Este fim-de-semana estava com algum tempo para esta coisa das redes sociais e decidi testar uma teoria minha. Os “fotógrafos” não lidam bem com a crítica. Os “fotógrafos” não sabem defender o seu trabalho.
No Facebook, entrei num dos muitos grupos de fotografia que existem por lá e comecei a ver fotografias. Avaliei os comentários e na sua quase totalidade os comentários são palavras soltas que derivavam entre o “gosto muito” e o “magnífico”. E são, grosso modo, estas as análises que se fazem às fotografias. Mas eu isto já sabia. E será que se quer mais do que isto?
Numa das fotografias está uma senhora a olhar para uma criança que está encostada a um muro e com um ar introspectivo. A fotografia tem a criança fora da zona de nitidez da fotografia. Eu comentei a fotografia e inquiri porque é que a fotografia estava magnífica, como todos diziam. Expliquei que, se a criança é naquele caso o centro das atenções seria a criança que devia estar na zona de nitidez da imagem e não o adulto. Expliquei que por aquele motivo não podia aceitar aquela fotografia como válida, porque, a meu ver tinha um erro grosseiro. Também expliquei que no caso de me justificarem devidamente a opção do fotógrafo eu estaria disposto a mudar de opinião. Este post deu origem a horas de comentários. Começou-se desde logo pelo argumento malcheiroso de que aquilo é a “visão” do artista. Depois justifica-se arte como não tenho regras, é ao gosto de cada um.
Arte é a visão que o artista tem de algo e quer comunicá-la ao mundo. Para a comunicar precisa de uma linguagem. Uma linguagem é por definição um código que é entendido por um grupo de e que serve para transmitir opiniões, ideias… no final, conhecimento e é por via da linguagem que as sociedades evoluem. Se uma linguagem é um Código, esta precisa obrigatoriamente de regras. Há regras no que concerne à fotografia. Há códigos de cores, significados atribuídos a cores, há aquilo que se chama regras da composição. Tudo isto está estudado e evoluiu fruto da comunicação. Há regras que são vigentes e aceites como boas nesta conjuntura, obviamente que amanhã estas poderão deixar de estar vigentes ou aceites, porque as noções estéticas evoluem e para que elas evoluam é preciso que haja artistas que inovam e se desprendem dos jargões. Porém, para que tal aconteça é necessário que as regras vigentes se conheçam e sejam dominadas pelos artistas. Porquê? Porque se assim não for não há critério! E se não há critério não pode haver correntes artísticas. Por isso, o argumento de que “é a minha visão” é desculpa de mau pagador e malcheiroso de tão recorrente.
Numa outra fotografia de uma cena de luz dura e em que o motivo é muito brilhante, há um erro crasso de leitura de luz. A fotografia em tem nada de especial, e eu decidi comentá-la precisamente para referir o erro crasso de medição de luz que estava ali patente. E lá levei eu outra vez com o argumento de que aquilo é a visão do autor. É a forma como o autor se quer expressar ao Mundo,
Numa outra referi ao autor que gostava muito, porém a fotografia continha erros de palmatória, tas como distorções ópticas em elementos da mesma que não foram corrigidas. Deste autor recebi uma resposta mais elaborada. Disse-me que aquilo era uma “edição rápida” e que a fotografia que tinha em casa e que tinha editado com calma já não estava assim. Então eu quero mostrar o meu trabalho ao mundo e mostro o que é medíocre? Depois disse-me que conhecia duas ou tres técnicas para corrigir aquilo mas queria saber como eu faço. Se sabe e conhece as técnicas, porque é que não corrigiu a fotografia? Ha, pois, a “edição rápida”. Eu perguntei depois ao autor como é que se fazem todas aquelas camadas de ajuste numa “edição rápida”. Não obtive resposta.
Lá lhe expliquei que, como normalmente se trabalha com lentes grande-angular se costuma pôr a linha do horizonte no centro do enquadramento e depois corta-se a fotografia. Simples. Mas no photoshop deve ser mais fácil de fazer.
Um outro apresentava uma bela fotografia de uma cena de pescadores. Fotografia essa que conseguiu destruir com o photoshop. Comentei a fotografia e referi isso mesmo. O autor destruiu a fotografia com o pós produção. A resposta que obtive foi, tenho de reconhecer, original. O autor disse-me que “como eu trabalho com um portátil não dá bem para controlar aquilo que estou a fazer”. Em primeiro lugar, a grande maioria das pessoas que eu conheço que trabalham fotografia, editam-nas em portáteis. Mas a resposta que lhe dei, foi outra: “Não edite, se sabe que não consegue controlar a edição no seu portátil, fotografe em RAW+JPEG e não edite, é preferível.”
Eu sempre disse que uma das coisas mais importantes nisto da fotografia é a capacidade que temos de defender o nosso trabalho, de o justificar. Só se consegue defender e justificar trabalho por via da aprendizagem. E a aprendizagem é longa e não tem atalhos.
Repito a pergunta: E será que se quer mais do que isto? Se quem quer levar a coisa na desportiva não o pode fazer? Não tem esse direito? Claro que tem! Mas também tem o dever de ser humilde e, em vez de andar com rodeios, assume que não sabe e a gente ajuda. Evitava-se muita hipocrisia nestes grupos que aglutinam “fotógrafos”.
Uma fotografia é como uma radiografia. Se quem estiver a ver, souber o que procurar, sabe quase tudo acerca do fotógrafo que a fez. Se este sabe ou não o que esta a fazer e se tem skills.
Por isso, quem se esta a iniciar na fotografia e quando for confrontado com uma critica ao vosso trabalho, não digam que é a vossa visão da coisa. Fica tão mal… e muitas vezes quem está com vontade de ajudar, perde a vontade… deixem-se de desculpas de mau pagador.