Home - Opinião - VIV´Ó FUTEBOL !
Às vezes, apetece-me pensar e escrever sobre FUTEBOL embora (ainda) goste muito de vê-lo, sobretudo na televisão. E também me apetece falar sobre futebol como tal, embora sem esquecer os obscuros interesses económicos e sócio-políticos que dele se utilizam…

VIV´Ó FUTEBOL !

Afinal, o futebol foi a minha primeira paixão, desde menino. E já me lembro de ouvir, na rádio, aquele célebre desafio entre o glorioso Benfica e o Real Madrid em que lhe demos 5 a 3 e o Benfica voltou a ser campeão europeu. Desafio em que avançou para a frente do destino um jogador chamado Eusébio. Mas em que um outro jogador jogava como muito poucos alguma vez jogaram ou jogarão futebol:- o “capitão” Coluna. Ah! Grandes recordações! Às vezes, gosto imenso de rever filmes desses desafios de há 40 anos atrás. A propósito, quero agradecer publicamente ao Eusébio os momentos de alegria intensa, mesmo de pura felicidade, que me proporcionou, nessas épocas, com as suas arrancadas e os seus golos inesquecíveis. Golos que nos electrizavam e que se condensaram como pérolas, ou diamantes, de futebol.

E como ainda hoje sinto as vibrações plásmicas, e as sonoras também, dos momentos em volta dos desafios da Académica, em Coimbra, nos idos da década de 1960 ! Época em que eu, ainda puto, tentava entrar no velho estádio do “Calhabé” sem pagar bilhete…

E, por vezes embora cada vez menos, volta e meia, recordo os tempos em que eu também corria a dar pontapés na bola em torneios e campeonatos caseiros.

O Futebol foi e é um espectáculo em si próprio, capaz de gerar (quase) tudo e de sobreviver a (quase) tudo. No mesmo, lá bem no centro, estiveram e continuam a estar os futebolistas, ainda que, a alto nível, sejam cada vez mais “escravos de luxo”. Infelizmente, não raro e como é sabido, “joga-se” para os resultados mais fora do que dentro do campo…

De, Di Setéfano, a Pélé, a Eusébio, a Bekembauer, a Croift, a Maradona, a Zidane E a outros como Damas, Alves, Jordão, Chalana, Gomes, Futre, Figo e Cristiano Ronaldo. E a muitos mais ainda… De Eusébio já aqui falei. Apenas acrescento que se fosse possível votar para escolher três ou quatro pessoas que eu gostaria fossem imortais, também fisicamente, um dos meus três ou quatro votos seria para o Eusébio.

Pélé terá sido – para mim é – o expoente máximo do futebolista completo, enquanto atleta, artista, criador, marcador de grandes golos e para todos os gostos e feitios. Para mim, Pélé é o futebol como tal, enquanto síntese individualizada.

Mas também há Maradona. Ele “só” tinha pé esquerdo…no seu metro e sessenta e pouco… num corpo atarracado. Pois, pois, ele tinha isso que poderia ter sido muito pouco se o conjunto não se “chamasse” Maradona, o futebolista. Mas será que Maradona foi “apenas” futebolista mesmo quando “só” estava em actividade dentro das quatro linhas ?

Começando por partes, na história da civilização não há nenhum outro “pé esquerdo” tão importante como o de Maradona. Se houver, digam lá de quem foi ou é ele… Hoje, poderemos dizer que o “pé esquerdo” de Maradona guiava a bola como se fosse uma espécie de GPS, embora não previamente programado tal era o imprevisto do “gesto técnico” e da trajectória da bola, a cada momento, consoante cada situação concreta do jogo. Enfim, actualmente, começa a notar-se um outro “pé esquerdo” que sugere o de Maradona:- o “pé esquerdo” do Messi. Mas… Mas, os grandes futebolistas não se podem comparar uns aos outros porque todos eles foram e são diferentes pelas suas características e desempenhos individuais, claro está. O mais acertado – dentro do espectáculo geral – também será apreciar cada um deles nas suas semelhanças e diferenças mais perceptíveis .

De Maradona se diz ter sido o futebolista que mais decidia resultados por ele próprio. Pelo que jogava ou não jogava, pela sua influência sobre a sua equipa, sobre as equipas adversárias e as equipas de arbitragem… Mas também Pélé teve esse impacto. E até Eusébio. E outros ainda. Qual será, pois, a “quinta essência” do Maradona, aquela que mais extravasava o futebol “puro e duro” e que, a meu ver, o tornaram diferente, e diferente provavelmente para sempre ?? Atente-se, em primeiro lugar, que ele jogou na Europa, principalmente na década de oitenta, início de noventa, quando o futebol atravessou mais uma “metamorfose” ao tornarem-no “escravo” das televisões, dos “grandes planos” de imagem e dos “negócios colaterais”. E na sua pátria amada, a Argentina, governava (?) então uma ditadura sangrenta que precisava de fazer idolatrar certos “fenómenos” para “anestesiar” o Povo… No contexto, exacerbavam-se muito as paixões das massas dentro e fora dos estádios de futebol…

Tenho vários filmes, em vários formatos, de não sei quantos jogos com Maradona e os “outros”… Pois, para mim, a “diferença” do Diego Armando Maradona – El Pibe – residiu, e residirá, na intensidade dramática que trazia para dentro e para fora das quatro linhas. Não, não é “só” o seu imenso génio futebolístico, de criador, de marcador de tantos golos belos. Para mim, a sua essência, foi e é essa capacidade inata para emocionar, para transmitir o drama para dentro e para fora dos relvados. Num outro contexto, é certo, mas quase à mesma dimensão e com a mesma intensidade, ele recriava o drama dos circos romanos, dos gladiadores, do sangue nas arenas, das lutas de vida e de morte. Maradona gerava uma incrível força magnética “de carisma”, gerava uma intensidade cénica ampliada pelas imagens dos écrans, das fotos, dos seus próprios e conhecidos dramas pessoais. E assim fazia tremer as bancadas e os sofás. Há imagens impressionantes de grandes planos do rosto de Maradona em pleno “sofrimento” criativo, a transpirar o seu génio e o seu prazer lúdico e, no seu jeito mais íntimo, a abraçar todos os meninos que correm atrás de bolas de trapos ou não. Para mim, é isso que serviu para o elevar à categoria de único e para se servirem dele como protagonista único também. Com Maradona em campo, inspirado, a bola deixava de ser o elemento central das atenções – e da tensão – do jogo. O elemento central do jogo era ele, o Maradona, e a sua forma intensa, dramática, de viver os momentos de cada jogo e não só de os jogar com arte feita e acabada. Abençoado sejas tu, Maradona, até por teres “emprestado a deus” aquela tua mão-golo, naquele célebre desafio de futebol que eu tive o privilégio de ver (pela televisão).

Se Edson Arantes do Nascimento, Pélé, é o futebol-razão enquanto síntese de arte, estilo e resultado final (golo), Maradona é o futebol-emoção enquanto drama artístico vivido dentro e fora de quatro linhas a pretexto de uma bola de futebol. Se fosse possível “fundir” um Pélé e um Maradona num só futebolista, o mundo corria o risco de acabar concentrado dentro de um desafio de futebol.

Matheus, Zidane, Maldini, Figo, Sidorf, Giggs e Tiery Henri, dos que agora me recordo, terão sido dos jogadores que estiveram ( e alguns ainda estão) mais tempo seguido ao mais alto nível competitivo, desde quando o futebol “acelerou” táctica, física e dinamicamente, a partir dos anos setenta, com o Ajax (de Croift) e com a selecção Alemã (de Bekembauer) dessa época. E, vamos lá, desde a segunda metade do séc. XX, a selecção do Brasil campeã do Mundial de 1970, terá sido a mais completa, simultânea e feliz combinação de talentos individuais ao serviço do futebol feito com arte e com espectáculo colectivo. A equipa dos galácticos do Real Madrid aproximou-se dessa, mas apenas isso.

Ronaldo é um exemplo dos excessos praticados pelo “sistema” no “fabrico” de atletas-futebolistas. Ronaldinho é um artista imensamente “brincalhão” e motivador de espectáculo. Cristiano Ronaldo é outro. Cácá reúne qualidades técnicas, tácticas e físicas que fazem dele um expoente do futebolista moderno:- um artista criativo mas muito prático também. Viv ó Futebol !

João Dinis 

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