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“Uma andorinha não faz a Primavera”
Ninguém se surpreenderá com o tema desta croniqueta, quando muito dirão que, à falta de assunto, venho carpir mágoas a “quente”, após a derrota da selecção portuguesa no campeonato europeu de futebol.

 

Sebastianista, eu?

Mas não, tirem daí o sentido: nada de desgostos, porque desde o primeiro jogo que, em silêncio, torci o nariz ao esforço da equipa; não desanimei com o que vi, mas daí até embandeirar em arco com uma vitória no torneio, nem pensar – fiquei comedido e esperançado na sorte que, dizem, protege os audazes.

Certamente foi (também) isso que D. Sebastião levou na bagagem: esperança na sorte e na ajuda divina para levar a bom porto a empreitada de Alcácer Quibir. Os resultados da nefasta epopeia são sobejamente conhecidos e deles, até hoje, não nos livrámos: em quase todos os portugueses há um “sebastianista” convicto… adormecido.

Durante o percurso Viseu / Suiça, até à noite de quinta-feira passada, foi dito e redito que Portugal reunia todas as condições para vencer a final, se lá chegasse, porque era (quase…) a melhor equipa. Infelizmente, ainda não foi desta vez que levámos a “carta a Garcia” na garupa do “cavalo Lusitano”, simplesmente porque não tínhamos a melhor “cavalaria” para tamanho feito, como D. Sebastião não possuía o melhor exército (em quantidade de efectivos) nem estratégia militar para levar de vencida o inimigo…

Li algures, em tempos, que “…o sebastianismo não se esgota nos âmbitos étnico e nacional, aos quais, quase sistematicamente tem sido confinado…”.

Concordo em absoluto com a tese descrita em várias páginas, com conteúdo histórico, onde se procura demonstrar como o português sempre esteve afeito às coisas da Fé, daí que o desaparecimento de D. Sebastião “…fosse obra do destino…” e o seu regresso uma miragem de quem se sabia “órfão” com a morte de el-rei. Sem ter a leviandade de arregimentar seguidores – cada um tem a sua ideia, sempre respeitável, como é de bom-tom no regime democrático – estou em acreditar que, neste caso do campeonato da Europa de futebol, a mente de muitos portugueses, esteve confusa entre o amor pátrio e a vontade inequívoca de conquistar o torneio – uma quase certeza, “como se fosse obra do destino…”!

Idolatrou-se um atleta, como se dependesse dele a “salvação da Pátria Lusa”, e (quase) todos nós acreditámos na genialidade (inquestionável!) do Cristiano Ronaldo, mentor da fé lusitana – qual D. Sebastião! – na conquista do almejado troféu, com algumas semelhanças com o passado dos “conquistadores” Eusébio e Figo, no tempo em que foram “reis” sem coroa…

Não se compreendem as diabruras de inúmeros comentários, depois da derrota com a Alemanha. “Éramos obrigados” a mais e melhor, como se, em campo, apenas existisse uma equipa – a nossa!

Bem lá no fundo das nossas consciências, todos somos “sebastianistas” por herança, faz parte da nossa maneira de ser, mas uma andorinha não faz a Primavera, na ideia do grego Aristóteles – uma imagem perfeita a sublinhar a prestação do Ronaldo português.

A aposta na vitória de um torneio à escala mundial fica adiada para daqui a dois anos. Entretanto, o Ronaldo “amadurece” e será melhor jogador.

… Possivelmente, o guarda-redes da nossa selecção será outro.

Carlos Alberto (Vilaça)

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