O candidato da CDU à Câmara Municipal de Oliveira do Hospital não poupa nas críticas que dirige ao aos seus adversários nas autárquicas de 29 de setembro. Sem deixar de acusar Alexandrino e o PS de não optar pela mobilização popular por “culpas no cartório”, João Dinis aponta baterias sobretudo aos candidatos do PSD e CDS-PP que “não merecem um único voto”.
Correiodabeiraserra.com– Atendendo ao reduzido número de votos alcançado em anteriores candidaturas que protagonizou à CMOH, o que o leva a entrar de novo na corrida à presidência da autarquia?
João Dinis – A candidatura da CDU em que sou cabeça de lista justifica-se por todos os motivos. Desde logo, porque é assumirmos o nosso direito democrático de apresentar uma candidatura. Também porque queremos contribuir no debate com as nossas propostas como uma verdadeira alternativa quer à atual Câmara do PS, quer às candidaturas do PSD e CDS-PP. Queremos contribuir com propostas que desçam ao concreto, que falem de um projeto de desenvolvimento do município e melhoria das condições de vida e de trabalho e não apenas para a luta de galos, de personalidades, em que há muito ruído e não se fala de propostas concretas. Queremos contribuir com debate com conteúdo e não com ruído.
Queremos igualmente denunciar que aquilo por que as pessoas estão a passar e que é consequência das políticas de direita, de desastre nacional de governos do PS, PSD e CDS-PP. A CDU pretende falar nessa situação e denunciar as políticas das troikas que estão a levar à ruína dos portugueses e que tem implicações diretas na atividade autárquica, como por exemplo, a redução brutal das verbas provenientes do Orçamento de Estado para as câmaras e freguesias, que impede a realização de obra e dá cabo da nossa vida diária nas freguesias e no concelho.
Cbs.com – É conhecido o bom relacionamento que mantém com o atual presidente da Câmara e recandidato pelo PS. Ao candidatar-se pela CDU, está de alguma forma a mostrar um cartão vermelho ao trabalho e às opções tomadas por José Carlos Alexandrino?
JD – O presidente e recandidato tem o seu projeto, que não é às vezes coincidente com o do PS. Na CDU temos proposto visões diferenciadas das que têm sido seguidas e que teriam melhores efeitos quer em obra física, quer em posicionamento institucional.
Cbs.com – O que é que deveria ter sido feito e não foi?
JD – Há uma situação geral do município que não está a ser encarada com a firmeza estratégica que deveria ser: o abastecimento de água e o saneamento público em todo o concelho. É um problema estratégico número um, da direta responsabilidade da Câmara e consequência de opções anteriores erradas, com as quais a CDU esteve em desacordo. Eu votei contra na Assembleia Municipal no que respeita à concessão à Águas do Zêzere e Côa. Não é que sejamos bruxos, mas a forma como analisamos as coisas e a nossa experiência levou-nos a concluir que iria ser desastroso. E está a sê-lo para o município e uma ameaça muito grande para as pessoas. Neste momento, a Câmara já paga a água ao preço que estava previsto pagar em 2030. Agora, a Câmara tem duas opções: ou faz repercutir sobre as famílias os custos todos e vai dar cabo da vida das pessoas, ou paga o diferencial como já está pagar e que custa mais de um milhão de euros às finanças municipais. Este executivo ainda não estudou alternativas à atual situação e neste momento está entalado e encostado à parede.
Este executivo também não cumpriu com a construção de refeitório e sanitários para os trabalhadores exteriores da Câmara Municipal. Isso constava do programa e não foi cumprido.
Um traço positivo foi o protocolo com as Juntas de Freguesia que os anteriores executivos do PSD sempre se recusaram a fazer de uma forma irracional. Este executivo resolveu fazer, mas ficou aquém das expectativas.
Há contudo uma situação que achamos que não está a ser transparente. A participação da Câmara Municipal nalgumas empresas externas. A Câmara está a deixar-se parasitar por algumas dessas entidades. É mau para a Câmara porque despende de dinheiros públicos que, por esta altura, vão rareando e é mau para essas entidades – a BLC3 por exemplo – porque se habituam a mamar. Também não é transparente a adesão de colaboradores por essas entidades. Não basta à mulher de César ser séria é preciso parecer. Ainda agora, este negócio de voltar a adquirir o direito de superfície da Acibeira pode voltar a ser um mau negócio.
Cbs.com – Continua a não acreditar na BLC3?
JD – Gostaria de acreditar. Tal como já há anos gostaria de ter acreditado na própria Acibeira. Logo na altura dissemos, ainda antes de ser construído, que ia ser um elefante branco. E agora no atual contexto de dificuldades financeiras, neste ambiente venenoso para atividade empresarial, receamos que essa entidade mais não esteja a ser do que sorvedouro de dinheiros públicos, sem contrapartida para o concelho e para a região.
Cbs.com – Foi uma má opção?
JD – Compreendemos que o executivo tente fazer coisas, mas pura e simplesmente as prioridades não estão a ser bem definidas. Tenha-se em conta que agora o executivo está a colocar relva sintética no estádio Municipal de Oliveira do Hospital. Na atual situação, tendo relva natural, tenho dúvidas de que a sintética seja boa opção. Desde logo, porque a cidade está mal servida em termos de equipamentos de desporto e lazer. Temos um Parque do Mandanelho com deficiências caricatas como a rega à mão e a falta de sanitários de acesso fácil, mas também o desaproveitamento do Parque dos Marmelos, as piscinas municipais que não têm dimensão necessária… Toda a zona do mega agrupamento precisa de ser redimensionada e reestruturada. Há a questão do transporte das crianças e é preciso um novo sistema de acesso às escolas. É a zona da cidade mais sensível neste momento e necessita de um projeto integrado que tenha em conta a despoluição da ribeira de cavalos… há ainda o velho matadouro abandonado, uma ETAR que não funciona bem. É necessário reestruturar aquela zona.
Também a zona histórica precisa de requalificação. Isto sim, são prioridades e não um relvado sintético no Estádio Municipal.
«Como é que a candidatura do PS e José Carlos Alexandrino que dá a cara por esse partido, se posiciona perante o presidente do Instituto Politécnico de Coimbra que decidiu pela extinção de mais um curso precioso e tem um papel muito grande no desmantelamento da nossa ESTGOH. O presidente do IPC é militante do PS»
Cbs.com– O que é que a candidatura CDU se propõe fazer?
JD – Para além do que já referi, é preciso também devolver as cinco freguesias ao povo e valorizar as freguesias descentralizando mais verbas. Também a defesa dos serviços públicos. Temos o problema do Centro de Saúde, com ameaça de extinção de extensões de saúde e das urgências noturnas, para que possam proliferar alguns hospitais e serviços de saúde privados.
O IC6 e Estrada da Beira necessitam de uma intervenção pública muito mais enérgica. O concelho precisa de uma rede interna de transportes públicos. É caro? Pois está bem, mas tem que haver uma saída para isso num concelho com população muito idosa.
Depois a defesa da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Oliveira do Hospital tem estado muito aquém das necessidades. Como é que a candidatura do PS e José Carlos Alexandrino que dá a cara por esse partido, se posiciona perante o presidente do Instituto Politécnico de Coimbra que decidiu pela extinção de mais um curso precioso e tem um papel muito grande no desmantelamento da nossa ESTGOH. O presidente do IPC é militante do PS. Se justamente se ataca a candidata do PSD – é uma pessoa non grata e se tivesse vergonha na cara, escrúpulo e respeito pelas população não se vinha candidatar – por contribuir para a agregação de escolas, porque é que não se há-de criticar o presidente do IPC. E tudo isto é também devolvido ao candidato do CDS que não espere que passe entre os pingos da chuva. Até lhe perguntamos o que é feito das centenas de milhares de Euros públicos que a Caule tem recebido para combate ao nemátodo e prevenção dos fogos. Eu não vejo resultados e gostaria. Aliás, ardeu no município a primeira ZIF constituída no país, a do Alva e Alvôco.
Em todas estas matérias o PS não envereda pela mobilização das populações porque tem pesadas culpas. Nos últimos 18 anos, o PS foi quase 13 anos governo – não se põe o conta quilómetros a zero – e tem culpas no pesadelo que as pessoas estão a sofrer. Não envolveu as populações na luta contra o mega agrupamento, pelo IC6, ESTGOH… Devo ainda dizer que a equipa de Alexandrino governou com uma das fações litigiosas do PSD. Também aqui a aliança à direita é clara, indo buscar um vereador do PSD. A CDU é a única candidatura verdadeiramente de esquerda.
A CDU continua-se a bater-se pela despoluição dos rios. No município de Seia já deveria haver ETAR para tratamento das águas residuais provenientes das queijarias e não há.
Também defendemos as Oliveiríades e uma bienal. São propostas que vamos mantendo. No distrito de Coimbra não se realiza uma bienal. Nós temos grandes artistas no município.
“PSD e CDS não merecem um único voto”
Cbs.com – Atendendo às medidas tomadas pelo governo PSD / CSD-PP (extinção de freguesias e agregação de escolas,…) como olha para as candidaturas à Câmara sob a bandeira daqueles partidos? Um dia chegou a usar a expressão “correr à pedrada” os candidatos daquele partido que ousassem fazer campanha na sua freguesia…
JD – As candidaturas do PSD e CDS-PP estão no seu direito democrático. Mas os próprios candidatos têm alguma responsabilidade, mas não têm a responsabilidade toda. Eles dão a cara porque querem. E quanto a isso, tenham santa paciência. Não se venham agora armar aqui em cordeiros, quando os sucessivos governos têm feito de lobo com políticas de verdadeira espoliação dos direitos do povo e património monetário e financeiro das pessoas. Estão-nos a ir ao bolso para entregar a meia dúzia de grupos económicos.
No que respeita à candidatura do PSD, a senhora deveria ter vergonha na cara, porque sabe que fez parte importante da decisão de constituição do mega agrupamento que serve para despedir professores e funcionários, prejudicar o ensino público e a aprendizagem de grande parte de crianças e jovens do município. As más consequências já se estão a fazer sentir. Até já o dinheiro dos cinco agrupamentos está numa conta da Comissão Administrativa Provisória.
O mesmo se passa com o CDS-PP. O candidato à Câmara de Oliveira está a dar a cara por um partido que é responsável por uma política de desastre nacional. E mais, há aqui algumas ligações perigosas e político-partidárias entre o candidato e o ministério da agricultura que é do CDS. Eu gostaria de ver que o dinheiro que está a ser atribuído à CAULE tivesse outras repercussões no município. É justo. O nemátodo continua. Os incêndios florestais foram violentíssimos. Sei que há algumas limpezas que estão a ser feitas.
A expressão que usei foi excessiva, mas simbólica com objetivo de dizer que na minha freguesia estamos muito desagradados pelo facto de ter sido extinta. E estou muito satisfeito com a forma como a população de Vila Franca da Beira está a reagir, porque ninguém integra a lista do PSD candidata à União de Ervedal e Vila Franca e o CDS nem sequer lá concorreu. Está já é uma paga democrática, porque o PSD e CDS não merecem um único voto.
Cbs.com – Em Meruge, a CDU debate-se este ano com uma candidatura social – democrata. Teme pela dificuldade de recondução de Aníbal Correia na presidência da Junta ou por uma maioria relativa?
JD – Não. Não tenho dúvidas que a CDU vai continuar com uma maioria absoluta em Meruge, porque a obra fala por si. Compare-se o investimento feito pela Câmara em Meruge e em Ervedal da Beira para onde foram canalizados mais de 600 mil Euros. Ainda assim, é evidente a capacidade dos merugenses e do povo de Nogueirinha re realizarem iniciativas de vária ordem. Têm capacidade de apresentar projetos e uma capacidade de intervenção muito grande junto das pessoas. A obra feita em Vila Franca e Meruge é conhecida por todos.
No que respeita a Vila Franca, o que mais me conforta foi ter estado 12 anos na Junta e não ter tido problemas com uma única pessoa. Um relacionamento recíproco que contribuiu também para a obra realizada. Porque sem o contributo dos vilafranquenses e o apoio que um conhecido benemérito deu à freguesia, durante um período, era impossível fazer-se o que se fez.
A obra realizada em Meruge continua a ser uma obra ímpar. Quem quiser fazer um estágio como autarca de junta e de câmara pode lá ir aprender com a junta, com as coletividades e os merugenses.
Cbs.com – Nunca teve grande dificuldade em vencer na Junta de Vila Franca. Decorrente da União com Ervedal, João Dinis candidata-se à União das duas freguesias. Que antecipação faz do resultado eleitoral naquela União?
JD – Na mesa da freguesia de Vila Franca, vamos ter uma grande votação na CDU. No Ervedal, as coisas serão mais difíceis, desde logo porque é a terra do presidente da Câmara. Também não podemos ignorar que a Câmara investiu na povoação de Ervedal perto de 500 mil Euros, há obra feita, e isso pesa na decisão das pessoas.
Contudo, a minha experiência como autarca e até como interveniente no espaço social em Coimbra, Lisboa e Bruxelas peço meças, bem como no respeito e consideração para com as pessoas. Essa é uma diferença da minha candidatura. No que respeita ao PSD nem vale a pena falar, porque vai apanhar a maior tareia de sempre.
«O professor José Carlos Alexandrino precisa de pôr a cara tão grande (nos outdoors) porquê? Não é conhecido? Conhecendo nós a sua preocupação social, ele não tem problemas em gastar tanto dinheiro? Ele não precisava de ter a cara tão grande, já a senhora do PSD, talvez.»
Cbs.com– Acredita que a CDU, ao candidatar Mateus Mendes à Assembleia Municipal, consegue eleger, pelo menos um deputado àquele órgão?
JD- Não será nada fácil eleger um deputado direto. O último eleito foi António Lopes que agora é cabeça de lista pelo PS àquele órgão e que é também um fator de perturbação. Não é nada fácil, até devido à própria dinâmica para a Câmara Municipal e aos meios financeiros muito grandes que as outras candidaturas dispõem, nomeadamente o PS. José Carlos Alexandrino tem que reconhecer que é do PS que vem a maior parte dos proveitos para a sua candidatura, desconhecendo eu qual a participação pessoal de António Lopes e não tenho nada que saber. O PS tem meios muito grandes e já estão a ser gastos dinheiros. Até chega a ser escandaloso. Já proliferam os cartazes gigantes. O professor José Carlos Alexandrino precisa de pôr a cara tão grande porquê? Não é conhecido? Conhecendo nós a sua preocupação social, ele não tem problemas em gastar tanto dinheiro? Ele não precisava de ter a cara tão grande, já a senhora do PSD, talvez.
Cbs.com – Gostaria de voltar a ver António Lopes a fazer parte das listas da CDU?
JD – Não só ele, como muitos outros. Do lado da CDU é que estavam bem. Até o próprio José Carlos Alexandrino. Escolheram o partido errado. Dão a cara por um partido que é co-responsável pela política de destruição do nosso país e pelo desemprego.
Cbs.com- A tendência da CDU é para a perda de votos em Oliveira do Hospital. O que é que tem falhado? O próprio João Dinis é um autarca conhecido e umdeputado municipal interventivo…
JD – Muita gente reconhece que nós somos combativos e interventivos, todavia as pessoas não votam. A CDU continua a não figurar como uma alternativa eleitoral para presidente da Câmara. O que as outras candidaturas colocam em cima da mesa é o cabeça de lista, o candidato a presidente da Câmara e o resto é paisagem. Se houvesse eleições para vereadores…tenho dito a Alexandrino e a António Lopes e outros autarcas que se quiserem ver o que de facto valem vão a votos pela CDU.
Estariam bem do lado da CDU porque nós temos causas e envolve-mo-nos com as populações.
Nota de redação: A presente entrevista dá início ao ciclo de entrevistas que o correiodabeiraserra.com vai realizar aos quatro candidatos à Câmara Municipal de Oliveira do Hospital. A ordem de edição de cada entrevista neste diário digital decorre da disponibilidade manifestada por cada candidato para realização da mesma.