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“Se perder esta batalha, não sei se tem sentido continuar como presidente da Câmara”

Correio da Beira Serra – Qual é o balanço que o presidente da Câmara faz destes primeiros 100 dias de mandato?
José Carlos Alexandrino –
Estes primeiros 100 dias foram um desafio interessante. Serviram, sobretudo, para fazer um diagnóstico do concelho porque apesar de termos uma ideia de como as coisas funcionam, quando a gente entra, verifica que há muitas coisas que são diferentes. Fizemos um diagnóstico que fosse capaz de criar condições e grupos de trabalho, para se fazerem reestruturações que, na nossa óptica, devem ser feitas, e depois lançámos algumas primeiras obras que também eram necessárias. Estes primeiros 100 dias foram também de muitos contactos, porque este concelho não tinha projectos. Fizemos o levantamento das necessidades e o lançamento de candidaturas de alguns projectos de dimensão para o concelho.

CBS – Antes desta entrevista falava há instantes da burocracia da Câmara Municipal. Disse que delegou muitas matérias e que despacha um terço daquilo que despachava o anterior presidente da Câmara. Como é que é de facto esta máquina autárquica em termos burocráticos?
JCA –
Na minha opinião, é uma máquina demasiado pesada. Acho que estes grupos de trabalho que eu criei são essenciais para agilizar essa máquina. Nesta Câmara não havia órgãos intermédios muito bem definidos e, na minha opinião, é fundamental que uma organização tenha órgãos intermédios que sejam responsabilizados numa cadeia hierárquica.

Mas, de facto, nos primeiros tempos passei muitas horas a assinar papéis porque não havia delegação de competências. Mas, mesmo assim, passo muito tempo a assinar papéis, porque não deleguei a área financeira que quero que esteja concentrada em mim. É muito importante para este município ter algum equilíbrio financeiro.

De qualquer maneira, estamos atrasados em relação a muitos municípios com quem eu vou contactando. Estamos neste momento a preparar o lançamento do Balcão Único, porque hoje não se percebe que um munícipe se desloque à Câmara e tenha que andar a saltar entre secções para tratar de vários assuntos.

Na minha opinião, aquilo que é preciso é fazer uma reestruturação nos serviços, modernizando-os. Isto é, tornando-os mais funcionais e mais ágeis para servir melhor os munícipes. É fundamental que os nossos funcionários participem em acções de formação, e já estou a alterar essa situação, porque o que eles me dizem é que antigamente não participavam nessas acções. É necessário agilizar e sobretudo tornar esta máquina muito mais leve e menos burocrática.

CBS – Nota-se que a celeridade nalguns processos não é tão rápida como as pessoas desejam…
JCA –
Quando há uma determinada cultura que está instituída é difícil às pessoas perceberem o que nós queremos. E, em termos de linguagem, nem sempre somos compreendidos. De qualquer maneira, penso que em algumas áreas estamos melhor e muito mais rápidos.

Quero equipas bem definidas, de intervenção rápida e que respondam às questões dos nossos munícipes. Dei até ao final de Fevereiro para essa reestruturação orgânica estar concluída, para me reunir com os funcionários, porque haverá alterações e pessoas que transitarão de uns departamentos para outros.

CBS – Como é que o presidente da Câmara define a situação financeira deste município?
JCA –
Para o ano 2010, temos uma situação financeira em que o meu executivo está muito condicionado. Deixaram-nos um conjunto de obras lançadas, e a nossa margem financeira é bastante restrita. Estou a falar, por exemplo, da terceira fase da estrada do Vale do Alva, a estrada que vai começar entre Oliveira do Hospital-Aldeia de Nogueira -Nogueira do Cravo, e a Biblioteca Municipal.

Temos um problema por causa dos cinco milhões de euros contraídos pelo anterior executivo, porque só foram utilizados três milhões devido a obras que não avançaram. Em consequência das alterações do “spread” do empréstimo, a Caixa Geral de Depósitos veio agora dizer que para mexermos nos restantes dois milhões, vamos ser prejudicados em 250 mil Euros, que é muito dinheiro para o município. Temos estado em negociações e já percebemos que não podemos contrair outro empréstimo por uma razão simples: é que na altura em que foi contraído aquele empréstimo, havia uma taxa melhor do que hoje. Estamos a tentar encontrar com a direcção da Caixa Geral de Depósitos uma solução que não seja muito penalizante para o município.

De qualquer maneira, não me assusta a dívida do município, pelo contrário. Se reflectirmos, o Alberto João Jardim tem na Madeira uma ilha que está muito acima do Continente, porque tem uma determinada dívida. Sou a favor do endividamento, desde que se realize obra que seja produtiva para o município. Quero ter equilíbrio financeiro. Sou uma pessoa rigorosa nesse aspecto.

Achamos que, desde que o município tenha capacidade, deve lançar as obras e construir um concelho de qualidade. Vejo concelhos mais à frente do que nós e com uma maior dívida, mas a verdade é que têm os equipamentos capazes de servir as populações. Eu e o ex-presidente da Câmara temos perspectivas diferentes de ver os mesmos assuntos e foi por isso que o povo nos elegeu, porque senão teria eleito o mesmo executivo.

CBS – Pensa de alguma forma reequacionar – ou reavaliar – um ou outro projecto, como é o caso da Biblioteca Municipal?
JCA –
Pessoalmente, não concordo com aquela construção da Biblioteca Municipal e entendo que a sua continuidade deve ser discutida. Na minha opinião, a nossa Biblioteca deveria ser de outro tipo e de acordo com a dimensão da cidade, porque há bibliotecas de tipo I e tipo II. A que está a ser feita é de tipo inferior.



Entendo que há um sítio que, por excelência, deveria acolher uma Biblioteca de outro tipo, que é a antiga ARCIAL e o antigo Colégio Brás Garcia de Mascarenhas. Ficaria ligada à Casa da Cultura e o antigo Colégio tem uma história de muita gente que passou por ali, como eu também passei. Muitos dos que lá estudaram, gostariam que ficasse ali algo ligado à cultura e ao desenvolvimento cultural de Oliveira do Hospital. Na minha perspectiva, o que deve lá ficar não é o Museu do Queijo, mas sim uma Biblioteca Moderna com muita luz e com um edifício moderno no centro da cidade.

CBS – E o que é que pretende fazer ao espaço onde estão a decorrer as obras de construção da Biblioteca?
JCA –
Uma mudança passará sempre por uma maioria no executivo e pela própria deliberação na Assembleia Municipal. De qualquer maneira, poderia fazer-se ali o arquivo municipal e até uma loja do cidadão. Temos desenvolvido contactos sobre essa loja do cidadão, para tomarmos uma decisão em relação a essa matéria. Sei que se formos para a frente com esta ideia, será uma decisão polémica, sobretudo política, de opção clara daquilo que nós pensamos que deve ser o desenvolvimento da cidade de Oliveira do Hospital. Isto não se faz contra ninguém, mas sim numa forma de ver as coisas de modo diferente.

O espaço envolvente do antigo Colégio é um problema para resolver. A opinião que eu defendo é a do presidente da Câmara e de muita gente. Neste momento, tenho no entanto alguns cuidados, porque o processo é delicado, uma vez que a biblioteca tem comparticipação financeira do QREN. Também ainda não tenho os dados todos para poder pedir a suspensão dos trabalhos da obra.

CBS – Já que estamos a falar no centro da cidade, como é que o seu executivo pensa resolver o problema do silo automóvel?
JCA –
Estou prestes a ter uma reunião com comerciantes para lhes fazer um desafio e para os ouvir. Deve haver uma cultura de audição às pessoas interessadas. Hoje reconhecemos que o estacionamento em Oliveira do Hospital é caótico.

Tenho falado com os municípios vizinhos, entre os quais Seia e Arganil, que me têm dito que têm tido boas experiências com o estacionamento pago, porque disciplina e traz grandes vantagens ao comércio. Estou a preparar a reunião com os comerciantes e já tenho contactos com uma empresa que faz esta exploração sem custos para o município. Mas, aquilo que eu constato naqueles municípios é que, no início, há alguma resistência das pessoas ao estacionamento pago, mas, depois, há a percepção de que se trata de uma medida boa.

CBS – Mas o silo tem um custo de manutenção elevado…
JCA –
Nunca se pode tomar uma decisão isoladamente. Podemos chegar à conclusão que o melhor é termos o silo gratuitamente e os postos de estacionamento no exterior pagos. Isso poderia levar as pessoas a estacionarem mais no silo. Nós sabemos que, na nossa sociedade, se pudermos até levamos o carro para dentro de casa. Há também o problema de pessoas que trabalham fora de Oliveira do Hospital e que deixam os seus carros, toda a semana, estacionados dentro da cidade. Temos, no entanto, que criar parques alternativos para estas pessoas poderem deixar os seus veículos.

CBS – Quais foram os principais dossiês que encontrou aqui na Câmara? Deparou-se com alguma batata quente, por assim dizer?
JCA –
Houve algumas obras que arrancaram, já depois das eleições, que não foram embargadas e que eu penso que são batatas difíceis de resolver, mas que temos que resolver com coragem e muita determinação. Todos devemos obedecer a regras com princípio, meio e fim. Temos aí alguns problemas que não quero tornar públicos, porque as pessoas ainda estão na fase da defesa. Estou a falar de obras particulares em sítios onde não se podia construir.

CBS – Tanto quanto já se sabe, a Câmara vai receber a visita da Inspecção Geral da Administração do Território…
JCA –
Fomos informados pela Associação Nacional de Municípios de que iríamos receber uma inspecção de rotina, da qual já estão a ser alvo Arganil e Tábua. Vai ser bom para o meu executivo, porque nunca pedimos uma inspecção excepcional e vai-nos ensinar os melhores caminhos, devido à nossa inexperiência política. Também é fundamental fazer-se uma avaliação ao trabalho realizado no passado.

CBS – A grande questão da actualidade é de facto a suspensão dos itinerários complementares 6, 7 e 37, que foi um balde de água fria para a região e para o presidente da CMOH que, já em campanha eleitoral, prometeu lutar por estes itinerários. Ficou a sensação, nas declarações que vieram a público, que isto poderia implicar a demissão do presidente da Câmara…
JCA –
Lidero um processo que está subscrito por cerca de 30 presidentes de Câmara e onde a nossa posição é clara como a água. Nós ainda circulamos em estradas do tempo da monarquia, com alcatrão por cima, e este município e toda a região da Serra da Estrela precisam destes itinerários – como o pão que se come! – para o seu desenvolvimento e para que haja também uma coesão entre o litoral e o interior.

Sem dúvida nenhuma que foi um balde de água fria, mas eu não quero fazer declarações polémicas antes da reunião com o ministro das Obras Públicas. A posição que vou tomar dependerá muito da posição dele. Ouço também uns entendidos na matéria a falar na televisão sobre a concessão da Serra da Estrela como se isto fosse mais uma auto-estrada.

As pessoas de Lisboa têm que saber que aqui não existem auto-estradas e que aquilo que nós queremos é uma estrada digna do nome de estrada, que ligue estes concelhos e potencialize o seu desenvolvimento económico. É isto que eu vou dizer ao senhor ministro e vou desafiá-lo para vir cá à Feira do Queijo para conhecer estas estradas. Há aqui um conjunto de concelhos prejudicados. E eu não ouvi isto apenas ao secretário de Estado Paulo Campos, ouvi-o também ao senhor primeiro-ministro. Estas estradas são uma promessa que eu ouvi, quando era candidato, ao senhor primeiro-ministro. Por isso, acredito que possam haver algumas consequências imprevisíveis se não clarificarem, rapidamente, quando é que estas obras arrancam. É preciso também dizer aos senhores do PSD e do CDS, que andaram a clamar pelo corte de investimento, que a nossa zona em termos de riqueza nacional, em relação à Madeira, é muito mais deprimida. Pergunto: qual é a coerência destes partidos que andaram a pedir cortes no investimento público e nestas estradas do interior e depois vão pedir aumentos para a região autónoma da Madeira? Isto não é política na minha opinião. Estes políticos – não é só o Governo – devem ser responsabilizados, porque a Madeira é a segunda região mais rica em relação ao país. E mais: nós, munícipes desta região, pagamos impostos que depois vão ser metidos na TAP, na CP e em tantos outros projectos. Portanto, se o litoral fizer um esforço pela coesão com o interior, é a sua obrigação, porque nós também vamos participar com os nossos impostos na construção do TGV.

Quando colocaram mensagens nos meus outdoors de campanha eleitoral, escrevi lá que comigo o IC6 é uma prioridade. Agora há quem diga que o que eu escrevi foi que “comigo o IC6 é uma realidade”. Eu não poderia fazer uma afirmação desse tipo, porque não sou o ministro das Obras Públicas, nem das Finanças, nem primeiro-ministro. Eu disse que o IC6 era uma batalha fundamental se eu fosse eleito presidente da Câmara. Não posso trair as pessoas que acreditaram neste discurso.

Eu acreditei nos discursos do primeiro-ministro e dos governantes deste país. Logicamente que a minha posição é delicada. Por isso, se eu perder esta batalha, não sei se tem sentido eu continuar como presidente da Câmara. É algo que eu tenho que equacionar. Mas, não me irei embora sem primeiro desenvolver uma luta em relação ao poder de Lisboa. Estou aqui disponível e empenhado para fazer essa batalha. Se eu perder a guerra, então equacionarei a hipótese de me ir embora. Mas, ninguém espere que eu me vá embora sem lutar.

“… tenho lutado bastante para ajudar a resolver alguns problemas de emprego”

CBS – Como é que está o processo de ampliação da Zona Industrial (ZI) de Oliveira do Hospital?
JCA –
Tenho gasto centenas de horas com esse processo. Se fosse um processo fácil já o tinham resolvido. Estivemos parados tantos anos em relação ao lançamento da ampliação da Zona Industrial… não queiram agora que, em dois meses que estou no poder, resolva uma coisa que outros não tiveram capacidade de resolver durante oito anos.

E porquê? Há uma firma – não vale a pena falar em nomes – que se instalou na ZI e que ocupou uma parte da Reserva Ecológica. Por esse motivo, a CCDRC nunca mais deixou fazer o acrescento porque achava que deveria ser tudo ligado. Já estive reunido com o engenheiro João Vasco Ribeiro que é o gestor do Mais Centro e com o engenheiro Fortuna. Eles também já cá vieram e penso que, neste momento, há boas perspectivas para resolvermos essa situação.

Temos que ser claros: esta matéria é de longe a maior prioridade no concelho. Eu sempre disse que a minha prioridade não seriam estradas, mas que seria o problema do emprego em Oliveira do Hospital. Tenho lutado bastante para ajudar a resolver alguns problemas de emprego e tenho tido também algumas firmas interessadas em se instalarem em Oliveira do Hospital. O problema é que não tenho, neste momento, condições para elas se instalarem.

Temos que legalizar a situação herdada e só depois poderemos lançar a ampliação da Zona Industrial. Ainda há pouco tempo, uma empresa de Oliveira do Hospital estava para se deslocalizar para Tábua, mas depois de uma reunião, penso que conseguimos evitar essa situação, porque houve empenho da nossa parte. Não podemos deixar partir as empresas que se querem expandir.Só há uma coisa que é mais prioritária do que a resolução do problema da ZI, que são as pessoas. Em tempo de crise, a prioridade são as pessoas. O maior drama como presidente da Câmara é receber por dia 15 ou 20 pessoas a pedirem-me emprego. Isto é dramático porque não tenho nenhuma fábrica de dar empregos, mas gostava de ter 400 empregos para dar a esta gente e ter o problema resolvido do concelho.

Felizmente, temos já em funcionamento o Gabinete de Inserção Profissional (GIP), que é financiado e subsidiado pelo IEFP e visa encontrar trabalho para os nossos desempregados. Não faz só trabalho para as empresas do nosso concelho, mas estabelece parcerias com firmas de outros concelhos. Por exemplo, o GIP procura 30 costureiras para os Aquinos e 20 carpinteiros. Surge, no entanto, o problema dos transportes, mas estamos a tentar encontrar uma solução para que o município possa assegurar o transporte a essa gente. Este gabinete ainda não foi inaugurado, mas já está a trabalhar no terreno e aproxima os empregados das empresas.

CBS – Ainda relativamente às zonas industriais, como é que está o processo do pólo industrial da Cordinha?
JCA –
Procedemos à alteração do regulamento que era completamente obsoleto e não permitia instalações. Neste momento, já temos quatro interessados para se instalarem na ZI da Cordinha. Aqui as acessibilidades são fundamentais, porque um dos argumentos que eu utilizo tem a ver com a localização do IC37 e com a construção de uma estrada que viesse do nó do Chaveiral até à ZI da Cordinha. Isso era fundamental para desenvolver aquele núcleo.

Estou também a desenvolver um projecto de ampliação da própria ZI da Cordinha. Pode ser disparatado, mas se nós ganharmos o IC37, sem dúvida nenhuma que aquela zona se vai projectar.

Já que falamos em zonas industriais, podemos falar da nossa acção em relação aos trabalhadores. Demos uma ligeira esperança às pessoas, quando lançámos os programas ocupacionais em colaboração com o IEFP. Mostrámos que estávamos aqui para ajudar as pessoas, mas houve logo quem achasse que eu tinha chegado à Câmara e tinha arranjado 53 novos funcionários, alargando os quadros. Não foi isso que eu fiz. O que eu fiz foi recuperar algumas pessoas, dando-lhes motivação para o trabalho e injectando dinheiro na economia de Oliveira do Hospital. E temos tido surpresas muito agradáveis! Também acho que se devem reestruturar os serviços da CMOH, porque entendo que a estrutura até tem funcionários a mais. No entanto, nesta fase, não poderia ser a autarquia a lançar mais pessoas para o desemprego. Mas é preciso agilizar este processo e torná-lo mais eficaz porque se temos cá despesa, também temos que ter respostas.

CBS – Já há alguma ideia para resolver o problema daquele monstro que é o Centro de Negócios de Lagares da Beira?
JCA –
Trouxemos um conjunto de pessoas para ver a ACIBEIRA. Inclusivamente, trouxemos a Dr.ª Teresa Mendes, do Instituto Pedro Nunes, que é uma incubadora das mais modernas e mais bem conseguidas do mundo. Desenvolvemos alguns contactos, porque entendemos que o problema da ACIBEIRA deve ser faseado.

Vai haver uma reunião extraordinária por causa da aprovação dos estatutos de uma associação que vamos criar. Foram propostos três nomes e sabemos que é uma plataforma de desenvolvimento na área tecnológica e de investigação. Estamos a ser acompanhados por gente de muito valor a nível nacional. Temos aqui o João Nunes, que é um jovem investigador que tem feito um trabalho espectacular em relação a isto. Temos ideias muito claras e fizemos contactos muito importantes com multinacionais. Espero que os estatutos sejam aprovados na reunião da próxima sexta-feira. São sócios fundadores dessa plataforma, a CMOH, o NDEIB e o Instituto Politécnico de Coimbra através da ESTGOH. Serão os três sócios fundadores e mais à frente entrarão também o Instituto Pedro Nunes, a Universidade de Coimbra e um conjunto de parceiros muito importante como a Tagus Park de Oeiras. Temos desenvolvido um conjunto de contactos que nos há-de trazer alguma produção.

Na minha opinião sincera, o futuro de Oliveira do Hospital passa pelas acessibilidades e por esta plataforma de desenvolvimento. A ACIBEIRA terá que ser recuperada por fases. As pessoas viram aquelas instalações e ficaram entusiasmadas. Não posso também deixar de salientar o esforço tremendo do engenheiro António Campos, que nos tem estado a ajudar na criação desta associação. Sem ele, sem dúvida que não era possível termos as pessoas que temos hoje a trabalhar nesta plataforma de desenvolvimento. Isto é nuclear para o nosso concelho.

CBS – Continuamos com o problema da ESTGOH…
JCA
– A ESTGOH será parceira naquela plataforma. Mas agora existe um problema com a escola porque ela está a passar por um processo de eleições. Ainda esta semana me vou reunir com o presidente do IPC, porque este projecto futuro tem a ver também com o próprio desenvolvimento da ESTGOH. É fundamental nós movermos uma luta em parceria com o IPC e a ESTGOH por causa da construção das novas instalações.

Mas eu acredito que dentro deste projecto seja possível ir buscar verbas para ajudar nessa construção. Se conseguirmos pôr este projecto no terreno, não tenho dúvidas nenhumas de que o próprio município tem que fazer um esforço financeiro muito grande para ajudar a construir esta escola. Tenho conversado com o Dr. Nuno Fortes e ele está a par das minhas ideias. Tenho uma grande esperança de que seja no meu mandato que a escola tenha uma sede condigna, porque ela é fundamental para o desenvolvimento do concelho de Oliveira do Hospital.

CBS – Ainda na área da Educação, qual a sua posição em termos da construção de novos centros escolares?
JCA –
Há duas ideias sobre Centros Escolares. São compromissos eleitorais e que nós teremos que equacionar. Costumo exigir aos meus vereadores que tenham o programa, com que se apresentaram ao eleitorado, para que não nos esqueçamos das nossas promessas eleitorais. O senhor presidente da CMOH também tem um aqui à mão, para todos os dias lhe ir passando os olhos, porque devemos honrar aquilo que prometemos às pessoas.

Contudo, nesta matéria deparamo-nos com o problema da Carta Educativa que é preciso renovar e ser aprovada pela DREC e, depois, pelo Gabinete Financeiro. Neste momento, pedimos um Orçamento para a Carta Escolar, Carta Desportiva e Carta Social do concelho englobadas num único pacote. Houve uma proposta concreta e achei o preço demasiado caro, porque muito do trabalho das cartas está feito.

Fiz alguns contactos e agora a questão que se coloca, é se será possível fazermos um Centro Escolar novo em Oliveira do Hospital. Eu penso que é possível e que o deveríamos fazer porque, para mim, aquele centro escolar que foi feito é um remendo, não tem condições para todas as crianças.

Estou à procura de soluções, estou na fase do diagnóstico e preciso realmente de pôr a Carta Escolar diferente. A minha ideia é criar um Centro Escolar de raiz em Oliveira do Hospital, que tivesse todas as condições para as nossas crianças, devendo até ficar ligado a toda a zona escolar já existente. É inadmissível que haja crianças que não possam almoçar na sua escola. Tive aí um caso caricato de dois irmãos, em que um podia almoçar e o outro não. Resolvi essa situação, mas tenho é que resolver o problema, porque há muitos pedidos para almoçar.

Não sei se consigo ou não, mas tenho a obrigação de fazer um esforço pela construção de um novo Centro Escolar. O Centro Escolar de Nogueira do Cravo tem muito a ver, se partimos de uma obra de raiz ou se, com a construção do de Oliveira do Hospital, faremos uma adaptação às instalações existentes, dotando-o de todas as condições para os alunos de Nogueira do Cravo.

CBS – Há alguns projectos em carteira que já estarão numa fase mais avançada, nomeadamente o Terminal Rodoviário…
JCA
– A Câmara tinha um projecto para a central de camionagem que custa 55 180 Euros. Trata-se do projecto de uma obra estimada em cerca de três milhões de Euros que, na minha opinião, é desadequado e desajustado aos dias de hoje. Precisamos de uma coisa moderna, que não seja muito cara e tentando a comparticipação financeira e encontrando aqui alguns parceiros. Um parceiro que estamos à procura é os CTT, porque queremos que os TIR dos CTT deixem de descarregar no centro da cidade. Já tivemos contactos com a direcção de Lisboa dos CTT para que a Central de Camionagem não seja apenas um terminal rodoviário, mas que seja um espaço vivo com algumas lojas, moderno e que também envolva os CTT.

Neste momento, estão-nos a fazer um estudo de um ante-projecto e esperamos que, ainda este ano, possamos lançar este projecto da Central de Camionagem que consideramos prioritário, tal como toda a requalificação da Avenida em frente aos bombeiros que, na minha opinião, não dignifica aquela zona, que vai ser uma zona nobre da cidade de Oliveira do Hospital.

CBS – Brevemente, vamos ter a Feira do Queijo… e a FICACOL?
JCA
– Nós vamos lançar a “Expo H” que será uma nova feira. Não é um corte com o passado. A FICACOL prestou um excelente serviço à cidade e não deveriam ter acabado com ela. Nós entendemos que a devemos relançar sobre algumas formas diferentes. Queremos que seja uma feira que ajude a desenvolver Oliveira do Hospital, divulgue o concelho e seja um espaço de convívio para os oliveirenses. Estou a criar uma comissão que começará a trabalhar já na feira, porque tem que ser projectada e planificada. Será uma comissão alargada que passará muito pela ADI e haverá comparticipações do IAPMEI.

CBS – Terá realização em Agosto, Setembro…
JCA
– Em Agosto, como antigamente. Ainda não está definida a data para que não colida com outras feiras. Nós também não podemos ser concorrentes das festas das nossas aldeias. O que acontecia nos espectáculos avulso que se faziam na cidade era que, muitas vezes, coincidiam com as festas das aldeias. Fazia-se uma concorrência entre o município e essas festas. Não quero isso. As pessoas podem fazer as festas naquela altura, mas sabem atempadamente da realização da Expo H e ficam a par dos riscos que correm.

CBS – Como é que está o processo das três medidas para os primeiros 100 dias?
JCA –
É preciso clarificar duas ou três coisas. Os meus compromissos dos 100 dias eram com as Juntas de Freguesia do partido com que eu me candidatei. Houve algumas obras que já foram feitas, mas agora, há juntas que também entenderam que deveriam reivindicar as obras do nosso programa eleitoral. Isto é, alguns presidentes de Junta eleitos por outros programas, acharam que deveriam reivindicar as obras do programa do PS a nível de Juntas de Freguesia. Uma coisa são as obras que nós prometemos como município para o concelho todo, outra coisa é o que nós prometemos em relação às freguesias.

É claro que queremos fazer obras em todas as freguesias, mas o nosso compromisso foi com as populações que nos sufragaram aquele programa.

Naturalmente, que houve uma reestruturação relativamente às obras dos 100 dias. Houve obras que derivado à sua dimensão não se puderam fazer nesta fase. Havia, por exemplo uma Junta de Freguesia nossa, que tinha uma obra de 330 mil euros. Não era possível executá-la neste ano e passou, por isso, a ser uma obra para o mandato.

CBS – Está a falar de quê concretamente?
JCA –
Não quero citar. Trata-se de um pequeno exemplo de inexperiência política. Mas, de qualquer maneira, arrancámos com outras obras. Fizemos as obras todas dos projectos dos 100 dias.

 Para a relação com as juntas, em primeiro lugar, criei um gabinete de apoio às Juntas de Freguesia. Em segundo lugar, estamos a desenvolver um plano a 10 anos e, em terceiro, vou descentralizar mais verbas para as Juntas de Freguesia. É minha intenção que numa primeira fase, num ano experimental, e dentro dos condicionalismos financeiros que são elevados – o executivo anterior atribuiu 132 mil euros de forma directa às juntas –, possamos distribuir uma verba de 500 mil Euros. Isto quer dizer que os presidentes de Junta ficarão muito menos dependentes da vontade do presidente da Câmara.

Na distribuição destes 500 mil Euros não vamos aplicar a fórmula que tinha o anterior executivo e que se baseava no nível de habitantes. Eu quero uma fórmula mais justa que tem a ver com a área da freguesia e com o número de anexas. Vou levar a minha proposta a todos os presidentes de Junta e colocá-los à vontade para a discutirem e fazerem outro tipo de propostas. Ficam, contudo, a saber que só distribuo os 500 mil euros quando todos estiverem de acordo.

CBS – Como é que vão as relações com a oposição no executivo?
JCA –
Até agora as reuniões da CMOH têm sido pacíficas. As pessoas têm ideias diferentes em relação a alguns assuntos, mas considero que o clima tem sido cordial e as pessoas têm estado sensibilizadas para os problemas do município. Tenho que reconhecer que tem havido uma atitude colaborante, porque não houve até agora uma única proposta que fosse chumbada no executivo. Isto quer dizer alguma coisa. Também se percebe que nós aceitamos as sugestões, estamos abertos à crítica e somos capazes de recuperar algumas propostas e de as mudar. O nosso relacionamento tem sido cordial e correcto e, sem dúvida nenhuma, que estou satisfeito relativamente ao posicionamento dos meus adversários políticos.

CBS – Uma das principais bandeiras do PS ainda em campanha eleitoral era o emprego. Entretanto, já houve uma série de empresas que caíram…
JCA –
Há pessoas que gostam de lançar algumas confusões, mas a mim não me perturbam. Alguém me dizia, que eu disse que não ia haver mais desemprego no concelho. Quem lança isto para o povo, pensa que o engana, mas o povo já não se deixa enganar. Nós temos tido uma postura tremenda em relação à defesa do emprego.

Admira-me que alguns políticos do meu concelho entendam que eu deveria criar não sei quantas empresas, quando eles eram potencialmente aliados do poder que estava instalado e que nem recebia os sindicatos. Isto é uma contradição. Eu recebo os sindicatos dos trabalhadores do município, dos têxteis e as associações de taxistas, que também há aí alguns problemas para resolver.

Aquilo que eu prometi ao povo oliveirense foi que ia lutar para ajudar a resolver os problemas do desemprego. Ninguém me pode acusar de falta de empenho junto de empresários, do ministério da Economia, do governador civil, do director do IAPMEI e do director da Segurança Social.

Um exemplo do meu empenho é que, segunda-feira (anteontem), naquela sala vão estar 60 trabalhadores dos têxteis para serem recuperados 30, para uma linha nova na Branaldo, em Lagares da Beira, que fui eu que a negociei. Isto quer dizer alguma coisa.

Neste momento, aguardamos que o secretário de Estado da Inovação e do Desenvolvimento, o Dr. Fernando Medina, venha a Oliveira do Hospital para participar numa reunião com empresários, porque estamos neste momento a resolver o problema da HBC. Tenho um potencial comprador para a HBC e vai, em princípio, ficar com 100 a 120 postos de trabalho. Vamos ter uma reunião com o juiz e uma visita da pessoa interessada às instalações. Tenho também uma reunião marcada com o ministro Vieira da Silva em Lisboa.

Não fiquei aqui no gabinete, pelo contrário. E tenho tido uma parceira, que é a presidente do Sindicato dos Têxteis, Fátima Carvalho, que me tem acompanhado nas reuniões em Lisboa. Será uma grande alegria para mim, quando vir estas pessoas todas nos seus postos de trabalho. Neste momento, o problema da HBC acredito que está muito perto da sua resolução. O potencial investidor tem encomendas.

O problema da Fabriconfex fica, para já, por resolver. A empresa ainda não é insolvente e eu não posso contribuir. Mas, pelos contactos que fiz, acho que também vai haver solução para o problema da Fabriconfex. Nós podemos a curto prazo arranjar 290 novos empregos em Oliveira do Hospital.

No outro dia encontrei o presidente da Câmara da Guarda no ministério da Economia que ia para uma reunião a seguir a mim, mas eu não sabia. Ele disse-me uma frase que me impressionou: – “Ó José Carlos já descobriste que é em Lisboa que se resolvem os problemas e não em Oliveira do Hospital… estás a ir bem”.

Nós não nos deixamos ir pelo inconformismo. É possível inverter a situação, mas temos que ir preparando o concelho para se apetrechar com outras indústrias alternativas. Essa é a maior aposta em termos da plataforma tecnológica de desenvolvimento. Nós podemos fazer um concelho rico, assim o governo cumpra aquilo que prometeu nas acessibilidades.

Henrique Barreto/ Liliana Lopes

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