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Clara Monteiro foi a última vítima mortal da EN 230, mas a indicação é a de que em cerca de 15 anos já ali perderam a vida cerca de 30 pessoas. Consciente da sua perigosidade, a Câmara de Oliveira do Hospital decidiu avançar com uma rectificação, mas o comandante dos bombeiros de Lagares da Beira não tem dúvidas de que “os pontos negros vão persistir”, Ao Correio da Beira Serra, António Pinto lamenta que “nunca” tenha sido auscultado sobre esta matéria.

Rectificação da EN 230 vai avançar, mas “pontos negros vão persistir”

Imagem vazia padrãoO acidente ocorrido, ao início da tarde do passado dia 20 na Estrada Nacional (EN) 230 – entre Oliveira do Hospital e Felgueira Velha – que vitimou mortalmente Clara Monteiro veio, mais uma vez, pôr a descoberto a perigosidade que aquela via encerra.

Bastou a chegada das primeiras chuvas, para que depois do almoço e no regresso ao local de trabalho – sentido Lagares da Beira – Oliveira do Hospital – o veículo conduzido por Álvaro Monteiro, acompanhado pela esposa de 53 anos, entrasse em despiste e acabasse por colidir de traseira numa viatura de mercadorias que seguia em sentido contrário. O choque foi fatal para a malograda senhora que terá tido morte imediata e, assim, engrossado a lista de vítimas mortais resultantes de acidentes naquela estrada. Momentos após o acidente, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Lagares da Beira chegou a avançar que, desde que a estrada foi reconstruída, há cerca de 15 anos, o registo de mortes naquela via já ronda as três dezenas. Um número que voltou a confirmar ao Correio da Beira Serra quando convidado a analisar a sinistralidade da EN 230.

Para o acidente que deixou de luto a família Monteiro, António Pinto não encontrou uma explicação e lamentou que a chegada das primeiras chuvas tenha causado tamanha tragédia. As mortes naquela via já não causam estranheza ao comandante dos Bombeiros de Lagares da Beira, especialmente durante os meses de Inverno, em que a chuva e o gelo agravam a perigosidade da via. “Nos três, quatro meses de Inverno mais intenso registamos uma média de cerca de 25 acidentes”, especificou António Pinto, notando que a situação se agrava com o facto de nesta altura “se registar uma maior escassez de recursos humanos disponíveis na corporação para a prestação de socorro aos sinistrados”. Nos meses em que se registam temperaturas mais amenas – explicou – o número de acidentes tende a reduzir.

Pontos Negros…
As condicionantes meteorológicas são referenciadas por Pinto como determinantes para o aumento de acidentes, mas o comandante não descura os pontos negros existentes ao longo do troço que requer a intervenção da corporação que comanda: Ponte do Cobral – Felgueira Velha. Aponta o dedo a três curvas que considera “muito perigosas” localizadas antes e depois da conhecia Ponte do Salto, por apresentarem falhas de inclinação. “As curvas não têm inclinação e os carros são projectados” explicou, notando que a “curva da rocha”, depois da Ponte do Salto, é a que tem propiciado o maior número de acidentes. Entende que não será fácil o corte da curva, pelo que defende que seja dada inclinação necessária a cada uma das curvas.

Pinto evidencia ainda as falhas existentes na marcação da via, em especial no que respeita aos traços contínuos. Em matéria de sinalização vertical não encontra falhas, mas dá conta da necessidade de os condutores respeitarem os sinais de trânsito. É sobretudo no troço entre Lagares e Ervedal da Beira que detecta os principais problemas, até porque – como disse – os semáforos existentes em Vila Franca e Aldeia Formosa “reduziram a sinistralidade”. Destaca também a intensidade de tráfego automóvel registado ao longo de todo o troço, por se tratar de uma via de acesso à cidade de Oliveira do Hospital. Para além disso – como explicou – é muito utilizada por transportes comerciais, incluindo camiões, na maioria das vezes responsáveis pelo derrame de óleos e outros combustíveis na via.

Embora tratando-se de uma área de intervenção dos Bombeiros de Oliveira do Hospital, Pinto faz também referência à perigosidade da curva que antecede a Ponte do Cobral. “Até já sugeri a colocação de bandas sonoras no piso”, frisou. Uma apreciação que é partilhada pelo comandante Emídio Camacho que ao CBS, referiu que se trata de uma via onde já ocorreram alguns acidentes, embora sem grande gravidade. Mas tem ainda na memória o acidente que, naquele mesmo local, provocou a morte de um bombeiro da sua corporação, deixando outro tetraplégico. Quanto ao restante troço até à cidade, Camacho disse não ter registo de grandes acidentes, muito menos de vítimas mortais e justificou esse facto com a possibilidade de os condutores “se aperceberem da perigosidade da via e por isso conduzirem com mais precaução”.

…sem solução à vista
A totalidade do troço em causa vai beneficiar de trabalhos de rectificação no âmbito de uma intervenção programada pela Câmara Municipal de Oliveira do Hospital que, para além de um piso novo e de nova sinalização horizontal e vertical, contempla a construção de duas rotundas nos cruzamentos norte/sul de Ervedal da Beira, de uma outra no cruzamento entre Lagares da Beira e a estrada de acesso a Meruge e colocação de lombas elevadas no troço que atravessa a freguesia de Vila Franca da Beira.

No entanto, não será esta rectificação que deixará o comandante António Pinto mais sossegado. É que – como disse ao CBS – tais obras “não vão reduzir a sinistralidade”. “Os pontos negros irão manter-se”, referiu, explicando que a rectificação prevista não contempla melhorias nas referidas curvas. Lamenta que assim seja e que “os bombeiros não sejam ouvidos sobre estas matérias”. “Nunca fomos ouvidos e sobre estas coisas deveríamos ter sempre uma palavra a dizer”, frisou o comandante, explicando que em caso de acidente, “são os bombeiros que prestam os primeiros socorros às vítimas”. Uma tarefa que não considera fácil, especialmente quando os bombeiros se deparam com feridos graves ou vítimas mortais conhecidas, como aconteceu com Clara Monteiro. Mas, tem consciência de que são “ossos do ofício”.

O comandante Camacho discorda de Pinto e ao CBS disse que a Câmara tem ouvido os comandos dos bombeiros no que respeita à rede viária concelho, rotundas e até toponímica.

Liliana Lopes

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