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O último latoeiro de Avô…

O último latoeiro de Avô…

Quando tinha 11 anos, a vida levou-o a aprender a engenho da latoaria numa oficina de familiares. Corria o ano de 1951. António Costa dedicou-se com paixão à arte. Aprendeu, entre outras coisas, a fazer almotolias, funis e regadores. Era uma actividade concorrida. Só a Vila de Avô, por aquela altura, contava três oficinas que davam trabalho a cerca de uma dezena de pessoas. Aos 18 anos resolveu experimentar outras aventuras, mas nunca perdeu o gosto e a paixão pela latoaria. E regressou à arte após a reforma. Hoje, com 73 anos, é o único no local e dos poucos por esse país fora. E não vê quem queira aprender. “Gostava de ter uma espécie de escola na minha oficina e ensinar gratuitamente”. Mas os jovens não se interessam, nem as autoridades locais que, em sua opinião podiam fazer mais pela divulgação daquela tradição.

Recorda com nostalgia os tempos em que os artefactos que saiam das oficinas eram muito solicitados. “Naquela altura, toda a gente recorria a estes produtos, não havia ainda a utilização intensiva de plásticos”, conta.

Gostava da arte. Mas aos 18 anos não resistiu à tentação de descobrir novos horizontes e partiu para Lisboa. Para trabalhar em pastelarias, uma aposta forte das pessoas daquela localidade do concelho de Oliveira do Hospital que por lá se tinham estabelecido com êxito. Partiu. Dedicou-se à nova arte. “Trabalhava muitas horas, mas também ganhava bem, recebia mais que um bancário”, refere. A aventura durou onze anos, antes de regressar às origens, que era onde se “sentia bem”.

António Costa não regressou à antiga actividade. Abriu um supermercado. Foi a sua ocupação e da esposa durante anos. Até à reforma. Depois, sem nada para ocupar o tempo, não resistiu e recomeçou como latoeiro. Com 67 anos não foi fácil. Montou uma oficina com as mesmas ferramentas de antigamente. “Ainda andei a patinar por algum tempo. Estraguei muita peça. Mas rapidamente lhe ganhei o jeito e relembrei tudo o que tinha aprendido”. E lá vai fazendo os produtos como manda a tradição. Alguns deles com resultados de fazer inveja à aos utensílios mais modernos. “Sabe o que é uma bailarina”, questiona. “Não? Nem eu sabia até me chegar aqui um indivíduo a perguntar se lhe fazia uma. Nunca tinha ouvido falar, mas disse-lhe que se me mostrasse uma por certo faria. Lá consegui. É um artefacto curioso para aquecer água. Com isto, [mostra uma peça] um jornal dá para aquecer cinco litros de água”, conta orgulhoso.

O negócio já não é suficientemente rentável para se viver exclusivamente dele. Mas este latoeiro acredita que o “pessoal, que agora só trabalha oito horas por dia, podia ocupar o resto do tempo a fazer algo de útil”. “E seria sempre um suplemento”, diz. O futuro? “Vai acabar por se perder esta tradição. Só conheço outro por aqui perto, Penacova, que ainda é meu primo direito. Existe também um em Penalva do Castelo que tem o apoio da Câmara. São eles que lhe oferecem a logística necessária para se deslocar pelas feiras”, conta. António Costa não teve a mesma sorte e as mostras que faz são poucas. “Mandei uma carta para a Câmara, mas a resposta que recebi foi para aparecer por lá para a gente conversar. Não gostei, notei que não havia aquela vontade. Nunca mais me disseram nada. Ainda bem. Não quero nada com políticos. Gosto muito da minha independência”, resume, deixando um apelo aos jovens em jeito de conclusão: “quem quiser aprender pode vir ter comigo, terei todo o gosto em ensinar”. É só aparecer pela Latoaria Artesanal António Alves da Costa, em Avô.

 

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