Durante vários anos, sempre me recusei a discutir política com os acérrimos “defensores” de José Sócrates. Não estou arrependido.
Por inúmeras vezes fui embrulhado em conversas sobre o estado em que se encontra o país, umas por uns motivos, outras por outros, mas sempre me mantive fiel ao princípio de não me alongar muito na discussão quando alguém defendia que José Sócrates era ou foi um exemplo enquanto primeiro-ministro. Sempre me interroguei de forma praticamente automática: será que temos vivido no mesmo país?
Nos últimos dias, José Sócrates, foi detido (de forma pouco ética e numa acção lamentavelmente mediatizada, diga-se). Acusado de corrupção, depois de lhe terem sido levantadas suspeitas sob o seu envolvimento em inúmeros casos. Será ou não culpado? Isso caberá à justiça apurar. Mas parece-me que os tais “defensores” de Sócrates já têm motivos suficientes para, de uma vez por todas, se consciencializarem que a sua (des) governação foi o fósforo na pólvora que levou à “explosão” económica e financeira do nosso país. Portugal foi assaltado e largado na bancarrota, os portugueses foram e continuam a ser fustigados com sacrifícios, o mínimo exigível, é que se faça justiça.
Todos nós somos inocentes até que se prove o contrário, mas foram casos a mais. Foi dinheiro a menos nos cofres do estado. Foram políticas desastrosas e inconscientes. Olho à minha volta e tenho a certeza que a avaliar pelo estado em que se encontra o país, Sócrates não está inocente.
E, caso se venham a confirmar as minhas premonições de que Sócrates também poderá estar envolvido em ilícitos criminais e vier a ser condenado, irei continuar preocupado. Pois o braço direito de José Sócrates, o senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, parece reunir consenso no seio do Partido Socialista e, como todos sabem, pertence à ala socrática e participou no seu Governo. O novo líder diz que PS assume toda a sua história. Isso é elegante. Mas, ao contrário do que refere António Costa, não é possível separar o caso pessoal de José Sócrates com a justiça da acção política do PS. Porque o caso pessoal de Sócrates decorre da sua actividade como homem público do PS na liderança do Governo de Portugal. Se for confirmada a riqueza ilícita de José Sócrates, isso significará um enorme rombo no partido fundado por Mário Soares.
Acredito que este caso, no meio da corrupção e de um sistema judicial que viola o segredo de justiça e adora exibir-se para as televisões – o que é lamentável –, tem uma coisa muito positiva para Portugal: o sinal de que a impunidade dos poderosos acabou e o país funciona. Era praticamente isso que o jornal El País referia ontem. Isso tem um enorme valor simbólico. Inspira confiança, nomeadamente no exterior.