, julial ou elizbetano.
Não vou descrever as características de cada um, mas o denominador comum, é o espectáculo.
Eu pisei muitos palcos durante a minha vida e na maior parte das vezes, eram em bom estilo português, construídos com paletes, caixas de cerveja, em camiões ou numa qualquer saliência mais elevada do terreno, com os pés em cima de um tapete natural.
Os materiais com que foram construídos, eram de somenos importância, porque os meus objectivos, foram, na esmagadora maioria, atingidos.
A simplicidade humilde que existia entre o artista e o publico, eram meio caminho andado para criar um clima de boa relação, entre todos.
Estar em cima de um palco, é passar uma mensagem, transmitir alegria ou apregoar desgraças, que num cenário imponente, até parecem verdadeiras benesses.
No tempo dos romanos existiam anfiteatros, sem luzes, amplificadores, camarins e as mensagens passavam para os presentes, sendo estas, o eco para os ausentes.
Se atentarmos bem na situação e função de um palco, chegamos à conclusão de que um cadafalso também está incluído neste item, pois serve para dar destaque a uma cena macabra.
Não é o luxo, nem a opulência que são importantes para divulgar mensagens, doutrinas ou o que lhe queiram chamar, pois o que conta, é mesmo o conteúdo e a performance do artista.
O mundo vive momentos sociais muito graves e onde as desgraças alheias, são sobremesas muito doces para umas elites, que sugam, até ao tutano as vítimas na sua gula desenfreada.
Infelizmente, a maioria dos palcos construídos neste mundo, servem, não para apaziguar o ser humano, mas para o injectar com sangue gelado, comandar as hostes e fazer vista grossa aos reais problemas da raça humana, alimentando o virtual.
São muitos os exemplos que demonstram para que servem a maioria dos palcos.
Infelizmente para o grosso da humanidade, alguns ilustres e donos dos sistemas políticos que regem a nossa vida, confundem, virtude com riqueza, solidariedade com espectáculo e mais grave, é que confundem palco com altar.
Um altar é uma plataforma, mais alta, semelhante a uma mesa, construída em cima de uma rocha ou outra estrutura, que possibilite ao sacerdote, líder ou mentor espiritual, orar às divindades, tornando o local num templo religioso ou local sagrado.
Acontece que em Portugal existe, na doutrina dos católicos, um local, que até lhe chamam pomposamente, altar do mundo.
O mero cidadão fica perplexo perante estas antagónicas situações, que são o pão nosso de cada dia, pois vão construir um luxuoso palco, quando já existe, um imponente altar.
Um altar tem mais a ver com a visita de tão ilustre personagem, do que um palco.
O altar está feito, custou dinheiro, tem manutenções, logo os custos são menores e está muito mais ligado à fé, do que um palco, construído, para inglês ver e de contornos confusos.
A fé não se mede em áreas, custos e toda a panóplia de acessórios, que não ajudam em nada a construi-la ou a disseminá-la.
O povo ouve constantemente doutrina e política, que não dá, a quota com a perdigota.
Pede-se humildade, humanidade, solidariedade e amor.
São precisos tantos milhões para construir algo que irá ficar ao abandono?
Basta ver os exemplos que temos com os estádios de futebol, que custaram os olhos da cara ao Zé, recebendo este, em troca, uma esmola que nem chega para atenuar as suas carências.
Vou terminar esta minha crónica, levantando uma questão; porque não distribuir pelas famílias portuguesas, carenciadas, o que irão gastar com esta monstruosidade, dando aos pais um bom palco, em cada lar, para que estes pudessem ensinar a verdadeira doutrina cristã?
Assim seria uma verdadeira jornada da juventude, vendo-a crescer com uma melhor qualidade de vida e onde a mensagem teria um fértil campo para medrar.
Autor: Fernando Roldão
Texto escrito pelo antigo acordo ortográfico